30 de dezembro de 1999. A frase do Bicho, a confiante frase do capitão dos portistas, tornou-se célebre. Jorge Costa diria, no regresso aos treinos do então líder FC Porto após a curta pausa natalícia, o seguinte: “Neste momento, o Futebol Clube Porto é, em todos os aspectos, superior a todas as outras equipas nacionais. Pela minha confiança na equipa poderiam encomendar-se as faixas de campeão”. Precipitou-se. E o Sporting de Inácio sagrar-se-ia campeão.

Não haverá Sporting campeão agora. Isso é quase certo. Ou mesmo certo. Já os portistas, depois da vitória desta sexta-feira à noite no Dragão, e tendo mais oito pontos do que o rival, não podem encomendar ainda uma faixa inteira de campeão, mas “meia” já pode vir a caminho. Porquê? É que o Sporting está arredado do título, sim, mas o Benfica, vencendo este sábado o Marítimo, volta a colocar-me a “somente” cinco pontos de distância do líder. E o FC Porto ainda vai à Luz jogar.

Uma coisa é certa, e voltando ao passado e a Jorge Costa: os portistas são mesmo “superiores” esta temporada. E foram-no esta noite. Não sempre. Mas nos momentos em que precisaram de ser, foram.

No começo houve sobretudo Marega. Os ataques passavam por tentar isolar o avançado maliano e deixá-lo correr. Correr, correr e correr. E tanto desassossego causaram as correrias de Marega à defesa sportinguista. Pouco a pouco, o FC Porto foi ganhando o meio-campo e, portanto, o controlo do encontro. Por sua vez, o Sporting tinha no centro, em Bruno Fernandes, o melhor elemento, o único que demonstrava ser capaz de contrabalançar a superioridade portista. Mas estava só. Doumbia era uma nulidade na frente. E tantas vezes estragou o que Bruno em esforço, às vezes lutando contra moinhos de vendo, lhe ofereceu.

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FC Porto-Sporting, 2-1

Estádio do Dragão, no Porto

Liga NOS 2017/18, Jornada 25

Árbitro: Artur Soares Dias (AF Porto)

FC Porto: Casillas; Maxi Pereira, Felipe, Marcano e Diogo Dalot; Sérgio Oliveira, Herrera, Otávio (Corona, 66’) e Brahimi; Marega (Diego Reyes, 82’) e Gonçalo Paciência (Aboubakar, 72’)

Suplentes não utilizados: José Sá, Ricardo Pereira, Óliver Torres e Hernâni

Treinador: Sérgio Conceição

Sporting: Rui Patrício; Ristovski (Rúben Ribeiro, 66’), Coates, Mathieu e Fábio Coentrão (Montero, 85’); William Carvalho, Battaglia e Bruno Fernandes; Acuña, Bryan Ruíz e Doumbia (Rafael Leão, 44’)

Suplentes não utilizados: Salin, João Palhinha, Misic e Bruno César

Treinador: Jorge Jesus

Golos: Marcano (28’), Rafael Leão (44’) e Brahimi (49’)

Ação disciplinar: Cartão amarelo para Felipe (63’), Bruno Fernandes (77’), Acuña (87’) e Herrera (92′)

A primeira ocasião foi ao minuto 12. E que ocasião foi. Sérgio Oliveira bateu um canto à direita, ninguém desviou, ninguém cortaria também, a bola lá chegou a Marega e Marega cabeceou ao poste. Na recarga, com Patrício tombado no relvado e a baliza à mercê de um desvio subtil, o maliano viu Bryan Ruiz cortar em cima da linha de golo.

O Sporting reagiu. Cresceu. E chegava já perigosamente à grande área portista. Ao minuto 17, Doumbia é isolado por Ruiz no interior desta e, em seguida, derrubado nas costas por Diogo Dalot. Soares Dias nada assinalou. Deixou seguir. Seguiu-se um ataque do FC Porto, outro dos leões. E o árbitro, alertado pelo vídeo-árbitro, lá interrompeu o jogo volvidos dois minutos e foi à lateral consultar o monitor com a repetição do polémico derrube. Manteve a primeira decisão.

O Sporting teria, pouco depois, ao minuto 21, a sua melhor ocasião de golo. Bruno Fernandes encontra Doumbia a escapar nas costas da defesa portista, isola-o, e é Casillas, veloz a sair dos postes, a evitar o golo e conceder o canto. Ameaçou o Sporting, consumou Marcano. O minuto era o 28. A bola chegou a Herrera à direita, este ameaça que cruza rasteiro mas picaria a bola para o segundo poste. O central espanhol desviou para a baliza – Mathieu ainda tentou cortar, em vão, sobre a linha.

Ao minuto 44 Doumbia saiu, vencido por uma lesão muscular. Entrou Rafael Leão. E fez mais Leão em apenas dois minutos do que Doumbia em toda a primeira parte que jogou. Bryan Ruiz recuperou a bola, entregou-a a William, William devolveu-lha, e o mesmo Ruiz isolaria Leão nas costas de Marcano. À saída de Casillas, e tendo já ganho à frente do lance a Felipe, o avançado rematou de pronto, cruzado, e bateu o guarda-redes espanhol. Com brevíssimos (brevíssimos e “desavergonhados”) 18 anos e oito meses, Leão é o mais jovem de sempre a marcar num clássico com os portistas.

O FC Porto regressou do balneário com intenção de resolver, pressionando alto, encostando o Sporting à sua defensiva. E resolveu: ao minuto 49, Gonçalo Paciência cruza desde a direita para a grande área, Ristovski falha o corte e a bola chega a Brahimi. O argelino escolheu o lado e rematou para o segundo dos portistas.

Voltaremos ao futebol (que é o que realmente importa) depois de recordar um inenarrável momento que aconteceu à passagem da hora de jogo. O Sporting atacava, procurava o empate, e a bola dirige-se para a lateral. Um maqueiro escondeu-a. Sim: escondeu-a. Sim: maqueiro. Coentrão empurrou-o para a recuperar. E é depois empurrado por um segundo maqueiro. Soares Dias expulsaria ambos os maqueiros. O primeiro dirigiu-se (teria bilhete?) de imediato para a bancada. O segundo contornaria o relvado, aplaudido pela multidão enquanto saía.

Até final, três ocasiões para o Sporting empatar e outra para os portistas matarem o jogo de uma vez por todas. Primeiro, ao minuto 65’, canto à direita, Bruno Fernandes bate-o para o primeiro poste e Ruiz desviou de cabeça. Passou pouco ao lado do canto superior direito da baliza de Casillas o desvio. Depois, ao minuto 79, Marega surge isolado, tentou fazer um chapéu a Patrício e é Battaglia, no último instante, que evita o golo em cima da linha.

As duas últimas ocasiões do Sporting não entregaram (ainda) o título ao FC Porto. Mas afastam-no, Sporting, de o continuar a disputar. Em breves três minutos, foi-se a disputa.

Ao 86, canto à esquerda, Coates desvia ao primeiro poste, a bola chegou a Montero ao segundo, e o avançado colombiano mergulhou sobre o relvado para conseguir desviar. Casillas defendeu. Uma defesa enorme, tão enorme. Por fim, ao 89, Rúben Ribeiro cruza, Leão só precisa de encostar, mas o encosto saiu-lhe mal, tão mal, que a bola passou muito por cima da trave.