Dos gelados aos desodorizantes e leites corporais, dos detergentes aos molhos de cozinha, são muitos os essenciais do dia-a-dia e as empresas que se juntaram já ao conceito. Tudo para abrandar o ritmo com que consumimos e nos vemos livres dos produtos que fazem parte do quotidiano. Falamos da Loop, que pretende oferecer uma solução mais conveniente e circular aos consumidores. A experiência vai ser lançada na primavera em França e nos EUA e visa reduzir a dependência de recipientes descartados após utilização única.

Na plataforma online, encontra reunidas uma série de marcas bem conhecidas do grande público, que apostam numa forma alternativa de escoar os seus produtos, redesenhando embalagens para que a forma de consumo seja mais eficiente e o fator desperdício seja mais controlado — na galeria em baixo pode ficar com uma ideia das opções ao nível do design. A ideia é uma espécie de grande bazar, agora associada a uma certa durabilidade. Lembra-se da figura do leiteiro que andava de porta em porta a encher vasilhas? A loja da Loop quer ocupar esta função neste milénio. Por email, em resposta ao Observador, Tom Szaky, responsável pela TerraCycle, que lidera o projeto, explica-nos um pouco melhor este sistema de subscrição, apresentado ao mundo num Fórum Económico Mundial.

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“Basta deixar as embalagens usadas no saco da Loop e agendar a recolha em sua casa. Trataremos de voltar a encher todas as embalagens vazias de produtos que nos enviar”. Para além da sustentabilidade, o processo aponta ainda à poupança — “na verdade o cliente não possui a embalagem, logo não paga por ela, mas sim pelo seu uso”, descreve o “magnata do lixo”, alcunha granjeada há já alguns anos pelo jovem que provou protagonizar muito mais que um típico conto de fadas com startups pelo meio.

Em cima da mesa estão três modelos de funcionamento: através do site encomendam-se os produtos e estes são entregues em casa; outra alternativa é fazer a encomenda através de um parceiro associado, recebendo-o da mesma forma; por fim, realizar o processo na própria loja, onde seria possível deixar os depósitos. Tom respondeu-nos entre viagens. Resta esperar pela escala deste modelo em Portugal.

Tom Szaky, da TerraCycle, empresa especializada na reciclagem de sistemas complexos

Como é que tudo começou?
A ideia surgiu em 2017, no Fórum Económico Mundial. A TerraCycle liderou a idealização e implementação, mas claro que nada disto teria sido possível sem uma série de empresas (Proctor & Gamble, Unilever, PepsiCo, Mars, Nestle), retalhistas (Carrefour, Tesco), parceiros operacionais (Suez e UPS), e a própria plataforma do Fórum Económico Mundial. [em  janeiro deste ano foi formalizada a apresentação da plataforma de e-commerce Loop e o envolvimento de 25 multinacionais]

Como foram os primeiros contactos? Foi fácil atrair as grandes marcas para o projeto?
Foi preciso algum esforço para reunir os parceiros fundadores: PG, Unilever, Nestle, Mars e PepsiCo, uma vez que o modelo requer um investimento enorme, tempo e outros recursos. Mas depois destas empresas se juntarem ao barco foi relativamente fácil conquistar outros parceiros. O mesmo sucedeu com os retalhistas. Foi um longo processo até conseguirmos atrair o Carrefour… mas depois disso outros vieram, como o Tesco. A razão chave para a adesão tem a ver com a capacidade de inovar aos olhos do consumidor (o fabricante e não o consumidor passa a ser o dono da embalagem) e pelo benefício de resolver o problema do desperdício.

Pensa que é mais difícil mudar os hábitos das grandes marcas no mercado ou dos consumidores? Qual o maior desafio para uma plataforma como a Loop?
É difícil mudar hábitos no geral. Os consumidores procuram as soluções mais convenientes e baratas e um dos maiores desafios é pedir a esse mesmo consumidor que altere a forma como tem acesso aos produtos que adora. Que pense e compre de forma diferente.

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O que é que vos perguntam mais?
A TerraCycle é conhecida por reciclar materiais complexos e como tal muita gente me pergunta como fica a reciclagem se no caso da Loop estamos a falar de embalagens que são supostas durar. Reciclar é muito importante para fomentar um sintoma mas não vai resolver o problema na sua raiz. A cada dia que passa, mais e mais material descartável vai parar ao mar e aos solos, portanto por mais que reciclemos nunca vamos resolver este problema. Para nós, a origem do problema não está no plástico, está em usarmos as coisas apenas uma vez; é aí que a Loop tenta fazer a diferença o mais que pode.

Falando em termos práticos, de que produtos podemos falar? E que tipo de incompatibilidades prevalecem?
Não diria que um produto é mais difícil de reutilizar que outro. Diria sim que temos que desenvolver um sistema inovador que permita limpar embalagens específicas, adaptável a diferentes tipos de materiais e aberturas. Por exemplo, temos que ser capazes de garantir os máximos padrões de higiene em artigos alimentares, cuidados de higiene e outros itens de uso doméstico, o que atualmente é muito difícil, já que a maioria dos produtos de hoje tem aberturas fáceis e facilmente inutilizáveis. Dito isto, não somos contra o plástico, somos contra a utilização única de certos componentes.

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Quais são os vossos planos em termos de expansão? Podemos esperar a chegada de um sistema desta natureza a Portugal?
Em maio, a Loop será lançada em Paris e Nova Iorque. Planeamos crescer adicionando mais consumidores a cada geografia, e claro alargar o conceito a outras geografias, incluindo Londres (final de 2019), Toronto (2020), Califórnia (2020) e Tóquio (2020). Também prevemos o aumento da estrutura reforçando a ligação com o retalho, seja ao nível digital seja no contexto físico.