Os antibióticos podem deixar de ser eficazes no tratamento de infeções urinárias em crianças. Este é o grupo etário a quem é dado mais antibióticos, potenciando o aparecimento de bactérias resistentes e tornando ineficazes os tratamentos. A resistência aos antibióticos pode manter-se mesmo ao fim de seis meses depois da toma dos medicamentos, revela um estudo agora publicado na revista científica British Medical Journal.

“Os nossos resultados sugerem que a prevalência de bactérias Escherichia coli resistentes aos antibióticos é elevada e esta resistência é particularmente alta no grupo com menos de cinco anos”, disse Ceire Costelloe, coordenadora do estudo e investigadora no Imperial College London. “Isto sugere que a prescrição dos antibióticos mais comuns para as infeções urinárias possa deixar de ser aconselhável como opção de primeira linha.”

De cada vez que tomamos um antibiótico, destinado a matar as bactérias do organismo, matamos não só as bactérias que nos provocam a doença, mas também as chamadas “bactérias boas” que são essenciais para o funcionamento do nosso organismo e que nos ajudam a controlar as “bactérias más”. Mas, por vezes, acontece que o antibiótico não mata todas as bactérias que nos deixam doentes. As que sobrevivem são resistentes ao antibiótico e multiplicam-se. Se usarmos o mesmo antibiótico logo após isso, as bactérias podem voltar a resistir e o medicamento deixar de tratar a doença.

Os antibióticos são importantes para o tratamento de infeções com bactérias, mas não têm qualquer função no tratamento de infeções com vírus ou com outros patogéneos. Logo, os antibióticos não tem qualquer efeito no tratamento de gripes, nem de qualquer “virose”. Pelo contrário, os antibióticos são aconselhados no tratamento de infeções urinárias com Escherichia coli pelo perigo de outras complicações. Mas se as bactérias se tiverem tornado resistentes ao antibiótico, o tratamento não tem qualquer efeito.

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As pessoas cujas bactérias se tornam resistentes aos antibióticos são potenciais focos de disseminação deste tipo de bactérias. As crianças são normalmente um veículo de transmissão de vírus e bactérias entre si e para os adultos, se tiverem bactérias resistentes aos antibióticos, o caso torna-se mais grave. Também por este motivo, a Organização Mundial de Saúde assume que a resistência antimicrobiana é um dos mais preocupantes problemas de saúde pública.

“O nosso estudo sugere que os decisores políticos e os profissionais de saúde precisam de avaliar com cuidado que tipo de antibiótico prescrevem aos doentes”, disse Ceire Costelloe. “Apesar dos antibióticos serem essenciais no tratamento de infeções em crianças – e devem ser tomados se forem prescritos -, as recomendações europeias e norte-americanas dizem que se a resistência a um determinado antibiótico for superior a 20%, este medicamento deve deixar de ser usado como tratamento de primeira linha.”

Para evitar o desenvolvimento de resistência aos antibióticos:

  • usar antibióticos exclusivamente para tratar infeções bacterianas;
  • cumprir a medicação até ao fim;
  • tomar antibióticos apenas sob prescrição médica;
  • não tomar antibióticos antigos, nem partilhar esses medicamentos;
  • não manter um tratamento com antibióticos durante um longo período de tempo;
  • não tomar o antibiótico mais forte quando um mais fraco seria suficiente e não tomar um antibiótico mais fraco quando era necessário atacar a infeção de uma forma mais agressiva e eficaz;
  • não usar um antibiótico generalista em vez de utilizar um antibiótico mais específico para a bactéria em causa.