O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros timorense manifestou-se esta quarta-feira preocupado com a instabilidade e apreensão internas causadas pela indecisão sobre o futuro do comando das forças de defesa, e pelo impacto da crise na imagem externa do país.

“Sim, estou preocupado. Espero que as instituições, nomeadamente o senhor Presidente da República, o Governo e a hierarquia militar possam encontrar uma saída para esta situação”, afirmou José Luis Guterres em declarações à Lusa.

José Luis Guterres, que foi ministro dos Negócios Estranheiros no V Governo constitucional – tendo saído do cargo aquando da mudança de Governo no início de 2015 – é desde aí líder da bancada da Frente Mudança (dois lugares no Parlamento Nacional).

“O problema aqui é uma necessidade de discutir o que queremos que as forças armadas sejam agora e para o futuro. O mais importante é que se encontre uma saída para tudo isso”, disse.

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“Essa indefinição obviamente que cria instabilidade política, cria também apreensão da parte da população. Nenhum dos elementos que compõem a hierarquia militar ou nenhum veterano, incluindo o presidente ou no governo, quer que a situação continue indefinidamente”, afirmou ainda.

Adiado sucessivamente desde outubro do ano passado, o processo de transição na liderança das forças de Deefesa (F-FDTL) continua sem solução à vista.

O Presidente da República, Taur Matan Ruak, já anunciou duas decisões diferentes, nenhuma delas ainda formalmente aplicada tendo ambas acabado em polémica, a primeira porque o Governo alegou que ignorava as suas propostas e a segunda pelo descontentamento que provocou no comando das próprias F-FDTL e entre os veteranos timorenses.

A 9 de fevereiro, Taur Matan Ruak anunciou ter decidido exonerar o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), Lere Anan Timur, promovendo como seu sucessor o brigadeiro-general Filomeno da Paixão de Jesus, até então número dois.

A decisão acabou por não ser concretizada porque ia contra a proposta do Governo – que defendia a extensão do mandato de ambos – causando forte tensão entre a Presidência, o executivo e o Parlamento Nacional e levando mesmo a recursos do Governo (rejeitados) para o Tribunal de Recurso.

Taur Matan Ruak nunca formalizou a decisão e recebeu este mês nova proposta do Governo, a de nomear o capitão-de-mar-e-guerra Donaciano Gomes (Pedro Klamar Fuik) como CEMGFA e o coronel Calisto dos Santos (Coliati) como vice-CEMGFA, que aceitou e anunciou.

Onze dias depois desse anúncio, porém, continua sem ser implementado tendo o assunto ficado sem solução depois da reunião desta semana do Conselho Superior de Defesa e Segurança.

Nesse encontro Lere Anan Timur entregou a Taur Matan Ruak uma petição em nome dos veteranos timorenses a defender um diálogo mais abrangente sobre vários assuntos relacionados com os veteranos.

José Luis Guterres disse que espera que essa petição possa ajudar a um debate nacional mais alargado sobre o futuro das forças de defesa, o papel dos veteranos na profissionalização das forças e no processo de construção do Estado em si.

“Durante tantos anos esses comandantes foram a espinha dorsal da resistência. Deram toda a vida com profissionalismo ao pais, não se pode agora abandoná-los”, afirmou.

O ex-chefe da diplomacia timorense admite, porém, que esta situação possa estar a danificar a imagem do país no exterior.

“Obviamente que sim e lamento que isso tenha que acontecer. Há soluções que não são muito difíceis. É uma questão de diálogo para se encontrar saídas para os vários problemas”, afirmou.