O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, nas primeiras declarações que fez esta noite, acusou uma “estrutura paralela de poder” de estar por detrás desta tentativa de golpe militar em Ancara. Minutos mais tarde, o ministro da Justiça turco falaria de membros do movimento de Fethullah Gülen como sendo os responsáveis pelo golpe militar.

Fethullah Gülen é um líder religioso que vive, desde 1998, num misto de resort e quartel general em Saylorsburg, na Pensilvânia, Estados Unidos, e tem dedicado toda a vida ao estudo da teologia islâmica. Visto como moderado, Gülen coordena um movimento de inspiração islâmica dedicado à “educação do coração e da alma além da mente”, segundo o próprio. Mas também se tem dedicado aos negócios, com escolas espalhadas por mais de 140 países, um pouco por todo o Mundo, o que lhe permite ter muitos “seguidores”, inclusive em áreas-chave, como na política.

Em 2013, o suposto instigador do golpe fez parte das 100 personalidades mais influentes do Mundo segundo a revista Time. É visto como um mestre e reúne milhões de admiradores, dentro e fora da Turquia, que seguem os seus ensinamentos. Adepto da conciliação, Gülen condena o terrorismo e defende o diálogo inter-religioso, daí que, em 1998, se tenha reunido com o Papa João Paulo II. Foi também ele que impulsionou a viragem da Turquia ao Ocidente. Tem mais de 60 livros escritos.

Chegou a ser aliado de Erdogan, que se socorreu da influência do primeiro para limitar o poder dos militares nacionalistas, responsáveis pela queda de quatro governos desde 1960. No entanto, em 2013, passou a ser visto como uma ameaça ao Governo turco. Isto depois de um escândalo de corrupção ter atingido vários membros do Governo e até mesmo a família de Erdogan. O presidente turco ficou sempre a achar que teria sido Gülen, numa tentativa de o mandar abaixo do poder, a denunciar o esquema, e chegou mesmo a pedir a extradição do pregador aos Estados Unidos. Em 2014, um tribunal chegou a emitir um mandado de captura em nome do clérigo, acusando-o de estar a liderar um “grupo terrorista” com intenção de derrubar Erdogan.

Fethullah Gülen, por sua vez, começou a esgrimir ataques ao autoritarismo do primeiro-ministro e às suas opções de política externa. Resta ainda saber se terão sido mesmo membros do grupo liderado por Gülen a levarem a cabo o golpe militar da noite desta sexta-feira, em Ancara na Turquia.

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