Comediante, ator, apresentador de televisão, produtor e músico. “You name it”, como dizem os norte-americanos. Bill Cosby, de 77 anos, já foi e é um pouco de tudo. Ao longo dos anos, porém, nunca se conseguiu livrar de uma coisa — de ser acusado de assediar sexualmente várias mulheres. A primeira suspeita apareceu na década de 60 do século passado. Outras dezenas lhe sucederam, mas o tema nunca recebera tanta atenção mediática. Até agora.

Só no último mês, pelo menos 15 mulheres começaram a falar com vários jornais norte-americanos. Como fez Janice Dickinson. A ex-modelo, hoje de 57 anos, numa entrevista publicada pelo Entertainment Tonight, na terça-feira, acusou Bill Cosby de a ter violado em 1982, após ambos jantarem num restaurante em Lake Tahoe, nos EUA, e o comediante a ter drogado. “A última coisa que me lembro é de o ver a despir um robe e a colocar-se em cima de mim. E lembro-me de ter sentido muita dor”, confessou Dickinson.

E este relato é similar a outros que, entretanto, começaram a surgir. Como o de Andrea Constand, funcionária da Universidade de Temple, em Filadélfia, que em janeiro de 2003 acusou Cosby de lhe tocar “nos seios e na vagina” e a violar — após lhe dar um comprimido “herbal” para a ansiedade, revelou a revista People. Ou os de Tamara Green ou Beth Ferrier, que em 2005 e 2006 se queixaram de episódios semelhantes.

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Ou até Jewel Allison. A também ex-modelo revelou à New York Daily News que, no final da década de 80, Bill Cosby a convidou para jantar. Allison aceitou e, durante a refeição, o comediante serviu-lhe um vinho que “sabia horrivelmente mal”. A mulher bebeu-o e, a pouco e pouco, ter-se-á sentido “mal e tonta”. Depois, segundo Allison, o ator pegou na mão da mulher e tê-la-á “encostado aos seus genitais”, antes de ambos apanharem um táxi, alegadamente em direção à casa do ator, no qual a modelo vomitou e, mais tarde, recusaria acabar a noite em casa de Cosby.

Jewell Allison até chegou a classificar Bill Cosby como “o maior violador em série norte-americano” que “se conseguiu safar disso durante mais tempo”. Estas e outras mulheres, seja pela primeira vez ou de forma reincidente, têm revelado as suas denúncias na última semana.

Mas tudo começou em 1967. Nesse ano, Carla Ferrigno, na altura uma modelo da revista Playboy, de 18 anos, acusou o ator, famoso, entre outros motivos, por interpretar a personagem de Cliff Huxtable no “The Cosby Show” (1984-92) “a agarrou à força” e a “beijou contra a [sua] vontade”, segundo a CNN.

As denúncias de várias mulheres vítimas de assédio, ao que parece, estão a incentivar outras a falarem publicamente sobre os seus casos. E como tem reagido Bill Cosby? Sobretudo, com silêncio. O ator tem optado por não se pronunciar sobre as acusações e, até agora, apenas houve uma exceção. Chegou na sexta-feira, quando Cosby, ao Florida Today, explicou: “Sei que as pessoas estão cansadas de eu não dizer nada, mas um homem não tem de responder a insinuações. As pessoas deviam verificar os factos.” Já Martin Singer, advogado de Cosby, apelidou de “ridículas” as acusações feitas contra o cliente e disse à CNN que os órgãos de comunicado deviam “parar” de publicar “histórias fantasiadas e não substanciadas”.

Resta saber se todas as denúncias acabarão por chegar à justiça norte-americana e, formalmente, acusarem Bill Cosby. Por agora, as consequências, por exemplo, resumem-se à decisão da NBC, estação televisiva dos EUA, em suspender a emissão do primeiro episódio de uma série de espetáculos de stand-up comedy de Bill Cosby, que seria transmitido no dia de Natal. “Podemos confirmar que o projeto Cosby já não está em desenvolvimento”, confirmou o canal, em comunicado.