As palavras podem ser diferentes mas a ideia é sempre igual: quem se desloca pela primeira vez a Stamford Bridge comenta de forma inevitável como é possível haver um estádio naquele espaço onde, uma rua antes, quase não se consegue perceber que logo ali a seguir está a casa do Chelsea. E, apesar dos 42 mil espetadores que o recinto tem de lotação (e de ser um espaço com a sua mística), essa acabou por ser a dor de crescimento mais complicada de superar no clube desde que o milionário Roman Abramovich assumiu o comando dos blues. No entanto, o problema estava a ser resolvido. Até que, de repente, uma família coloca em causa um projeto de quase mil milhões de libras, como avançou o The Times, qualquer coisa como 1,125 mil milhões de euros.

Depois de ter finalmente conseguido a aprovação do mayor de Londres, Sadiq Khan, o projeto desenhado pelos arquitetos Herzog e De Meuron (que ficaram conhecidos pelo famoso “Ninho de Pássaro” em Pequim, o estádio que recebeu os Jogos Olímpicos de 2008) tinha tudo para avançar a médio prazo para uma requalificação que aumentaria a lotação para 60 mil espetadores, num pilar fundamental para a consolidação do crescimento do clube londrino. Até que entraram em ação os Crosthwaite, que vivem nas imediações do recinto.

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A viver naquela casa há 50 anos, Lucinda, Nicolas e os filhos Louis e Rose argumentam que, da forma como o plano está desenhado, deixarão de ter luz em casa 24 horas por dias, tendo por isso submetido um requerimento judicial contra o projeto em vésperas de reunião entre os responsáveis do Chelsea e as autoridades dos bairros circundantes de Hammersmith e Fulham. “O novo estádio tem um impacto inaceitável nas nossas vidas”, descreveu a filha mais nova numa carta aberta citada pela BBC, que explica também que os Crosthwaite não estão contra a renovação do estádio mas sim contra o atual plano, nomeadamente os 17 mil lugares de hospitality que estão previstos (equivalentes a 26% do estádio) quando o Emirates Stadium, do Arsenal, tem 16% para essa finalidade.

Claro está que, quando falamos em valores de mil milhões de libras, dinheiro não parece ser problema para chegar a acordos com os “vizinhos”. A verdade é que os londrinos conseguiram isso com todos (mais de 50)… menos com esta família com residência em East Stand. E, de acordo com as informações veiculadas pela imprensa inglesa, a última oferta em cima da mesa já envolvia seis dígitos, ainda assim insuficientes para resolver o dilema.

Da parte do Chelsea, a argumentação continua a ser a mesma que sustentou a aprovação do projeto: a remodelação do recinto trará grandes benefícios para os locais a nível de serviços económicos, culturais e sociais, dando como exemplo os seis milhões de libras que reverterão para projetos educativos da comunidade. Em paralelo, e mostrando uma sondagem feita a 13 mil residentes locais onde 97,5% estão a favor do projeto, os blues defendem que os lugares destinados para hospitality não podem ser diminuídos porque a UEFA vai pedindo cada vez mais espaço para patrocinadores e convidados.