O furacão Irma, que já atingiu a ilha de Barbuda, foi classificado como categoria 5, a mais elevada na escala de Saffir-Simpson, com ventos registados na ordem dos 300 quilómetros por hora. Espera-se que o fenómeno atravesse as Caraíbas e afete o estado norte-americano da Flórida este fim-de-semana. O Irma torna-se assim uma das raras tempestades a atingir a escala mais elevada e é já o furacão mais poderoso dos últimos dez anos no Atlântico Norte. Mas como se formam estes fenómenos e que condições permitem que atinjam esta dimensão?

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Furacões de categoria 5 são raros. O único furacão mais potente que o Irma foi registado em 1980. Foi apelidado de Allen, atingiu ventos de 305 quilómetros por hora e foi diretamente responsável pela morte de 269 pessoas. Mas foi o Mitch, em 1998, o mais mortífero dos últimos 100 anos: em 48 horas morreram mais de 11 mil pessoas.

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Para que um furacão seja considerado de categoria 5 é necessário que ultrapasse 250 quilómetros por hora – ventos com efeitos catastróficos – e a diferença para um furacão de categoria 1 é enorme. Um furacão de categoria 5 tem uma capacidade destrutiva 500 vezes mais forte que um de categoria 1.

Apesar desta força toda, estes “monstros” dependem de condições ambientais muito específicas e frágeis para crescerem.

Os furacões ganham força e crescem com base na temperatura da água do mar. Se a água do mar ultrapassa os 26º Celsius de temperatura, está consolidada a condição mais importante. Com pouco vento para quebrar a rotação destes sistemas, o desenvolvimento de um furacão pode ser feito em poucas horas. No hemisfério norte, os furacões registam sempre uma rotação no sentido oposto ao ponteiro dos relógios, por obedecerem à força inercial de Coriolis. No hemisfério sul, giram no sentido oposto.

O que acontece é que a energia libertada pela condensação da humidade no ar causa uma rotação de retroalimentação positiva sobre a água quente do mar (Foto: Robert Simon/NASA)

Infelizmente para as populações no caminho do furacão Irma, as condições climatéricas e ambientais registadas na região são muito favoráveis ao crescimento do furacão: a água do mar manter-se-á ou ultrapassará os 26º C e haverá muito pouco vento capaz de cortar o efeito do furacão.

Ainda assim, a intensidade do Irma pode diminuir graças ao complexo — mas frágil — sistema que a sustenta. Nos furacões, a “parede do olho” é onde se registam as condições mais agressivas, os ventos mais fortes e a intensa precipitação. Esta zona rodeia a aparente calma e bom tempo que se regista no centro da tempestade: o “olho” do furacão. Muitas vezes, um segundo olho forma-se na parede do olho e obriga o sistema e desintegrar-se.

O olho do furacão é, ainda assim, a zona mais perigosa. Durante alguns minutos, até mesmo horas, as populações podem ser levadas a acreditar que a tempestade já passou e saem à rua para avaliar os estragos só para serem surpreendidas de repente com as agressivas condições da parede do olho.

Um furacão pode também perder muita intensidade quando atinge terra, porque perde a base marítima que o sustenta.

Desde 1924, cerca de 32 furacões atingiram a categoria 5 no Atlântico, sendo que muito poucos mantiveram essa classificação até atingirem terra. Na história dos Estados Unidos, o furacão Camille (1969) e o furacão Andrew (1992) são dois exemplos. Contudo, recorda-se a destruição causada pelo Katrina em 2005 (foi de categoria 5 mas atingiu a costa enquanto categoria 4) e, mais recentemente, a causada pelo Harvey, que nunca passou a categoria 5.

Percurso esperado do Irma até domingo (Foto: National Oceanic and Atmospheric Administration)

O Irma deverá afetar cerca de 75 mil residentes na ilha de Keys, na Flórida, sem contar com dezenas de milhares de turistas que aproveitam a época balnear. Seriam necessários três dias para evacuar apenas esta ilha.