Se existe uma característica atribuída aos russos, uma apenas que pudesse descrever um elemento diferenciador das pessoas do país, a expressão “sangue frio” teria de surgir de forma inevitável. E nem tem propriamente a ver com clima ou com os invernos mais rigorosos – é mesmo a fama de quem vive situações normais ou de extremos com a mesma visão gélida, quase distanciada. Fama, claro está. Porque assim como há quem concorde com essa, visão também existem aqueles que defendem ser apenas uma generalização sem concordância com a realidade. E esta sexta-feira ganharam mais uns pontos para a argumentação.

Michael Leitch, a cara do râguebi japonês e de um Mundial que pode ser o mais importante de sempre

Num Estádio de Tóquio completamente cheio e a confirmar, no interior e nos arredores, que a febre do râguebi chegou para ficar ao Japão, os hinos voltaram a ser um dos grandes momentos antes do início do Campeonato do Mundo e nem mesmo a seleção russa (ou os jogadores) passou ao lado da visível emoção do momento, sendo bem percetíveis em alguns elementos as lágrimas nos olhos enquanto era cantada a letra. Qualificados por via administrativa, depois da presença em 2011 e da ausência em 2015, os europeus surgiam como outsiders frente ao conjunto da casa. Assim acabaram. Mas não foi assim que começaram.

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Aproveitando alguns erros claramente cometidos pelo nervosismo e ansiedade da estreia, a Rússia conseguiu o primeiro ensaio logo nos minutos iniciais da partida por Kirill Golosnitsky, com Yuri Kushnarev a fazer a conversão e a colocar o resultado em 7-0 contrariando as expetativas para a partida. No entanto, o jogo mais largo do Japão aproveitando a menos mobilidade adversária acabou por virar pouco depois a tendência, com Kotaro Matsushima a ser o jogador em evidência ao fazer três ensaios que foram determinantes para o triunfo dilatado dos visitados no encontro inaugural por 30-10.

Nascido em Pretória, na África do Sul, filho de pai do Zimbabué e mãe japonesa, Matsushima, de 26 anos, foi novo para terras nipónicas, acabando a escolaridade no liceu Toin Gakuen, em Yokohama. Entre os clubes que foi representando, sobretudo ainda como Sub-20, foi sondado para representar o país de nascimento mas acabou por optar pelo Japão, estreando-se em 2014 num jogo do Cinco Nações Asiáticas contra as Filipinas onde fez dois ensaios no triunfo por 99-10. Esta sexta-feira, o jogador que a nível de clubes representa os Sunwolves na liga japonesa tornou-se o primeiro do país a chegar aos três ensaios.