A Amnistia Internacional (AI) acusou as autoridades turcas de forçarem diariamente o regresso de refugiados sírios ao seu país, assolado pela guerra, ao denunciar os efeitos perversos do recente acordo UE-Turquia sobre os migrantes.

As acusações surgem antes do regresso à Turquia dos primeiros grupos de migrantes que devem ser expulsos da União Europeia (UE), em conformidade com este acordo assinado em 20 de março.

Ao basear-se em informações recolhidas nas províncias fronteiriças do sul da Turquia, a organização de defesa dos direitos humanos afirma que a polícia turca reagrupa e expulsa cerca de uma centena de sírios “quase diariamente desde meados de janeiro”.

Na semana passada a AI disse ter recolhido diversos testemunhos que indicavam expulsões em larga escala a partir da província fronteiriça de Hatay.

“Por exemplo, três crianças de menos que 12 anos, que brincavam num parque, foram detidas e reenviadas com o seu tio, deixando na Turquia o seu pai e a sua mãe”, indicou à agência noticiosa France-Presse Andrew Gardner, investigador da ONG em Istambul.

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“No geral, são sírios que acabam de atravessar a fronteira”, ou de pessoas que estão [na Turquia] há mais tempo “mas que não conseguiram registar-se junto das autoridades, porque neste momento os turcos já não registam ninguém”, assegurou.

A Turquia, que acolheu 2,7 milhões de refugiados sírios desde o início do conflito em 2011, tem desmentido firmemente ter forçado os sírios a regressarem ao seu país, insistindo na manutenção da sua política de “porta aberta”.

Na segunda-feira, a Grécia deve iniciar o reenvio para a Turquia de migrantes, incluindo sírios, que atravessaram ilegalmente a fronteira do mar Egeu para entrar na UE.

O primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, confirmou na quinta-feira que, no âmbito do acordo UE-Turquia, um refugiado sírio será acolhido na Europa por cada migrante que chegue à Grécia e seja de seguida reenviado para a Turquia.

No entanto, a Amnistia assegura que as suas informações são a prova que a Turquia não é um “país seguro” para os refugiados.

“Na sua desesperada impaciência de bloquearem as fronteiras os dirigentes da UE ignoraram intencionalmente o mais simples dos factos: a Turquia não é um país seguro para os refugiados sírios e torna-se cada vez menos em cada dia que passa”, considerou John Dalhuisen, diretor da AI para a Europa, citado no comunicado.

“O regresso em larga escala de refugiados sírios (…) sublinha as terríveis falhas do acordo UE-Turquia”, acrescentou.

Segundo a ONG, é “fortemente provável” que nas últimas sete a nove semanas a Turquia tenha forçado o regresso de milhares de sírios em direção ao seu país em guerra. E sustenta que os refugiados reenviados desde a Grécia em direção à Turquia arriscam conhecer o mesmo destino.