“A Assassina”

Há bastantes anos que o taiwanês Hou Hsiao-Hsien queria realizar um “wuxia”, um filme histórico de artes marciais. Rodado ao longo de cinco anos, “The Assassin” é esse filme, e nele Hsiao-Hsien faz ao género aquilo que Wong Kar-wai lhe fez em “Ashes of Time” (1994): chama-o a si e afeiçoa-o ao seu estilo e à sua estética, mantendo-se fiel à sua codificação geral. A estrela asiática Shu Qi, que volta a rodar aqui com o autor de “O Mestre das Marionetas”, interpreta uma rapariga formada para assassinar governantes corruptos na China do século IX, que recebe a missão de matar o homem que outrora amou. O filme é parcimonioso em combates vistosos e contido nas coreografias anti-gravitacionais típicas do “wuxia”, sendo também o mais refinado e esteticamente esplendoroso do realizador desde “As Flores de Xangai” (1998), com uma presença delicada e intensamente sublinhada da natureza. Mas o que a vista ganha a emoção perde, faltando a “A Assassina” o arrebatamento esfuziante e o entusiasmo diabólico dos melhores filmes do género. Hou Hsiao-Hsien teve o Prémio de Melhor Realizador em Cannes.

“Posto Avançado do Progresso”

Na sua terceira longa-metragem depois de “Body Rice” e “Swans”, o realizador português Hugo Vieira da Silva foi a Angola filmar uma adaptação do conto homónimo de Joseph Conrad, o autor de “No Coração das Trevas”, que Orson Welles tentou rodar sem sucesso, e em que Francis Ford Coppola se inspirou para fazer “Apocalypse Now”. Nuno Lopes e Ivo Alexandre interpretam João de Mattos e Sant’Anna, dois homens que, em finais do século XIX, são colocados à frente de um remoto posto comercial, nas margens do Rio Congo. São ambos preguiçosos, incompetentes, medrosos e sem carácter, não têm qualidades de chefia, não se sabem fazer respeitar nem lidar com o astucioso Makola (David Caracol), o negro encarregue da manutenção do posto e dos trabalhadores nativos. O isolamento, a presença intimidante da selva densa, o medo, o calor, as febres e a bebida fazem o resto. Hugo Vieira da Silva filma de forma convincente o deslizar dos dois homens para o entorpecimento, a confusão e o desespero, embora se dispensassem, no final, as duas fífias sob a forma das fantasias de feitiçaria e da sequência à cinema mudo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“O Panda do Kung Fu 3”

Demonstrando como é cada vez mais importante para Hollywood o mercado asiático, e o chinês muito em especial, esta terceira aventura do panda Po volta a ser realizada por Jennifer Yu Nelson, sul-coreana radicada nos EUA, ao lado de Alessandro Carloni, e o filme foi antestreado na China, país co-produtor, alguns dias antes de chegar aos cinemas dos EUA, estando lá a fazer melhores receitas do que nas bilheteiras norte-americanas. Nesta terceira aventura, Po (com Jack Black a dar-lhe voz mais uma vez) tem que enfrentar o temível vilão sobrenatural Kai (voz de J.K. Simmons), agora na companhia do seu verdadeiro pai, Li Shan (voz de Bryan Cranston), e com a ajuda de uma série de outros pandas que vivem num paraíso secreto da sua espécie. Entre os actores que dão mais uma vez voz às suas personagens em “O Panda do Kung Fu 3”, estão Dustin Hoffman, Angelina Jolie, Lucy Liu, Jackie Chan e Seth Rogen.

“A Senhora da Furgoneta”

Durante 15 anos, entre as décadas de 70 e de 80, o dramaturgo e argumentista inglês Alan Bennett teve estacionada no pátio da sua casa de Londres, a delapidada e mal-cheirosa furgoneta onde vivia uma excêntrica e instável velha senhora chamada Mary Shepard, cujo passado Bennett só mais tarde veio a desvendar. O autor transformou a história da sua nem sempre afável relação com a imprevisível velhota numa aclamada e premiada peça de teatro, em 1999, com Maggie Smith no principal papel. Surge agora a versão cinematográfica da obra, realizada por Nicholas Hytner, encenador da peça em Londres, adaptada por Bennett e com a actriz a repetir a sua interpretação. “A Senhora da Furgoneta” foi escolhido como filme da semana pelo Observador, e pode ler a crítica aqui.