Está a ser o assunto do dia e promete ganhar outros capítulos provavelmente ainda esta quarta-feira (ou quinta-feira de manhã): Francisco J. Marques, diretor de comunicação do FC Porto, acusou o Benfica, na pessoa de Carlos Janela, de entregar aos seus comentadores televisivos páginas e páginas de documentação com diretrizes para abordarem os principais temas da semana.

O que sabemos para já desses documentos? Pelo revelado pelo responsável do FC Porto, nas notas finais da última “cartilha” vinham indicações sobre o lance do golo de Maxi Pereira que valeu o empate no clássico (com sublinhado para as duas faltas detetadas e a introdução do vídeo-árbitro como “solução” para os encarnados ganharem os dois pontos); um lembrete em relação ao gesto de Casillas, que mandou calar os adeptos do Benfica num gesto idêntico a um que tinha sido criticado a Nélson Semedo num outro jogo; uma descrição do lance do choque de Jonas com o treinador portista; e como abordar o tema Bruno de Carvalho, presidente do Sporting, numa semana em que foi castigado e voltou a criticar as águias.

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Fomos ver alguns programas de segunda-feira e cruzar a parca informação que ainda é conhecida (estamos a falar de algumas ideias soltas entre 31 páginas que o FC Porto pode revelar a qualquer momento), para tentar perceber se o “guião” é ou não seguido. Conclusão: olhando apenas e só para o que se sabe e o que foi dito, o único ponto comum a todos foi mesmo o colocar da tónica numa alegada aliança entre Sporting e FC Porto; no resto, podem existir parecenças com as directrizes, mas cada um acrescenta sempre pormenores e argumentos distintos no seu raciocínio. Veredicto: “nim”.

Diretor de comunicação do FC Porto divulga (hipotético) documento que Benfica envia aos comentadores

Quem não jogou futebol é óbvio que não percebe isto. O Felipe empurra o Jonas, que se desequilibra e vai bater no Nuno Espírito Santo. Tenho assistido a alguns catedráticos do futebol, que sei que nunca jogaram, e que começaram logo a seguir ao jogo a pedir a expulsão de Jonas. É ridículo, é não ter a mínima noção do jogo”, disse Pedro Guerra no Prolongamento da TVI24. “Jonas sai desequilibrado do confronto com um jogador do FC Porto. Se ele se podia ter desviado, talvez pudesse ir para outro lado qualquer. Pode ser que o Instituto Superior Técnico possa fazer a análise se é possível num determinado espaço de dois metros o Jonas mudar de direção, fazer pisca para a direita e para a esquerda e ver se estava lá A e B. O Jonas é insuspeito”, comentou Rui Gomes da Silva no “Dia Seguinte” da SIC Notícias. Lá está, a introdução do elemento novo nos dois casos.

O cruzamento entre as indicações alegadamente dadas pelo Benfica e o que de facto disseram os comentadores é tão curioso que a primeira pessoa que comparou o lance do dedo silenciador de Casillas com um semelhante de Nélson Semedo foi… José Guilherme Aguiar, antigo dirigente do FC Porto (entre várias outras funções que teve no futebol e comentador da TVI em representação dos portistas). “Estou contra estas declarações recheadas de hipocrisia. Os jogadores estão sempre sujeitos a grande pressão num jogo, aquilo que o Casillas fez já tinha sido falado sobre Nélson Semedo em Guimarães e Renato Sanches em vários jogos. Que seja igual, que seja tudo castigado. Não é o Casillas e o Nélson Semedo, são todos”, destacou Gomes da Silva. “Foi uma atitude lamentável no estádio de outros, bastante grave, e pode levar a consequências mais graves. Além da gravidade e do gesto, o José Manuel Meirim em 2013 disse, em relação a um gesto de Luisão, que se fosse para calar adeptos do outro clube, havia razão para castigo. E temos o artigo 144. Espero que mantenha isso”, salientou por sua vez André Ventura no “Pé em Riste” da CM TV.

Mais dois pontos: enquanto Pedro Guerra abordou de forma específica as duas possíveis infrações no golo do FC Porto, Rui Gomes da Silva focou-se apenas no puxão de Maxi Pereira a Samaris; enquanto Pedro Guerra não referiu Bruno de Carvalho de forma direta, Rui Gomes da Silva afrontou contestou diretamente a forma como o presidente do Sporting continua a falar mesmo depois de ter sido castigado, ao passo que André Ventura levou fotocópias de exemplos de jornais para abordar o “lápis vermelho” que o líder verde e branco referiu na entrevista que deu à TVI na passada semana.

https://www.youtube.com/watch?v=RYyM4wJDfag

A “guerra surda” entre os rivais nos bastidores

Como é fácil de perceber, não se consegue dizer de forma esclarecedora se: 1) existe ou não esse documento do Benfica; 2) ele passa ou não pelos comentadores afetos ao Benfica nos vários canais televisivos; 3) se é ou não utilizado por eles como “guião”. Uma fonte oficial do clube contactada pelo Observador disse apenas que “são fait-divers que o Benfica passa ao lado”, recusando qualquer outro comentário e demarcando-se por completo das acusações.

Segundo outras pessoas, esta “bomba” deixada por Francisco J. Marques tinha o objetivo de atingir os encarnados mas, em paralelo, entronca também numa espécie de “guerra surda” de bastidores entre os comentadores de Sporting e FC Porto e os do Benfica. São visíveis semanalmente as “picardias” que existem e Fernando Mendes, antigo jogador dos três grandes e único que alinhou nos cinco clubes campeões em Portugal (Benfica, FC Porto, Sporting, Belenenses e Boavista), tinha revelado recentemente no núcleo do Sporting de Mondego que um clube rival “paga aos seus representantes na televisão 100 mil euros por ano”, sem especificar quem seria.

Em paralelo, Mendes deixou implícito a existência de clubes que seguem uma estratégia concertada no rescaldo do fim-de-semana. “Faço o meu trabalho na televisão para defender o Sporting, o que não é fácil, porque temos de lidar com muitas mentiras, muitas calúnias, e temos de justificar coisas que sabemos que são mentira. Orgulho-me de uma coisa: ninguém nos diz o que falar. Todos os comentadores do Sporting têm opinião própria“, referiu.

https://www.youtube.com/watch?v=h5VloXBU2dQ

Num trabalho publicado pela ‘Visão’ na semana passada, dois desses comentadores do Benfica explicaram que tipo de contactos têm com o clube e como se preparam para os programas. Rui Gomes da Silva destacou que, desde que deixou os órgãos sociais do clube, deixou de ter contacto diário com dirigentes e que tudo o que disse foi sempre por sua iniciativa, referindo ainda que lê as redes sociais, vê os jogos dos encarnados, os resumos dos rivais e tem alertas Google para a informação que lhe interessa. Já João Gobern comentou que, em cinco anos, se contactou o Benfica por sua iniciativa foi três ou quatro vezes, recusando qualquer tipo de reunião estratégica e explicando que costuma ler jornais e livros e vê os jogos dos três grandes.