O destino do antigo cinema Londres já está escrito há muitos meses, mas só agora começa a ser visível para os transeuntes da Avenida de Roma, em Lisboa. Onde antes se lia Castello Lopes Cinemas Londres, vê-se, desde há poucos dias, um novo escaparate, em plástico, que anuncia aquilo que será o Londres Shopping – uma loja chinesa que, garantem os empresários, será diferente das lojas chinesas que habitualmente se veem.

Segundo Chunjie Ye, a empresária que vai abrir a nova loja, o espaço terá “mais variedade, mais qualidade [e coisas] mais bonitas” do que as lojas chinesas normais. Ela e o marido, também responsável pelo futuro Londres Shopping, já têm uma loja na Avenida João XXI, a escassas dezenas de metros do antigo cinema. Aí vendem o que é habitual encontrar-se nestas áreas comerciais: roupa, bijuteria, acessórios, produtos de beleza e um sem fim de quinquilharia.

O que mudará então entre um espaço e outro? De acordo com Ye, o futuro do Londres passa por se tornar “um supermercado, mas sem zona de alimentação”, onde a roupa, o calçado e os atoalhados terão mais destaque. E, “porque há muitos escritórios na zona”, os dois empresários chineses querem investir em ter “mais artigos de papelaria e mais móveis” do que é comum.

O nascimento de uma… loja de nações

As obras no antigo cinema Londres já decorrem desde novembro de 2014, altura em que o Observador falou com o proprietário do imóvel, António Serralha Ferreira, que tinha a expectativa de ter o processo concluído até janeiro. Só que a complexidade dos trabalhos tem obrigado a sucessivos adiamentos, como explicam agora ao Observador alguns dos operários que andam pelo Londres. Primeiro, as obras deveriam ter sido concluídas em fevereiro, agora o arquiteto Hugo Simões aponta o fim de março como data provável.

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Mas Chunjie Ye não está tão otimista e atira a data de abertura da loja ao público lá para maio ou para o verão. Além dos trabalhos necessários ao nivelamento do chão do cinema e à criação de condições para ter produtos em venda, os empresários querem investir em infraestruturas de acessibilidade, como rampas e cadeiras elevatórias. Tudo para “tentar que as pessoas se sintam confortáveis” na nova loja.

A empresária lamenta que o processo de transformação do Londres em loja tenha causado tanta polémica. Durante muitos meses, mesmo depois de o contrato de arrendamento já estar assinado, o Movimento de Comerciantes da Avenida Guerra Junqueiro, Praça de Londres e Avenida de Roma e plataformas de cidadania como o Mais Lisboa tentaram impedir a abertura de um espaço comercial, à procura de quem quisesse investir num pólo cultural.

“Não sabia a história do cinema, não sabia que era importante para Lisboa. [Só] olhámos para o espaço, que é bom”, diz Ye, que afirma haver algumas confusões na cabeça das pessoas. Por exemplo, o antigo cinema “não chega aos mil metros quadrados de área utilizável”. Ou seja, não será uma loja assim tão grande, afirma.

A empresária afirma ainda que “muita coisa que as lojas chinesas vendem é feita em Portugal e Espanha”, ao contrário da ideia generalizada. E, no futuro Londres Shopping, a presença de produtos portugueses, – como atoalhados de Torres Novas e móveis de Paços de Ferreira -, terá um lugar de destaque, garante. Resta apenas esperar pela estreia deste filme.