O quadro das competições profissionais, apresentado no início da presente época desportiva, tem 76 árbitros: 22 árbitros principais, 44 árbitros assistentes e dez estagiários. Destes, 73 pediram dispensa este fim-de-semana, numa ação que visa responder ao atual clima de suspeição que se vive no futebol português e que conheceu mais alguns capítulos durante a semana, nomeadamente no programa “Chama Imensa” da BTV. E agora?

Dentro desta realidade, vamos por partes. E a primeira está relacionada com o Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol: o órgão terá de analisar os pedidos de dispensas dos árbitros e tomar uma decisão, se aceita ou não. Em condições normais, isso não seria sequer tema, mas a verdade é que esta posição não cumpriu os prazos regulamentados, que tem previstos 20 dias de antecedência antes da data em causa. Ainda assim, a parte do “salvo se ocorrer facto imprevisto e de força maior, devidamente comprovado” deverá aplicar-se.

De acordo com fontes contactadas pelo Observador, é muito provável que o Conselho de Arbitragem aceite estas dispensas, o que levantará aí outro problema: fica ratificado que existem apenas três árbitros disponíveis para os 19 jogos da Primeira e da Segunda Liga este fim-de-semana, entre sexta e segunda-feira. Ou seja, ter-se-á de recorrer aos regulamentos para que haja jogos. E nenhum contará com vídeo-árbitro.

Só três dos 76 árbitros ainda não pediram dispensa para jogos do fim-de-semana

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Do árbitro de bancada (literalmente) ao jogador-árbitro

Em 2011, na sequência de duras críticas do Sporting à arbitragem e a João Ferreira (o árbitro que tinha estado no jogo com o P. Ferreira em Alvalade em que Ronny marcou um golo com a mão), o juiz de Setúbal recusou-se a apitar o Beira-Mar-Sporting, da segunda jornada do Campeonato de 2011/12, e teve a solidariedade dos restantes árbitros. Ainda assim, houve jogo em Aveiro, dirigido por Fernando Idalécio Martins, um empregado fabril de 43 anos que estava na bancada e que pertencia à primeira categoria da Associação de Futebol de Aveiro.

Neste caso, quer o Beira-Mar, quer o Sporting tinham um plano preparado para apresentar na habitual reunião que existe antes do jogo (a hipótese dos verde e brancos, Sérgio Cruz, da segunda categoria da Associação de Futebol de Setúbal, caiu por falta de licença atualizada), e havia outros árbitros da Associação de Futebol de Aveiro no recinto preparados para serem chamados, como aconteceu. Mas existem outros cenários.

Por exemplo, se não houver acordo entre os clubes, a “missão” de encontrar um árbitro passa para o observador ou qualquer outro elemento ligado à Federação. E parte deles a iniciativa de encontrar alguém, seja através de uma chamada pelas instalações sonoras do estádio (como chegou a acontecer em Aveiro, em 2011), seja através de contactos telefónicos. Se a tentativa se revelar também infrutífera, há um sorteio para decidir quem designa o árbitro e, quem ganhar, pode escolher quem quiser; no limite, até um jogador ou alguém da equipa técnica.

E depois deste fim-de-semana, o que se faz?

Até agora, falámos apenas dos cenários possíveis para este fim-de-semana. Mas na terça-feira continua tudo na mesma em relação a esta questão. E em vésperas de clássico entre FC Porto e Benfica (1 de dezembro). “Alguma coisa vai mudar, isso parece-me óbvio”, ressalva uma das fontes ligadas ao setor da arbitragem contactadas, que não coloca de parte, até depois das declarações de alguns clubes do G15 que se encontraram esta terça-feira (os 15 clubes da Primeira Liga extra FC Porto, Sporting e Benfica), que os próprios se recusem a entrar em campo.

Futebol. E se o campeonato parasse pela greve dos árbitros?

Segundo nos explicaram, e depois de várias tentativas para travar este clima que se vive atualmente no futebol nacional (inclusive um anúncio de greve nos jogos da Taça da Liga, no final de outubro, que acabou por cair uma semana depois), quer a Federação, quer a Liga terão obrigatoriamente de tomar medidas de força. De acordo com o que o Observador apurou, uma das questões já abordadas passará por alterações regulamentares, nomeadamente a possibilidade de haver perda de pontos para os clubes que ultrapassem os limites.

O recente programa “Chama Imensa” da BTV, que surgiu como uma espécie de respostas ao caso dos emails levantado pelo FC Porto e que está a ser investigado pelo Ministério Público, acabou por ser uma espécie de gota de água que fez transbordar o copo, sobretudo pelas suspeitas deixadas no ar em relação ao árbitro Luís Ferreira e à alegada chamada que um juiz teria recebido da mulher uma hora antes de entrar em campo.

Dúvidas, denúncias (com emails à mistura) e uma acusação: Benfica apresenta o “novo Apito Dourado”