A vacina da febre-amarela já era obrigatória para quem pretendia viajar para Angola, mas agora Jorge Atouguia, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina do Viajante, recomenda que as pessoas sejam vacinas pelo menos 15 dias antes da viagem, por causa do surto da doença no país.

A Direção-Geral de Saúde (DGS) portuguesa não tem recomendações específicas em relação ao surto de febre-amarela em Angola, mas lembra que todas as pessoas têm de provar estar vacinadas para entrar em território angolano e que é melhor que o façam em Portugal. “A consulta do viajante deve ser feita um mês antes da viagem”, diz ao Observador Cristina Abreu dos Santos, chefe da Unidade de Apoio à Autoridade de Saúde Nacional e à Gestão de Emergências em Saúde Pública da DGS.

Por existir a possibilidade de ser infetado com o vírus da febre-amarela em Angola, os médicos na consulta do viajante já recomendavam a vacina. Mas com o surto ativo, as pessoas devem ser vacinadas com antecedência suficiente para que o corpo possa produzir anticorpos contra o vírus, explica ao Observador Jorge Atouguia. Pelo menos 15 dias antes da viagem, diz o médico.

“Se não tiverem esse tempo [15 dias] entre a vacina e a viagem, devem adiar a viagem”, recomenda o presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina do Viajante.

A preocupação do médico foca-se sobretudo nas pessoas que viajam por motivos profissionais e que muitas vezes não planeiam as viagens com a antecedência que agora recomenda. Outra preocupação são as mães a amamentar com crianças que tenham menos de nove meses. Estas mulheres não podem ser vacinadas, porque o vírus atenuado da vacina pode passar para o bebé e a vacina não é recomendada em crianças tão pequenas. “As mulheres a amamentar [bebés com menos de nove meses] estão totalmente desaconselhadas de viajar para Angola”, aconselha o médico.

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Todas as pessoas que já tenham sido vacinadas contra a febre-amarela não precisam de ser vacinadas novamente. O médico explica que, desde o ano passado, a Organização Mundial de Saúde passou a considerar a vacinação contra a febre-amarela vitalícia. Antes disso, era recomendada nova vacinação a cada 10 anos. Agora, Jorge Atouguia diz que só há recomendação de nova vacinação ao fim de 10 anos para grupos específicos: pessoas que na altura da vacinação estavam grávidas, que eram ainda crianças ou que tinham o sistema imunitário comprometido.

Angola está a promover uma campanha de vacinação, diz ao Observador Cristina Abreu dos Santos. Jorge Atouguia lembra que os portugueses que já tenham sido vacinados em Portugal e que apresentem o Boletim de Vacinação Internacional não precisam de ser vacinados em Angola. Repetir a vacinação não constitui um risco para a saúde, mas não há necessidade de o fazer, refere o médico.

O surto de febre-amarela em Angola terá tido início em dezembro de 2015. Esta febre hemorrágica não tem tratamento específico e pode causar a morte. A 22 de fevereiro, o Ministério da Saúde angolano falava em 99 mortes confirmadas.

Os países que têm o mosquito que transmite o vírus – o mesmo que transmite dengue e zika – podem exigir a quem venha de países onde exista febre-amarela que apresente o comprovativo da vacinação contra esta doença. Jorge Atouguia refere que este pedido é comum nos países asiáticos – que não têm febre-amarela, mas têm o mosquito Aedes aegypti. Agora, foi anunciado também por Cabo Verde. “Passaremos a exigir esse cartão de vacinas, particularmente para os países onde ocorrem os surtos e casos de febre-amarela ou países considerados endémicos”, explicou o diretor nacional da Saúde cabo-verdiana, Tomás Valdez.