Como em todas as grandes “bombas”, há sempre um gatilho. Pode ser mais ou menos razoável, pode ter maior ou menor sentido, mas existe. E neste caso tudo começou com um post no Facebook do agente César Boaventura, conhecido sobretudo no âmbito do processo dos emails do Benfica, que colocou em causa os métodos de recuperação do fisioterapeuta Eduardo Santos a propósito do trabalho que fez com Moussa Marega na China, onde trabalha com o Shanghai SIPG – e que tem um currículo que fez com a equipa campeã liderada por Vítor Pereira tenha pago um milhão de euros aos russo do Zenit pela sua contratação. Mas afinal quem é Edu, o especialista de 39 anos que chegou a ser apelidado de curandeiro e bruxo (algo que não gosta)?

Depois de ter feito o seu curso de Fisioterapia na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Eduardo Santos ganhou um maior protagonismo em 2015, quando trabalhou durante 12 horas por dia ao longo de quase uma semana com David Luiz. O central que passou pelo Benfica estava então no PSG e deveria ter uma paragem de um mês por causa de uma lesão muscular, mais coisa menos coisa. 13 dias depois, foi opção para o conjunto francês na Liga dos Campeões. Na altura, algumas publicações gaulesas colocaram a hipótese de ter havido tratamentos com recurso a baba de caracol e placenta de égua (uma fórmula que já antes tinha sido apontada a Usain Bolt, para recuperar de um problema na coxa), Edu negou tudo. “Aquilo que fiz foi limpar o músculo antes de partir para o fortalecimento”, explicou ao Le Parisien.

Marega lesionou-se em Guimarães, tinha paragem prevista para oito semanas mas conseguiu encurtar o prazo com dez dias entre Qatar e China

O fisioterapeuta que trabalhou com outros nomes grandes do futebol como Falcao, Quaresma, Dembelé, Mangala ou Hulk (que terá sugerido também a sua contratação ao Shanghai SIPG) voltou agora a recuperar um jogador do FC Porto, depois de Marcano, Layún e Evandro. Como o próprio admitiu, Marega tinha um tempo de paragem estimado de oito semanas no seguimento do problema contraído em Guimarães, no nulo dos dragões frente ao Vitória; dez dias depois, começou a fazer trabalho no relvado e chegou mesmo a estar no banco no encontro dos azuis e brancos frente ao Sp. Braga, a contar para a primeira mão da meia-final da Taça de Portugal. Não entrou porque Sérgio Conceição não quis arriscar mas pode agora ser opção no clássico deste sábado frente ao Benfica, como titular ou suplente utilizado – assim o jogo necessite ou não.

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“Doutor milagre, não tenho problema com isso. Só não gosto que me chamem curandeiro ou bruxo porque desvaloriza o meu trabalho. As pessoas pensam que uma recuperação tão rápida deixa dúvidas mas a minha taxa de recaída é zero. Os processos de tratamento cicatrizam o músculo de forma acelerada mas depois fazemos todos os testes com o atleta. Aí, é levado a forçar, treinar, chutar, correr e fazer tudo para vermos se está realmente bem. Faz-se uma ressonância magnética para avaliarmos se o músculo está bem cicatrizado, comparamos resultados e discutimos com outros clínicos para perceber se a evolução foi perfeita e se o atleta está em condições de voltar”, explicou em declarações ao jornal O Jogo.

Quanto mais trabalhares, melhor te vais sentir quando atinges os teus objetivos. Obrigado Marega pela confiança e perseverança”, escreveu Eduardo Santos nas redes sociais.

“A vontade, a persistência e a disciplina de Marega ajudaram porque o tratamento demora muito tempo e é doloroso. Esteve dez dias a ser tratado entre o Qatar e a China. Estava disposto a tudo para recuperar e isso foi fundamental”, frisou, antes de recusar qualquer uso de substâncias ilícitas: “Todos perguntam qual é o meu segredo mas, depois do tratamento, parecem que não há segredo, uma técnica ou um só aparelho que use. Só resolvi falar pelas baboseiras que comecei a ouvir, a denegrir a minha imagem. É absurdo porque se fizesse isso já estava preso ou banido pela FIFA”. Algumas das técnicas que admite utilizar são a Eletrólise Percutânea Intratecidular (EPI), agulhas, técnicas tiradas da medicina oriental, eletroestimulação, laser e ultrassons, destacando por exemplo que muitos clubes já têm a EPI.

Esta quinta-feira, Marega (à semelhança do benfiquista Jonas, que terá recorrido a um especialista em Madrid por causa do problemas nas costas e respetiva prevenção), foi alvo de um controlo da brigada da Autoridade Anti-Dopagem de Portugal (ADoP) no Olival. De forma lateral e indireta, o clássico começou muito antes das 20h30 deste sábado. “Em relação à ADoP, acho absolutamente normal. Um controlo coletivo é normal. Quando é individual já não acho tão normal, mas não temos nada a referenciar sobre isso. Somos inovadores em algumas situações, as pessoas podem ficar pasmadas com um certo tipo de recuperações e querem fazer um bom trabalho”, comentou esta sexta-feira Sérgio Conceição, técnico dos portistas.