A derrota do Sporting frente ao Alverca pode ter funcionado como um aviso para as equipas “grandes” mas Bruno Lage, num jogo carregado de simbologia por defrontar o Cova da Piedade que chegou a ser campeão distrital com o seu pai no comando, tinha uma estratégia fácil de perceber a nível de utilização ou não de jogadores que são de forma habitual titulares: além da rotação na baliza, com Zlobin no lugar de Vlachodimos, não chamou Rúben Dias, André Almeida, Rafa, Taarabt e Seferovic por terem jogado nas respetivas seleções ou por estarem ainda a recuperar de problemas físicos e apostou em elementos como Grimaldo, Ferro, Gabriel ou Pizzi que, estando ou não em representação dos seus países, não somaram qualquer minuto. A estratégia funcionou.
Benfica goleia Cova da Piedade com bis de Pizzi e Carlos Vinicius
Apesar de estar em campo um Cova da Piedade com jogadores interessantes e a recuperar após um início menos conseguido de temporada, o jogo praticamente não teve história. Aliás, a história que teve no seu presente foi sobretudo projetar o que pode ser o futuro. Entre a dupla de avançados mais cara de sempre dos encarnados a atuar em conjunto, Vinicius soube aproveitar a oportunidade para baixar ainda mais a média de um golo a cada 50 minutos jogados, ao passo que Raúl de Tomás ficou com o prémio de azarado da noite depois de mais um encontro onde não marcou apesar das tentativas e ainda abriu a cabeça em cima do intervalo.
Depois, houve Pizzi. RDT e Vinicius podem ter custado um total de 37 milhões de euros mas o médio voltou a mostrar que é um daqueles jogadores que não tem preço na atual estrutura do Benfica – vale mais do que isso. Mais: se a produção do conjunto encarnado caiu nos últimos jogos, mais não foi do que o simples acompanhar da prestação individual do jogador que cumpre a sexta época da Luz e que promete fazer ainda melhor do que na temporada passada (pelo menos os números para isso apontam). Se Pizzi não joga mais na Seleção ou não recebe mais prémios do mês no Campeonato, isso deve-se também a Bruno Fernandes, o amigo e rival do Sporting, mas aquilo que tem acontecido esta temporada é que o médio das águias ganhou o faro do golo do jogador leonino (naquela que foi a grande diferença entre ambos na última temporada, com 32-15 no duelo direto) e leva já um total de dez golos quando estamos ainda em outubro. Com isso, faz toda a diferença.
Ficha de jogo
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Cova da Piedade-Benfica, 0-4
3.ª eliminatória da Taça de Portugal
Estádio Municipal José Martins Vieira, na Cova da Piedade
Árbitro: António Nobre (AF Leiria)
Cova da Piedade: Tony; Junior Oto’o Zué, Marcão, Allef, Chico Chen; Marakis, Victor Massaia (Diarra, 56′), André Carvalhas; Vitinho, Liu Yuhao (Edinho, 62′) e Femi Balogun (Gustavo Souza, 46′)
Suplentes não utilizados: José Costa, Kakuba, Robson e Sami
Treinador: Jorge Casquilha
Benfica: Zlobin; Tomás Tavares, Jardel, Ferro, Grimaldo; Samaris (Florentino, 70′), Gabriel; Pizzi (Cervi, 74′), Caio Lucas (Gedson Fernandes, 66′); Raúl de Tomás e Carlos Vinícius
Suplentes não utilizados: Svilar, Nuno Tavares, David Tavares e Jota
Treinador: Bruno Lage
Golos: Pizzi (45+2′ e 49′) e Carlos Vinicius (63′ e 90+1′)
Ação disciplinar: cartão amarelo a Gabriel (87′)
Mesmo sem ter uma entrada dominadora capaz de tornar o jogo numa estrada de sentido único, o Benfica foi encontrando por cruzamentos e interseções os espaços que tinha dificuldade em encontrar perante a via fechada no corredor central do Cova da Piedade e foi assim que, no fecho do primeiro quarto de hora, já tinha duas boas oportunidades para inaugurar o marcador (sem querer ou por querer): primeiro foi Carlos Vinicius a ver a bola bater em si após um cruzamento de Raúl de Tomás mal travado por Tony Batista (5′); depois foi Pizzi a surgir isolado nas costas da defesa contrária a permitir uma grande intervenção do guarda-redes contrário (15′).
Vitinho, um canhoto brasileiro com ginga de artista que foi estrategicamente colocado por Jorge Casquilha na direita do ataque, ainda teve duas incursões que levaram pelo menos a equipa do Cova da Piedade até ao último terço e com cantos a favor, mas com o passar do tempo o Benfica conseguiu acertar melhor as zonas de pressão na primeira fase de construção e foi dessa forma que beneficiou de mais uma oportunidade flagrante por Carlos Vinicius, que roubou bem a bola numa zona adiantada mas, isolado, atirou ligeiramente ao lado (23′).
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De um flanco para o outro, os visitados deixaram de apostar tanto no corredor direito e deram-se bem com mais bola pela esquerda, com Femi a surgir entre Tomás Tavares e Jardel para criar algumas complicações para uma defesa encarnada que, mesmo cedendo alguns cantos, continuava sem deixar que Zlobin fizesse sequer a primeira intervenção do jogo. Na baliza contrária, Raúl de Tomás ganhou espaço na área para arriscar o cabeceamento mas a tentativa do espanhol acabou por sair à figura do brasileiro Tony Batista (33′), antes de Ferro aproveitar um livre lateral de Pizzi na direita para tentar também inaugurar o marcador mas sem sucesso (42′).
Tudo apontava para que o intervalo chegasse com o Benfica melhor mas sem conseguir marcar até que, no último minuto de dois descontos, Pizzi conseguiu mesmo marcar, na sequência de uma combinação com Carlos Vinicius ao primeiro toque que terminou com o remate do internacional português a ser ainda desviado por Tony Batista sem evitar o golo – e com Raúl de Tomás, que ainda foi tentar confirmar esse lance em cima da linha, a sair com uma ligadura na cabeça depois do embate com um defesa dos visitados (45+2′).
O Benfica marcou a fechar a primeira parte, o Benfica marcou a abrir a segunda parte, o Benfica acabou com o jogo muito antes dele acabar. Ou melhor, Pizzi em nome do Benfica: aproveitando uma defesa para a frente de Tony Batista após remate de Raúl de Tomás (numa jogada que começou em mais uma boa subida de Grimaldo), o médio encostou sozinho na área de pé esquerdo para o 2-0 que foi o golpe final na estratégia do Cova da Piedade, incapaz a partir daí de chegar sequer ao último terço do campo (49′). Pouco depois, o guarda-redes brasileiro voltou a travar uma tentativa do avançado espanhol mas nada podia fazer na oportunidade seguinte, quando Carlos Vinicius apanhou a bola no pé esquerdo na área e fez o 3-0 (63′), mantendo a média de bem menos de 90 minutos por casa golo apontado desde que chegou aos encarnados.
Tudo parecia apontar para um final de jogo tranquilo, que permitiu a Bruno Lage não só dar minutos a Gedson Fernandes (que teve um remate muito perigoso por cima da trave aos 86′) e a Franco Cervi mas ainda promover o regresso de Florentino Luís à competição após paragem por lesão no joelho. Ainda assim, Carlos Vinicius tinha ainda preparado mais um disparo para reforçar a tal média de golos, apontando o 4-0 já nos descontos naquele que foi o seu quarto golo nos encarnados com apenas 189 minutos em sete jogos. Num jogo com pouca ou nenhuma história, o brasileiro quis reforçar a sua história mas foi Pizzi que começou a escrever a mesma.