Ao contrário do que se passa por exemplo nos jogos do Mundial de futebol, o Campeonato do Mundo de râguebi no Japão não tem propriamente zonas muito densas nas bancadas de adeptos de uma determinada seleção. Há sempre um setor com mais camisolas iguais, como é normal, mas depois essas mesmas camisolas estão sobretudo distribuídas um pouco por todo o estádio. E foi esse pormenor que tornou o França-Argentina um encontro à parte ao longo de meia hora na segunda parte, altura em que a competição que arrancou esta sexta-feira em Tóquio ficou perto de assistir à primeira grande surpresa.

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No encontro de abertura do grupo C, que conta ainda com Inglaterra, Tonga e Estados Unidos, o conjunto europeu teve uma entrada a todo o gás e chegou com uma surpreendente facilidade ao intervalo na frente com uma vantagem de 17 pontos (20-3), fruto dos ensaios de Gaël Fickou e Antoine Dupont (com conversões de Romain Ntamack) e de mais duas penalidades atiradas aos postes com sucesso do mesmo Ntamack em menos de 25 minutos. Ansiosa, errática e até adormecida, o máximo que a equipa sul-americana conseguiu foi transformar uma grande penalidade por Nicolás Sánchez que inaugurou então o marcador.

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Após o descanso, tudo mudou. Os Pumas mostraram finalmente aquela alma argentina que promoveu a ascensão do país na modalidade nos últimos anos (e que deu, entre outros pontos assinaláveis, um quarto lugar no último Campeonato do Mundo disputado em Inglaterra, em 2015) e o ensaio logo a abrir de Guido Petti Pagadizábal, com conversão de Sánchez, alterou por completo o rumo do encontro. O milagre chegou mesmo a estar desenhado, com um ensaio de Julian Montoya e duas penalidades atiradas com sucesso de Benjamín Urdapilleta a colocarem pela primeira vez a Argentina na frente (21-20).

Nesta altura, só havia Argentina em Tóquio. Em campo e nas bancadas, com os adeptos sul-americanos a levantarem-se a partir do 20-15 para passarem cerca de 15 minutos em festa com cânticos que se iam unindo como pontos em vários setores e davam outro colorido a uma partida que correspondeu em pleno às expetativas criadas. Ainda assim, esse ânimo acabaria por arrefecer pouco mais de um minuto depois, quando Camille Lopez arriscou com sucesso um pontapé de ressalto que voltou a colocar os gauleses na liderança, resultado que se manteve até ao final… por uma questão de centímetros, com Emiliano Boffelli a arriscar uma penalidade quase do meio-campo em cima do minuto 80 que passou muito perto dos postes. No final a França ganhou e ainda houve alguma confusão entre jogadores no relvado mas a Argentina, ou pelo menos a versão da segunda parte, mostrou que pode ter uma palavra a dizer neste Mundial quando se passar a fase de grupos, tal como aconteceu em 2015.