Procurando acabar com as diferenças substanciais que existem entre os consumos e emissões oficiais dos veículos automóveis e aqueles que são os valores reais numa utilização no dia-a-dia, entrou hoje em vigor, em toda a União Europeia (UE), o novo sistema oficial de apuramento destes dados, denominado “Worldwide harmonized Light vehicles Test Procedure” (WLTP).

Com este novo conjunto de procedimentos, que terá de ser aplicado a todos os veículos novos para homologação na UE, os responsáveis europeus esperam não só conseguir cifras oficiais mais próximas da realidade, como também impedir, de forma mais eficaz, que alguns construtores tentem burlar o sistema.

Desenvolvido por um conjunto de especialistas da União Europeia, Japão e Índia, segundo linhas de orientação definidas pelo Fórum Mundial para a Harmonização da Regulamentação Automóvel, organismo tutelado pela Comissão Económica das Nações Unidas para a Europa, o novo sistema de apuramento de consumos e emissões vem substituir a anterior e já ultrapassada regulamentação, conhecida como NEDC (New European Driving Cycle). Diferindo desta pelo facto de prever testes mais exigentes e, sobretudo, realizados já não apenas em banco de ensaio, mas antes em situações de utilização mais realista.

Com a entrada em vigor do WLTP, os laboratórios credenciados para realização de testes aos automóveis novos passam a estar obrigados a aplicar este novo conjunto de procedimentos, no apuramento dos valores oficiais relativos ao consumos e emissões. Nomeadamente, através da realização de ciclos de condução real, fora de um ambiente controlado – um dos aspectos mais criticados no anterior NEDC.

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Entre os testes a que o novo regulamento obriga, está a chamada Prova RDE, um teste em estrada que tem de ser realizado em vias abertas, não podendo ser cumprido em circuito fechado, e com equipamentos de medição portáteis instalados na viatura. Estando o condutor obrigado a cumprir, durante o teste, diversos tipos de condução.

Desta forma, será possível obter um conjunto de amostras e resultados mais amplo, que os técnicos poderão depois confrontar com os números obtidos em ambiente controlado, no laboratório.

Comparativamente ao anterior NEDC, o novo ciclo WLTP assume-se assim como mais dinâmico, já que exige muitos mais momentos de aceleração e travagem durante os testes, além de levar em linha de conta aspectos até aqui não contemplados, como a temperatura ou a pressão dos pneus. Evitando, assim, truques utilizados muitas vezes pelos fabricantes automóveis, como o enchimento anormal dos pneumáticos, por exemplo – algo que marcas como a Mitsubishi admitiram já ter feito.

Mas há também algumas vozes que apontam o dedo ao desfasamento que o WLTP ainda revela face à realidade. Nomeadamente, em aspectos como a aceleração, com este novo ciclo a fixar como tempo de referência, na aceleração a fundo dos 0 aos 50 km/h, apenas 15 segundos, quando muitos modelos conseguem cumprir esse mesmo trajecto em não mais que 5 a 10 segundos. Ou ainda o facto de os testes continuarem a não contemplar qualquer subida mais íngreme, quando este tipo de trajecto acaba por aumentar, entre duas a três vezes, as cargas a que o motor é submetido, levando necessariamente a um aumento dos poluentes emitidos para a atmosfera.

Apesar de já em vigor, o WLTP será implementado de forma gradual, a começar pelos construtores automóveis, os quais estão obrigados a, numa fase inicial, exibir os resultados obtidos, tanto com o novo ciclo, como com o anterior. Obrigação que visa, antes de mais, dar aos consumidores um elemento comparativo, já que, para efeitos de homologação, apenas serão válidos os resultados do WLTP.