A General Motors (GM) está a desenvolver há já dois anos o carro que irá servir o 45º presidente dos EUA. Ainda antes de se saber quem iria ganhar as eleições, a companhia norte-americana, dona da Cadillac – a mais luxuosa marca americana e que, por isso, tem o exclusivo de produzir os carros do líder do “mundo livre” –, encetou a produção de um novo modelo. E não é tarefa fácil, pois quem tem a última palavra sobre as características do modelo são mesmo os membros dos serviços secretos norte-americanos. Os tais que vivem, e às vezes morrem, para defender o chefe.

A GM não se vai limitar a construir apenas uma berlina de dimensões mastodônticas e tão blindada quanto um tanque de guerra. Vai construir nada menos do que 12. Talvez porque, à semelhança dos pastéis de nata, nos States, à dúzia é mais barato. Mas a verdade é que o Cadillac One de barato não tem nada, já que cada exemplar vai custar ao Estado um valor entre 1 e 1,5 milhões de dólares. Então, porquê 12? Porque, volta e meia, é necessário expedir dois ou três para outros locais, por esse mundo fora, para utilizar durante as visitas oficiais ao estrangeiro e é sempre preciso ter muitos Caddy One disponíveis, pois estão sempre a rodar, nunca sendo o mesmo a ser utilizado. E nunca deixam de estar debaixo de olho dos serviços secretos, não vá o diabo tecê-las. Ou o Estado Islâmico.

E se o carro mais seguro do mundo for um camião

Obama, que vai abandonar o cargo em Janeiro, após oito anos de presidência, desloca-se num Cadillac blindado versão extra-longa, denominado oficialmente Cadillac One, mas que todos tratam por The Beast, ou seja, a besta. Sendo que o termo americano não tem a conotação negativa que, muitas vezes, associamos à tradução portuguesa. A besta de Obama tem o aspecto de um Cadillac DTS, mas esticado. Muito esticado, em todos os sentidos. Um pouco em largura e em altura, mas generosamente em comprimento.

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2011 Cadillac DTS Premium Collection Sedan

O Cadillac One de Obama herdou a frente do Cadillac DTS

O actual Cadillac One, um dos mais luxuosos, sofisticados e seguros automóveis do mundo, foi concebido em 2009, tendo sido construídas as habituais 12 unidades. Mas logo de início prometemos uma surpresa em que não iria acreditar facilmente, pelo que aqui vai ela: o Cadillac One que serve o ainda presidente dos EUA é, na realidade, uma carroçaria de automóvel montada num chassi de pick-up. Das grandes e não das mais bonitas.

Chevrolet Kodiak 2015

As bestas ao serviço dos presidentes Obama e Trump recorrem ao chassi da pick-up Kodiak, com outras suspensões e uma carroçaria blindada, que faz vagamente lembrar um Cadillac

Trata-se de uma possante GM Kodiak que, na prática, não é mais do que pequeno camião, com rodado duplo atrás e tudo. Mas não se assuste, pois já nos tempos de George W. Bush a estrutura sobre a qual era montada a limousine oficial era uma pick-up. Só que então era uma Chevrolet Silverado, ligeiramente mais pequena e leve, conhecida internamente como a GMT800.

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O Cadillac One de George W. Bush tinha como plataforma o chassi de longarinas da pick-up Chevrolet Silverado

Para se encontrar um carro presidencial concebido sobre um automóvel, é necessário recuar até ao primeiro mandato de Bill Clinton, quando era um Cadillac Fleetwood que lhe servia de suporte.

1990 CADILLAC FLEETWOOD

Bill Clinton, no primeiro mandato em 1993, foi o último presidente a utilizar uma viatura oficial baseada num automóvel, e não numa pick-up. Na altura, um Cadillac Fleetwood

É claro que há uma explicação óbvia para a limousine ter um chassi de pick-up e, para cúmulo, cada vez maior e mais possante. A razão deve ser assacada ao peso do veículo, que não pára de aumentar, tal como as necessidades de equipamento interior de comunicações e, sobretudo, de segurança e protecção, blindagem incluída. Com uma distribuição de lugares tipo 2+3+2, a besta pesa entre 7.000 e 9.000 kg, mais do que o camião que lhe dá origem. É por isso que não há um único chassi monobloco – como o utilizado em todos os automóveis no mercado – que suporte o esforço, sem se dobrar ao meio por acção do peso. É este o motivo que leva a GM a optar por um chassi de longarinas, tipo camião.

Trump vai ter uma besta mais moderna

O Cadillac One que serviu Obama tinha um aspecto exterior que recordava o Cadillac DTS, modelo que há muito cessou produção. O seu sucessor deverá adoptar uma frente – é mesmo uma frente e, no limite, uma traseira, pois em tudo o resto o veículo deverá ser exactamente igual – similar à do Cadillac CT6 ou, em alternativa, do SUV Escalade, os mais recentes modelos de luxo da marca americana.

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Tudo indica que a frente da nova besta vai ser herdada do SUV Escalade, existindo quem sugira que também pode surgir uma solução estética similar à do Cadillac CT6

E vai ser ainda o primeiro Cadillac One a utilizar o novo símbolo da marca, mais moderno e actual. Mas vai haver diferenças, para além da grelha e faróis, especialmente depois do vexame de 2011, quanto o carro de Obama ficou preso à saída da embaixada americana em Dublin, na Irlanda, por ter encalhado por baixo no topo da rampa de acesso à rua, de onde apenas saiu depois de o presidente e de toda a comitiva terem abandonado o veículo e este ter passado pela vergonha de ser empurrado.

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A besta de 2017 vai usufruir de uma suspensão pneumática, que lhe permita fazer variar a altura ao solo, precisamente para evitar ficar presa por baixo, o que, face à imensa distância entre eixos, não é difícil de acontecer. Quanto ao resto, é um veículo blindado, capaz de resistir sem problemas a uma bomba ou a uma granada que lhe coloquem por baixo, e não terá dificuldades em suportar sem danos – para além da inerente gigantesca sacudidela – um ataque por lança-granadas ou lança-mísseis. Por outras palavras, é um verdadeiro tanque de guerra. E não pense que os pneus serão o seu ponto fraco, pois para além de serem em borracha reforçada com kevlar, para resistir a balas e estilhaços, têm no seu interior uns discos de aço que lhe permitem continuar a rodar, caso a borracha desapareça, depois de pisar uma bomba ou até uma mina.

De caminho, o Cadillac One está ainda concebido para suportar um ataque químico, possuindo um sistema fechado de oxigénio para que o presidente sobreviva até ser assistido, com a curiosidade de, na bagageira, existirem amostras de sangue do chefe de Estado, caso este fique ferido e necessite de uma transfusão.

Resta agora esperar por dia 20 de Janeiro para conhecer a nova besta, sabendo que os serviços secretos já transferiram para a GM a módica quantia de 15,8 milhões de dólares (para as tais 12 unidades). Todos os extras solicitados posteriormente – tipo a mais recente geração de telefone por satélite, Internet mais sofisticada e encriptada, e ecrãs para streaming tv – deverão ser pagos à parte. Nada mau para um veículo que, acima de tudo, vai servir para transportar o presidente entre um avião e um helicóptero, ou entre este e a residência oficial, com percursos que raramente ultrapassam os 30 minutos.

1961 Lincoln Continental convertible

O Lincoln Continental Convertible de 1961, em que JFK foi assassinado. Nunca mais um presidente americano utilizou um descapotável numa deslocação oficial

Descapotável? Nem pensar nisso

Automóveis presidenciais americanos são algo que existe desde os primórdios da nação e há mesmo um museu para o provar. Já houve veículos de todas as formas e feitios e, durante um longo período, os descapotáveis até eram vulgares, prática que foi abandonada após o assassinato de John Fitzgerald Kennedy, em 1963. Apesar de os automóveis terem surgido em 1890, o primeiro presidente a ter à disposição um veículo que não recorria à tracção animal foi William McKinley, que a partir de 1901 utilizou um Stanley a vapor.