Copenhaga é a capital da Dinamarca. Check.
Copenhaga é a capital europeia do ciclismo (quase 50% dos 1,2 milhões de habitantes anda de bicicleta). Check.
Copenhaga é uma cidade verde, em que todos os habitantes têm um parque ou praia a 15 minutos de casa a pé. Check.

Como é que conhecemos Copenhaga de ginjeira? É um pouco a nossa casa. Quando lá vamos, sentimo-nos confortáveis. Desde sempre. Em Outubro 1969, dá-se a primeira experiência com a visita do Benfica ao campo do KB Copenhaga. Antes do primeiro minuto, livre direto para Eusébio. A bola passa pelo meio da barreira e 1-0. Antes do terceiro minuto, Torres ganha nas alturas e o jovem portimonense Diamantino, de 21 anos, atira a contar sem hipótese para Hagenau. Ainda antes dos 20 minutos, o mesmo Diamantino amplia para 3-0. Ao intervalo, os adeptos dinamarqueses aplaudem o carrossel futebolístico do Benfica. O jogo acaba 3-2 e o Benfica passa à 2.ª eliminatória da Taça dos Campeões.

Um ano mais tarde, em Outubro 1970, cabe à seleção dar um golpe de autoridade na primeira passagem por Copenhaga. Para tal, basta-lhe um golo solitário de Jacinto João, o verdadeiro JJ, na qualificação para o Euro-72. No mesmo mês de Outubro, só que de 1977, um facto histórico com os três grandes a marcarem golos pela primeira vez na seleção: Jordão (Sporting), Nené (Benfica) e Octávio (Porto) num emocionante 4-2.

De volta aos clubes portugueses, o Porto guarda boas memórias da única visita a Copenhaga. Nos quartos da Taça dos Campeões 1986-87, o onze de Artur Jorge tem uma novidade chamada Casagrande. Conta o brasileiro: “O [empresário] Juan Figer comprou o meu passe e emprestou-me ao FC Porto. Dos 15 por cento a que tinha direito sobre o valor total da negociação, comprei dois apartamentos na Pompeia [bairro de São Paulo], um deles para os meus pais. Fui para o Porto sem saber o que ia rolar, quase não chegava informação ao Brasil sobre clubes portugueses. Topei o negócio quando percebi a campanha do Porto na Taça dos Campeões. Quando cheguei a Portugal, assisti à Supertaça portuguesa com o Benfica nas Antas [1-1, por Gomes e Rui Pedro]. O clube queria que eu vestisse a camisola e entrasse em campo para ser ovacionado mas não quis. As bancadas estavam lotadas e ainda me sentia meio tímido. Nesse dia, percebi a força da equipa. Contava com 14 jogadores de selecção: a equipa portuguesa em peso, o polaco Mlynarczyk, o argelino Madjer e eu.”

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Agora é que é. “A viagem para a Dinamarca foi uma experiência sensacional. Chegámos a Copenhaga com um frio tremendo, naquele Inverno rigoroso e fomos passear. O cais estava totalmente gelado. Um dinamarquês disse-nos que podíamos andar em cima do gelo. Então, saltámos para cima do mar enquanto avistávamos icebergues no horizonte. Muito louco. No jogo propriamente dito, rompi os ligamentos do tornozelo esquerdo aos 15/20 minutos e nunca mais poderia jogar na Taça dos Campeões, embora tenham feito de tudo. O treinador Artur Jorge queria colocar-me na decisão. Na véspera da final com o Bayern, no treino da noite, ainda fiz um teste mas só conseguia correr em linha reta, não fazia curva de jeito nenhum. Acabei por ficar no banco.” Pois é, Bröndby-Porto. Aos 20 minutos, Casagrande faz um corte de carrinho e nunca mais se levanta. Entra Juary para o seu lugar. E é do número 13 o golo do apuramento (1-1), aos 60 minutos. Na baliza dinamarquesa, o então miúdo Peter Schmeichel.

A viagem continua. Em Setembro 2006, Luiz Felipe Scolari estreia Nani na seleção. E o que faz o rapaz? Dá um mortal para festejar um golo de canto direto. Antes, Ronaldo falhara um penálti. Duas semanas depois, Copenhaga volta a concentrar as atenções portuguesas com a primeira jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões. O onze de Fernando Santos inclui Quim, Alcides, Luisão, Ricardo Rocha, Léo, Katsouranis, Petit, Paulo Jorge, Nuno Assis, Simão e Nuno Gomes. Do outro, o FC Copenhaga. O zero-zero mantém-se teimosamente até ao fim. Só se desbloqueia um ano depois, já na era José Antonio Camacho. É a 2.ª mão da pré-eliminatória da Liga dos Campeões. Aos 17 minutos, livre de laboratório. Rui Costa pica para a área, Cardozo cabeceia para o lado, Nuno Gomes devolve para o meio e Katsouranis remata para o definitivo 1-0.

Em Setembro 2009, o brasileiro Liedson nem sequer tira os pés do chão para assinar de cabeça o importantíssimo 1-1 para o Mundial-2010. Copenhaga é isto: golos, emoção e vitórias (algumas só morais). Ao Porto, convém-lhe a vitória para acabar com as dúvidas no grupo. Se empatar, tudo adiado para a última jornada, vs Leicester, no Dragão. Se perder, é meio caminho andado para a Liga Europa. Atenção, muita atenção: o FC Copenhaga só tem uma derrota esta época (1-0 em Leicester), entre 17 vitórias e 9 empates, e é a grande surpresa da Liga dos Campeões como único sobrevivente da 1.ª pré-eliminatória. O Porto, esse, anda sem ritmo nem golos: só dois (André Silva e Diogo Jota) nos últimos 390 minutos (Vitória FC 0-0, FC Brugge 1-0, Benfica 1-1 e Chaves 0-0). A isto, acrescente-se a eliminação da Taça de Portugal, na sexta-feira. É preciso reagir. Agora, já.