As últimas entrevistas que deu depois estar hospitalizado, no início de 2015, foram uma espécie de retrospetiva da sua vida e carreira. Antes, em 2011, falava de quase tudo com Daniel de Oliveira no programa “Alta Definição” da SIC. Camilo de Oliveira transmitia ao público e aos que o entrevistavam os momentos mais marcantes, num ímpeto de uma carreira com mais de 60 anos enquanto ator. Mas o trabalho não foi tudo, o regresso do ator a casa significava um olhar sobre a sua vida pessoal: na relação com a esposa Paula Marcelo e nos desafios e dificuldades que teve após enfrentar dois cancros.

Afastado dos ecrãs da televisão e dos palcos há alguns anos, Camilo de Oliveira demonstrava que ainda andava por cá. Ainda que o estado de saúde o impedisse de grandes aventuras profissionais.

Julho de 2011

Há cinco anos, Camilo de Oliveira explicava ao apresentador Daniel de Oliveira como gostava de ser recordado: “Era um ator honesto, era um ator com graça, com ‘A’ grande”. Queria estar ao lado dos “nomes grandes” da cultura portuguesa como Vasco Santana e para isso, os espectadores tinham de gostar dele. Como mencionou em muitas entrevistas, “um ator precisa de cinco coisas: público, público, público, público, público”.

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Um episódio ocorrido no Teatro Sá da Bandeira no Porto, resumia o que gostava que se dissesse nos dias a seguir à sua morte:

“Um senhor levantou-se e disse para que toda a gente ouvisse: ‘Camilo de Oliveira nunca devias morrer'”

Fevereiro 2015

É tida como a primeira entrevista dada pelo ator, após a saída do hospital. Cláudio Ramos entrevistou-o para o programa “Queridas Manhãs”, aquele que tinha sido uma das estrelas da SIC em horário nobre. O humor a que habituou o público não entrou neste depoimento. A saúde debilitada do ator foi o principal foco da conversa.

“Tive muito medo, não pensei que ficasse tanto tempo no hospital”

Os longos anos de trabalho foram referidos, assim como a relação com a esposa Paula Marcelo, que segundo o ator foi “mais que uma mãe” durante a doença. As notícias que chegavam às revistas cor-de-rosa, de que a relação da esposa com os filhos do ator não era saudável e os possíveis atritos com as ex-mulheres eram desmentidos na entrevista. “A minha principal preocupação é a Paula”, afirmava.

Abril de 2015

De fora com as lágrimas, voltaram os risos. Camilo de Oliveira abria os braços a Manuel Luís Goucha e dizia “meu filho, meu filho”, quando o apresentador disse que podia ter sido seu filho, porque a mãe e o ator tinham sido amigos, durante o tempo em Camilo vivia em Buarcos, na Figueira da Foz, de onde é natural.

“Digo-te uma coisa: A tua mãe era uma namoradeira”, dizia a Manuel Luís Goucha.

Camilo de Oliveira nasceu num camarote de um teatro, quando a mãe estava a interpretar Inês de Castro, no palco do Teatro Caras Direitas. “Tinha um Castrozinho lá dentro”, afirmava o ator. O pai não queria que seguisse a mesma profissão que os progenitores. O futuro de barbeiro era mais indicado para o jovem de 15 anos do que a imprevisibilidade do teatro. Ainda assim, Camilo de Oliveira fintou as expectativas.

“Tu viveste para o trabalho, não foi?”, questionou o apresentador.

“Eu vivi, para respeitar um público que gostava de me ver.”

No programa “Você na TV” da TVI, o ator recordou algumas das aventuras e peripécias que teve no começo da sua carreira. A capacidade de fazer rir o público mantinha-se, assim como o feitio difícil e a crítica face à representação.

“Tens saudades de trabalhar com os grandes nomes do teatro?

Tenho saudades dos profissionais. Dos pseudo-profissionais, não tenho saudades nenhumas.”

Entre as mais de 40 peças de teatro de revista em que participou e as companhias de teatro que dirigiu, foi a televisão que lhe trouxe o reconhecimento do público. “A televisão foi uma aprendizagem muito grande, os miúdos não me largavam a porta a pedir autógrafos”, referia.

Camilo de Oliveira morreu este sábado à noite com 91 anos. O ator tinha enfrentado dois cancros nos últimos anos. O funeral é na quarta-feira na Basílica da Estrela, em Lisboa.