Ristovski, Bruno César, Alan Ruíz? Então e o Fábio Coentrão, o Gelson Martins e o Bas Dost? Jorge Jesus é um treinador que gosta de andar nos grandes palcos de Espanha: chega às conferências de imprensa a dizer “Buenas noites Cataliunha“, tenta adivinhar a equipa adversária (e acertou, porque Messi começou mesmo no banco), faz umas graçolas pelo meio (“Rezar muito para parar o Messi? Se vamos entrar no capítulo da religião, então estão a falar com o treinador certo porque eu sou Jesus!”). Mas guarda o melhor para o dia seguinte, o do jogo. E prepara surpresas, como já tinha feito em Madrid no ano passado. Aqui, não foi diferente.

Se fizéssemos um daqueles estudos de grupo em que se tentasse adivinhar a equipa inicial do Sporting, ninguém iria acertar. Ninguém mas ninguém mesmo. E se no limite acertasse nos nomes (se for o caso, vá jogar no Euromilhões esta semana porque as probabilidades não eram assim tão distintas), dificilmente conseguiria imaginar o modelo que os leões iriam apresentar. Foi errado? Não. Mas a teoria não passou para a prática. E, sobretudo, tinha os nomes e as características erradas para aquele plano que deveria ser o certo.

Ficha de jogo

Mostrar Esconder

Barcelona-Sporting, 2-0

6.ª jornada do grupo D da Liga dos Campeões

Camp Nou, em Barcelona (Espanha)

Árbitro: Craig Thompson (Escócia)

Barcelona: Cillessen; Nélson Semedo, Piqué (Busquets, 65′), Vermaelen, Lucas Digne; André Gomes, Rakitic, Denis Suárez; Aleix Vidal (Messi, 61′), Paco Alcácer e Luís Suárez (Paulinho, 75′)

Suplentes não utilizados: Ter Stegen, Jordi Alba, Sergi Roberto e Deulofeu

Treinador: Ernesto Valverde

Sporting: Rui Patrício; Piccini, Coates, Mathieu; Ristovski (Gelson Martins, 46′), William Carvalho, Battaglia, Acuña; Bruno Fernandes, Bruno César (Fábio Coentrão, 65′) e Alan Ruíz (Bas Dost, 46′)

Suplentes não utilizados: Salin, André Pinto, Palhinha e Podence

Treinador: Jorge Jesus

Golos: Paco Alcácer (59′) e Mathieu (90+1′, p.b.)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Alan Ruíz (30′) e Nélson Semedo (35′)

Como seria de esperar, o Barcelona alargou o campo que por si só é grande, tomou conta da bola e instalou-se no meio-campo verde e branco. Diferença? Sentia dificuldades em entrar na área como é normal, através daquele futebol curto e rendilhado (com e sem Messi é mesmo diferente…), e teve mesmo de começar a arriscar os remates de meia-distância, por Aleix Vidal (18′, muito por cima) e André Gomes (20′, este rasteiro e com perigo). Até à meia hora, ou até ao intervalo, a única oportunidade flagrante foi de Suárez, que passou por Coates como se fosse um lance de vídeojogo (por culpa da abordagem do central, que até fez uma exibição boa) e obrigou Rui Patrício, a partir de hoje o terceiro jogador com mais encontros oficiais do clube, a grande defesa.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

E de Sporting, pouco ou nada. E recuperamos um lance aos 28′ para explicar tudo: os jogadores leoninos conseguiram uma troca de bola com muita qualidade, de primeira, a deslocar por completo a tentativa de pressão blaugrana, mas tudo a meio-campo e a terminar com um passe defeituoso de Alan Ruíz cortado por Digne. Bruno Fernandes, com dois remates fraquinhos, foi o único a tentar a ameaçar a baliza contrária.

Mas o que falhou? As transições. Sobretudo as transições. Porque aquilo que Jesus queria era defender com uma linha de cinco colocando Ristovski e Acuña a fazer os corredores e Piccini a encostar mais por dentro a Coates e Mathieu e desfazer essa linha em três lançando os dois jogadores nas alas pelo corredor. O que aconteceu, ao invés, foi uma equipa curta, sem elementos rápidos na frente para explorar a profundidade e que teve alguns jogadores em noite menos conseguida a nível de passe, casos de William Carvalho e Battaglia.

Ainda assim, os jogadores do Sporting bateram-se bem. Muito bem. E se já tinham equilibrado o jogo nos últimos 15 minutos da primeira parte, chegaram mesmo a ter alguns momentos de maior controlo e posse no meio-campo do Barça no arranque da etapa complementar, já reforçados com Gelson Martins e Bas Dost. Seria mesmo o extremo internacional português a deixar o aviso inicial a uma das balizas, acabando com um remate fraco de pé esquerdo após uma grande jogada individual da direita para o centro (53′). Jesus falou tanto do “baixinho” Messi, mas quando tem o seu baixinho extremo em campo é logo outra coisa.

No entanto, e mais uma vez, os leões voltaram a sofrer como não seria de esperar. Que é como quem diz, de bola parada: canto marcado na esquerda do ataque por Denis Suárez e cabeceamento de Paco Alcácer ao primeiro poste, onde estava “plantado” perante uma clara falha posicional dos elementos verde e brancos (59′). E um pormenor: faltaram mesmo alguns centímetros a Gelson para conseguir cortar a bola. Na altura em que o golo surgiu, o Sporting nem merecia passar a estar em desvantagem. Mas passou. E mais frustrado ficou quando pouco depois, Bas Dost permitiu a defesa ao compatriota Cillessen na pequena área após mais um grande pormenor de Bruno Fernandes, o melhor elemento do conjunto português em termos ofensivos (62′).

Pelo meio, o “baixinho” entrou. E é curioso ver como reage Camp Nou quando o seu Deus pisa as quatro linhas, festejando quase como se fosse um golo. Percebe-se: é um dos melhores jogadores do mundo e tem a capacidade de, sozinho, mudar por completo o cariz do encontro. Dost ainda viria a ter uma boa oportunidade no final do jogo, mas o argentino tomou conta das incidências, ofereceu o golo a Suárez (defesa de Patrício) e Alcácer (corte providencial de Piccini) e viu ainda o número 1 do Sporting fazer uma enorme parada num remate em arco (80′).

Mesmo no final do encontro, Mathieu fez o 2-0 desviando para a própria baliza um cruzamento da esquerda. O Sporting perdeu os dois jogos com o Barcelona com três golos difíceis de imaginar: um autogolo após um livre lateral; um cabeceamento depois de um canto; e mais um autogolo, desta vez na sequência de bola corrida. Daqui se percebe que merecia algo mais: ou o golito da ordem, ou o ponto da surpresa. Não conseguiu, segue-se a Liga Europa. Onde Gelson Martins, o baixinho do Sporting, poderá voltar a mostrar o quão importante é na equipa. Sobretudo quando joga 90 e não 45 minutos.