As sirenes que sinalizam o disparo de rockets tocaram na cidade de Ashkelon, no sul de Israel depois de dois rockets terem sido disparados. Os rockets foram lançados esta tarde de quinta-feira a partir da Faixa de Gaza. Foram vistos a aterrar dentro da Faixa.

Ismail Haniyeh, líder do movimento islâmico Hamas, apelou esta quinta-feira a uma nova revolta popular contra Israel depois de o Presidente norte-americano Donald Trump ter reconhecido oficialmente Jerusalém como capital do estado israelita. Num discurso transmitido pela televisão a partir da zona da Faixa de Gaza controlada pelo Hamas, Haniyeh garantiu que a decisão do Governo norte-americano — uma “declaração de guerra contra os palestinianos” — “matou” o processo de paz entre a Palestina e Israel.

“Só podemos enfrentar a política sionista — apoiada pelos Estados Unidos da América — lançando uma nova intifada”, afirmou o líder do Hamas, apelando a que a insurreição comece já esta sexta-feira, 8 de dezembro. “Será um dia de ódio e do início de um esforço maior para lutar, ao qual irei chamar de intifada pela libertação de Jerusalém e da Cisjordânia”, território ocupado pelos israelitas, disse, citado pelo USA Today. “Se libertarmos Gaza, seremos capazes de libertar Jerusalém e a Cisjordânia através da luta popular”. O líder do Hamas disse ainda que irá dar indicações a todos os membros para que estejam atentos a novas instruções.

Haniyeh pediu ainda a união do povo palestiniano na luta contra os norte-americanos e israelitas. “Estamos todos no mesmo barco”, cita o The Jerusalem Post. “Chegou a altura de sermos fortes, de permanecermos juntos, de nos incentivarmos a ir mais longe, de nos unirmos. Precisamos de ultrapassar as dificuldades e pormenores de modo a virar a nossa atenção para Jerusalém e Al-Aqsa”, um dos lugares mais sagrados para os muçulmanos, situado na zona antiga da cidade.

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Jihadistas ameaçam “cortar cabeças” e conquistar Jerusalém

O SITE Intel Group — uma organização que monitoriza a atividade terrorista na Internet — detetou trocas de mensagens entre vários membros de grupos jihadistas onde se fala num ataque a Israel. Numa delas, que surge acompanhada por uma imagem da mesquita de Al-Aqsa rodeada de soldados israelitas, divulgada através de um canal de simpatizantes do Estado Islâmico na rede Telegram, os terroristas afirmam que vão “estar entre os vossos soldados, com as vossas armas e com as vossas roupas”. “Vamos cortar as vossas cabeças e vamos libertar Jerusalém, com a vontade de Deus”, pode ler-se na mensagem, divulgada por Rita Katz através do Twitter.

Na mesma rede social, a diretora do SITE Intel Group partilhou também imagens que mostram comunicados onde são citados vários líderes da Al-Qaeda, como Nasir al-Wuhayshi, responsável pelo ramo do grupo terrorista na Península Árabe, e Osama Bin Laden, apelando à morte de “todos os cruzados que encontremos no nosso território, e aniquilar os interesses ocidentais”. Rita Katz acredita que estas mensagens são o início de uma longa campanha contra a mudança da embaixada norte-americana em Israel para Jerusalém, depois de Trump ter reconhecido a cidade como a capital israelita, que irá “incluir avisos e ameaças de líderes jihadistas”.

Confrontos com soldados israelitas fazem oito feridos na zona de Gaza

Na quarta-feira, os Estados Unidos tornaram-se no único país a reconhecer Jerusalém como capital de Israel. A decisão — encarada como uma rutura relativamente a décadas de neutralidade da parte da diplomacia norte-americana no processo de paz entre os dois países — foi imediatamente condenada pelo mundo árabe, incluindo por alguns dos aliados dos Estados Unidos. Na Turquia e na Jordânia, foram organizadas manifestações junto aos consulados norte-americanos, e na zona palestiniana de Jerusalém foram apagadas as luzes de Natal num gesto simbólico.

Em Gaza e em várias localidades da Cisjordânia, pelo menos oito manifestantes palestinianos ficaram feridos na sequência de confrontos com soldados israelitas, refere o Haaretz. Segundo o jornal, participaram nos protestos várias centenas de pessoas, que queimaram imagens de Donald Trump, Benjamin Netanyahu e bandeiras dos Estados Unidos e de Israel. A norte da Faixa de Gaza, também ocorreram algumas demonstrações. Em resposta a estas manifestações, o exército israelita decidiu enviar os batalhões adicionais para a Cisjordânia, enquanto outras forças estarão prontas para intervir. O exército não revelou, porém, o número de efetivos que serão deslocados.

Na cidade bíblica de Belém, as tropas dispararam canhões de água e lançaram granadas de gás lacrimogéneo para dispersar uma manifestação e em Ramallah, sede do governo palestiniano, manifestantes incendiaram dezenas de pneus, provocando uma espessa nuvem de fumo negro sobre a cidade.

Erdogan: “Os fortes não têm razão, os que têm razão é que são os fortes”

Recep Tayyip Erdogan, que já tinha acusado Trump de lançar o Médio Oriente para um “círculo de fogo”, voltou a atacar o Presidente norte-americano.“Trump, o que é que tu queres fazer? Os líderes políticos não estão lá para agitar as coisas, mas antes para as pacificar. Agora, com estas declarações, Trump cumpre as funções de uma batedeira”, disse o Presidente da Turquia aos jornalistas presentes no aeroporto da capital da Turquia, antes de partir para uma visita oficial à Grécia, a primeira de um chefe de Estado turco em 65 anos.

“Os Estados não respeitam de todo as decisões da ONU. Até agora, além dos Estados Unidos e Israel, nenhum país violou a decisão da ONU de 1980”, afirmou o Presidente turco em referência à resolução das Nações Unidas que define Jerusalém como cidade ocupada e apela para que não sejam ali instaladas embaixadas até que o conflito seja resolvido. “É impossível entender o que é que Trump pretende conseguir ao trazer novamente este assunto para a ordem do dia”, observou Erdogan, sublinhando que Jerusalém é uma cidade santa para judeus, cristãos e muçulmanos.

O Presidente turco recordou a convocatória de uma cimeira extraordinária de líderes da Organização para a Cooperação Islâmica, a ter lugar na quarta-feira na cidade de Istambul, para abordar a questão, indicando que se planeiam também “atividades depois” dessa reunião. “Estou a chamar vários dirigentes, e não apenas de países islâmicos. Pedi para falar com o Papa [e] iremos conversar esta noite ou amanhã, porque [Jerusalém] também é um templo para os cristãos. Falarei com Putin, com a Alemanha, Inglaterra, França, Espanha”, salientou Erdogan, acrescentando que “se Trump pensa que é forte e que, por isso, tem a razão, engana-se”. “Os fortes não têm razão, os que têm razão é que são os fortes.”

António Guterres: “Não há plano B”

O secretário-geral da ONU, António Guterres, frisou que não é possível ter dois estados com Jerusalém como capital e que a questão tem de ser resolvida através de negociações diretas com os estados da Palestina e Israel, “com base em resoluções relevantes do Conselho de Segurança e da Assembleia Geral, tendo em conta as preocupações legitimas do lado palestino e israelita”. “Neste momento de grande ansiedade, quero deixar claro: não há alternativa para a solução de dois estados. Não há plano B”, declarou, durante uma curta conferência de imprensa na quarta-feira.

O secretário-geral da ONU disse ainda que só “concretizando a visão de dois estados a viver lado a lado, em paz, segurança e reconhecimento mútuo, com Jerusalém como a capital de Israel e da Palestina”, é que “as aspirações legítimas de ambos os povos serão alcançadas.”

A União Europeia (UE) também condenou o anúncio, reiterando, contudo, que é possível ter Jerusalém como capital dos dois estados. Federica Mogherini, chefe da diplomacia da UE, disse que a decisão de Trump pode levar a “tempos ainda mais sombrios do que aqueles em que vivemos hoje”. “O anúncio do Presidente Trump sobre Jerusalém tem um impacto potencial muito preocupante”, afirmou Federica Mogherini em conferência de imprensa, reiterando que o contexto da região “é muito frágil”.

Em Portugal, o Parlamento aprovou esta quinta-feira, com votos favoráveis de todos os partidos, um voto apresentado por BE, PS e PAN que “condena o reconhecimento de Jerusalém como capital do Estado de Israel pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump”. O documento foi aprovado pelo PSD, PS, PCP, BE, PEV, PAN e teve também votos a favor do CDS-PP, incluindo da sua presidente, Assunção Cristas, mas a bancada centrista dividiu-se nesta matéria, com cinco deputados a absterem-se e dois a votarem contra. O socialista João Soares também se absteve.