Fora das provas europeias, da Taça de Portugal e da Taça da Liga, com o líder da Liga a oito pontos de diferença, uma equipa intranquila e sem capacidade de reação, resultados que não correspondem às exigências, adeptos cabisbaixos, contestação: esta é a imagem do Sporting quando a temporada ainda só vai a meio. Porém, como muitos se lembrarão, não é o pior que aconteceu nos últimos 10 anos.
Para isso é preciso recuar a 2012/13, precisamente a época em que Bruno de Carvalho foi eleito para a presidência em Alvalade – nessa altura, com o modesto sétimo lugar correspondente à pior temporada de sempre no historial do clube, o Sporting ficou mesmo, apenas pela segunda vez desde a sua criação, fora das competições europeias. Teve quatro treinadores (Ricardo Sá Pinto, Oceano, Vercauteren e Jesualdo Ferreira) e os resultados foram contribuindo para que a agitação e a contestação ao então máximo dirigente, Godinho Lopes, levasse à queda do seu elenco diretivo.
Agendadas para março de 2013, as eleições resultaram na subida ao poder de Bruno de Carvalho que, depois de ter sido derrotado com polémica em 2011, impôs-se com 53,69% (45.058 votos) e bateu José Couceiro para ser o 42º líder sportinguista. Marcantes foram as discussões a propósito da situação económico-financeira da SAD e sobre o modo como deveria ser renegociada com os bancos a dívida, algo que o elenco de Bruno de Carvalho iria concretizar de modo favorável num quadro de condições que permitiram, por entre redução de custos a incluir despedimentos, abordar os tempos seguintes de outra forma.
Com Bruno de Carvalho na liderança, Jesualdo Ferreira acabaria por ser afastado depois de não ter sido assegurada a presença nas provas europeias. Adotando um estilo muito diferente dos antecessores, o novo líder iria sentar-se no banco, mas a relação com os técnicos Leonardo Jardim e Marco Silva não foi pacífica, em especial no segundo caso, que levou a controvérsia e divisão públicas, sem esquecer o processo disciplinar aplicado ao atual treinador do Hull City com argumentos como o facto de não ter vestido o fato oficial numa das eliminatórias da Taça de Portugal.
Contas e Jesus
No plano financeiro, após a negociação com a banca, as contas foram sendo reequilibradas e os adeptos, regressando a Alvalade, acompanharam o apelo da campanha para novos sócios. A folha salarial começou por ser reduzida, mesmo que o discurso nunca deixasse de ser ambicioso. Em virtude desta ambição, Bruno de Carvalho, que depressa alegou que o Benfica era favorecido nas diversas instâncias do futebol nacional, assumiu uma posição de confronto aberto com o rival. E, em 2015, quando Luís Filipe Vieira não renovou o vínculo de Jorge Jesus, desferiu golpe audacioso, contratando o treinador que devolvera a equipa da Luz aos sucessos.
Então, o entusiasmo atingiu o seu ponto mais elevado. Embora arriscada, a manobra tornou dirigentes e adeptos ainda mais confiantes de que o título, a fugir desde que Laszlo Bölöni o conquistou em 2001/02, com Jardel e João Pinto como figuras centrais, seria mera questão de tempo. O plantel foi reforçado e aumentou de tom o confronto com os benfiquistas num ambiente ainda mais incendiado com a troca de argumentos entre treinadores. E, após a vitória sportinguista, quer na Supertaça, quer no regresso de Jesus à Luz para a Liga, neste caso de maneira categórica, tudo se acentuou.
O Sporting liderou a Liga, mas, aos poucos, foi perdendo fulgor e sair derrotado em Alvalade com os bicampeões nacionais significou ficar sem o primeiro posto. Contrariando os tempos de esperança, e por entre forte contestação às arbitragens, o final da primeira época de Jesus no clube do seu coração, e onde jogara, ganhou sabor a deceção. Na chegada a 2016/17, contudo, as transferências de João Mário e Slimani por um valor total de 70 milhões renovaram a dose necessária de confiança para que o Sporting voltasse a apresentar-se como forte candidato ao título. Desta vez, contudo, só a contestação às arbitragens se manteve, porque rapidamente os resultados foram deixando a equipa de Alvalade demasiado longe do que pretendiam os dirigentes.
No final de 2012/13, o Sporting somaria 11 vitórias, nove empates e 10 derrotas (36-36 em golos) na Liga. Agora, com a temporada a meio, distante do título e afastado das restantes competições, além de ter outra vez eleições em março, está por perceber até que ponto os resultados podem influenciar qualquer mudança radical.