O nome do projecto é Vahana (aquela que transporta ou que carrega, em hindu) e está a cargo da A3, a empresa do Grupo Airbus dedicada à inovação. Baseada em Silicon Valley, na Califórnia, a A3 está decidida a produzir automóveis que consigam voar por cima do trânsito de forma autónoma, sem intervenção do condutor. Projectar é fácil, mas a entidade responsável pela inovação dentro da Airbus comprometeu-se igualmente com um prazo, anunciando querer ter o primeiro protótipo em fase de testes já no final do próximo ano. Porquê a pressa? Já lá vamos.

Provavelmente acha que estamos a brincar, ou que esta ideia saiu de mais uma película de ficção científica? Nada mais errado. É certo que no filme “Regresso ao Futuro”, produzido em 1985 por Robert Zemeckis, Doc Brown e Martin McFly deslocavam-se no seu DeLoren de 1989 rumo a 2015, onde encontravam uma sociedade muito evoluída, com pessoas que se deslocavam em carros voadores.

Passámos 30 anos a rir desta antevisão, que na altura parecia ridícula, mas tudo indica que, afinal, Zemeckis terá falhado apenas por uns míseros dois anos. O que, aliás, confirma os seus dotes de adivinhação, pois o reputado argumentista e realizador previu igualmente, no “Regresso ao Futuro”, que em 2015 as videochamadas seriam algo corriqueiro e que usaríamos smartwatches, smartglasses e hoverboards. E todos sabemos que eles andam aí.

Num artigo publicado na revista interna do Grupo Airbus, a empresa que derivou da EADS (European Aeronautic Defence and Space Company), afirma-se preocupada com a mobilidade urbana do futuro, tanto mais que as estimativas apontam para um incremento de 10% no número de indivíduos a habitar nas grandes cidades em 2030, atingindo-se então 60% da população mundial concentrada nas grandes metrópoles.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Como nada melhor do que juntar acção às palavras, a Airbus decidiu não só criar uma nova área de negócios – a dos carros voadores –, como colocar todos os seus conhecimentos tecnológicos ao serviço do novo projecto, baseado num veículo denominado CityAirbus. E quando uma empresa líder mundial na produção de aviões comerciais e na fabricação de helicópteros civis, bem como uma das referências em matéria de programas espaciais diz que vai ter um carro a voar em 2017, e uma frota generosa ao serviço do público dentro de 10 anos, somos forçados a levá-la a sério.

O CityAirbus aparenta ser um modelo similar a um drone em ponto grande, com vários hélices, a transportar clientes de um local para outro como se se tratasse da Uber, mas pelo ar. Segundo a empresa, “a Airbus vai reunir toda a sua experiência para realizar o sonho de todos os que se deslocam nas grandes cidades: voar sobre o trânsito congestionado pelo simples accionar de um botão”.

A A3 iniciou o projecto Vahana em Fevereiro de 2016 e espera tê-lo pronto para passar à fase de testes no final do próximo ano, com os responsáveis a assegurarem que a meta é perfeitamente “exequível”. “Muitas das tecnologias necessárias, como as baterias, motores e a aviónica já existem ou quase”, sublinha o responsável pelo projecto na A3, Rodin Lyasoff, admitindo que os maiores atrasos poderão surgir no sector da pilotagem autónoma, ainda em fase de desenvolvimento.

“O negócio dos carros autónomos voadores pode envolver a venda de milhões de veículos em todo o mundo”, antecipa Lyasoff, dando a entender que o gigante aeronáutico está determinado em garantir uma fatia deste negócio.

Nesse sentido, a Airbus Helicopters assinou recentemente um acordo com as autoridades de Singapura para a implementação do projecto Skyways, que lhe vai permitir testar um sistema de entregas de pequenos volumes em modo autónomo, com recurso a drones, em colaboração com a Universidade Nacional de Singapura. Limitado à área do complexo universitário, o serviço deverá começar a ser prestado a partir de meados de 2017 e será ele a provar a validade e a segurança da pilotagem autónoma nas grandes cidades.

O acordo prevê ainda que, se tudo correr bem com o Skyways, será também a cidade asiática a acolher a fase de testes para o transporte de pessoas com o CityAirbus, cujos custos por viagem se espera que não ultrapassem os valores praticados pela Uber, no caso de deslocações partilhadas. Um vídeo da Tomonews revela como tudo pode funcionar:

[jwplatform FN3HBsRT]

Como o CityAirbus será uma realidade muito antes de os sistemas de pilotagem autónoma estarem devidamente desenvolvidos e testados, a A3 pensa já em comercializar, numa fase inicial, o carro voador para ser conduzido por um piloto, o que facilitará a sua entrada no mercado. Isto é, ainda antes de os computadores que gerem as deslocações do CityAirbus estarem afinados e aprovada a legislação que vai permitir a sua utilização sobre áreas habitadas e com pessoas lá dentro, sendo difícil decidir qual dos dois será o processo mais moroso.

Mas, regressando à pergunta que colocámos de início, porquê a pressa? A resposta não podia ser mais simples: a concorrência é enorme e a Airbus não quer ficar para trás nesta corrida ao carro voador. Em Março de 2016, o Volocopter, da germânica e-Volo, descolou-se com uma pessoa a bordo e, em Junho, a chinesa Ehang obteve autorização do estado americano do Nevada para proceder a testes do seu veículo autónomo com passageiros. Isto sem esquecer os projectos da Jobby Aviation, da Zee.Aero, da Aurora Flight Sciences e da própria NASA.