É costume pensar-se que a coleção de arte sacra do Museu Nacional Grão Vasco é composta exclusivamente por obras de Vasco Fernandes – o mestre Grão Vasco, um dos nomes principais da pintura renascentista portuguesa. Trata-se de um “conjunto notável” de pinturas, assim classificadas pelo Ministério da Cultura. Mas há mais obras para além destas. Conheça algumas das mais impressionantes.

píxide

Delfim Ferreira / DGPC / ADF / MGV

Píxide
Serra Leoa, 1500-1530, marfim

Classificada como peça de “interesse nacional”, esta píxide de marfim (ou hostiário, caixa para guardar hóstias) é um dos mais raros e bem conservados objetos de arte sapi-portuguesa, a arte do grupo étnico Sherbro, na Serra Leoa. Além deste exemplar, conhecem-se outros dois, um em coleção privada portuguesa, outro em Baltimore, nos EUA, segundo informação da Direção Geral do Património Cultural. Tem apenas 8,5 centímetros de altura e 12,2 de diâmetro. Está envolta em relevos com cenas bíblicas e na tampa encontram-se emblemas manuelinos. A imagem que servia de pega está partida, mas acredita-se que se tratava da Virgem Maria com Jesus.

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columbano

Delfim Ferreira / DGPC / ADF / MGV

Auto-Retrato
Columbano Bordalo Pinheiro, 1884, óleo sobre madeira, 38 cm x 68,5 cm

Eis outro dos objetos que a raridade e relevância levaram à classificação de “interesse nacional”. Faz parte da relativamente extensa coleção de Columbano no Museu Grão Vasco. O grande retratista português representou-se numa tela retangular, ao baixo, anunciando o estilo que iria apurar anos mais tarde. “A técnica é, no entanto, um pouco rude e a coloração pobre, num grande sentido de economia colorista”, escreveu o antigo diretor do museu, Almeida Coutinho. No núcleo de “Pintura Portuguesa dos Séculos XVII-XX” destacam-se ainda Vieira Portuense, o agora muito falado Domingos Sequeira, Silva Porto e José Malhoa, entre outros.

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Carlos Monteiro / DGPC / ADF / MGV

Aguamanil
Portugal, autor desconhecido, prata dourada, 1740-1765

De entre as peças de cerâmica e ourivesaria do museu, esta é considerada uma das mais notáveis. Também conhecido como jarro de água às mãos, tem decoração exuberante, com motivos vegetais e animais e terá sido usado para “conter a água utilizada nas abluções litúrgicas”. “É um belo exemplar do estilo barroco, produzido numa época de abundância e ostentação”, lê-se no catálogo do museu.

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Carlos Monteiro / DGPC / ADF / MGV

Prato de Oferendas
Alemanha (Nuremberga), latão, 36 cm de diâmetro, século XV

Porque é um prato de latão é um dos objetos que merecem ser vistos? Interessante exemplar do museu, no que ao núcleo “Liturgia e Devoção no Final da Idade Média” diz respeito, a peça integra um conjunto de produções idênticas “muito comuns em Portugal no início do século XVI”, lê-se no catálogo do museu. “D. Manuel, na qualidade de governador da Ordem de Cristo, ordenou a sua importação e ofereceu-as a todas as igrejas do seu padroado.” O prato ostenta, ao centro, decoração bíblica alusiva ao “pecado original”, com a Árvore do Bem e do Mal e a serpente enrolada que oferece o “fruto proibido” a Eva, sob o olhar de Adão.

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José Pessoa / DGPC / ADF / MGV

São Pedro
Grão Vasco, 1530, óleo sobre madeira de castanho, 213 cm x 231 cm

De entre os inúmeros quadros de Vasco Gonçalves, este será um dos mais aparatosos, classificado em 2006 como “tesouro nacional”. Anteriormente na capela da Sé de Viseu, mostra São Pedro no painel superior, “num trono pontifical de arquitetura italianizante, com olhar dirigido a um espaço absoluto e com uma impressionante monumentalidade”. Na predela (parte inferior), surgem São João Evangelista e Santo André, São Bartolomeu e São Tomé, São Paulo e São Tiago.

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José Pessoa / DGPC / ADF / MGV

Contador de Mesa
Índia, 1675-95, autor desconhecido; ébano, marfim, madeiras exóticas e outros materiais; 22 cm de altura

Trabalho de arte indo-portuguesa, é símbolo das ligações comerciais entre Portugal e o Oriente. Servia para guardar pequenos objetos e material de escritório. A tampa, e o restante conjunto, têm intensa decoração vegetal e cor exuberante. Objetos como esta eram “fundamentalmente apreciados pelo exotismo dos materiais, dos motivos e composições decorativas”, informa o catálogo.