Em cada 100 casamentos, há 70 divórcios. Os números correspondem a 2013, mas refletem uma tendência em Portugal nos últimos anos, segundo o Pordata. Apesar de a decisão do casal em separar-se ser, normalmente, refletida, há sempre transtornos. Mais ainda quando há filhos. E por mais que os pais tentem que a sua decisão não se reflita no bem-estar das crianças, os filhos acabam por ser as principais vítimas da decisão dos pais. Mas cada idade sente esse corte de uma forma diferente.

Uma psicóloga espanhola, segundo o ABC, escreveu um livro onde tenta ajudar os pais que se estão a separar a agir de acordo com a idade dos seus filhos nesta fase tão difícil. O livro chama-se “Divórcio: como ajudarmos os nossos filhos? ” e é assinado por Cristina Noriega.

Até aos dois anos

A relação de confiança entre o bebé e os pais começa logo no dia do nascimento. Primeiro com a mãe, porque é ela a principal cuidadora uma vez que o amamenta e, pouco a pouco, com o pai e os restantes elementos da família. Pode, até, pensar-se que uma criança de dois anos não sente a separação dos pais. Mas sente. Segundo Cristina Noriega, apesar destas crianças não entenderem o que é um divórcio e o que isso representa, elas vão sentir a ausência do pai ou da mãe. E qualquer mudança no seu ambiente e na sua rotina poderá criar-lhes alguma angústia e refletir-se no humor, no sono e no apetite. A criança pode mesmo sentir que o pai ou a mãe, com quem deixará de estar com mais frequência, a abandonou.

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Conselho: É fundamental que a criança tenha contacto habitual com os progenitores. É fundamental que se mantenha confiante e que mantenha o mais possível a sua rotina diária.

Dos dois aos três anos

Falar, andar ou largar as fraldas são as duas grandes lutas de uma criança nesta faixa etária. Quando os pais de uma criança entre os dois e três anos decidem separar-se, estas pequenas conquistas podem sofrer alterações ou, mesmo, regressões. A tristeza de não ter os dois pais juntos como habitualmente pode manifestar-se em dificuldades motoras, na fala ou mesmo na necessidade de controlar-se para ir à casa de banho.

Conselho: Mostrar-se ao filho o que se quer e permitir o contacto com ambos os pais. Os pais devem também estabelecer limites, porque é possível que os filhos desta idade entrem em negação constante. Através de atividades, como jogos, também é possível perceber o que eles estão a sentir. Caso existam comportamentos regressivos na criança, como chupar no dedo ou não controlar a urina e as fezes, é importante que deixe que o seu próprio filho ganhe autonomia por si. Não o repreenda. Dê-lhe tempo para se controlar sozinho.

Dos três aos cinco anos

Muitas perguntas. Nesta idade, as crianças colocam muitas questões, têm uma imaginação enorme, contam muitas histórias. São também muito egocêntricas e tudo o que acontece à sua volta acham que tem uma ligação direta com elas próprias. Assim, se os pais se separam, estas crianças pensam que foi porque se portaram mal.

Por outro lado, esta é também uma etapa de grandes medos. É nesta altura que se desenvolve o complexo de Édipo, que segundo Freud faz com que os meninos ou as meninas desenvolvam alguns sentimentos mais possessivos em relação ao pai ou à mãe.

Conselho: Corrigir possíveis interpretações erradas sobre o que é o divórcio. E insistir que a culpa não é da criança e que nem a mãe nem o pai os vão abandonar.

Dos seis aos doze anos

Nesta fase as crianças estão mais concentradas na escola e na sua aprendizagem. Ao nível emocional deixam de ser tão egocêntricas e começam a ser mais sensíveis às suas e às emoções dos outros. Também têm uma maior capacidade para entender o que é o divórcio, embora não saibam expressá-lo. Ainda assim, acreditam sempre que os pais vão reconciliar-se e quando veem as suas expectativas saírem frustradas ficam tristes. Podem mesmo ter pesadelos e sentimentos de abandono.

Conselho: É importante manter contacto com a escola para informar da situação. Manter-se atento à evolução na aprendizagem escolar. Mais:  dizer aos seu filhos que os pais não os vão abandonar, mas também deixar claro que não ficarão juntos.

Adolescentes

Esta fase é complicada porque é a altura em que o jovem estrutura a sua própria identidade. Um divórcio nesta fase complica a construção da identidade do adolescente pelo que ele precisa sentir muita segurança. Os pais devem manter-se ao lado dos filhos e mostrar-lhes que há limites. Se o adolescente não se sentir seguro em casa, sentirá medo e insegurança. E há quem procure essa segurança em grupos com dependências. Muitos podem encontrar formas de exprimir a sua revolta através de distúrbios alimentares, consumo de substâncias, comportamentos sexuais de risco… Também é frequente que tenham comportamentos para forçarem que os seus pais se juntem e os protejam, como dores de cabeça ou de barriga.

Conselho: Explicar abertamente em que consiste o divórcio e implicar o filho em decisões como a da custódia partilhada. É preciso estar atento ao seu comportamento na escola, às notas, porque na maior parte das vezes é aqui que se sentem as consequência de um divórcio. Atenção, é importante não converter o filho num parceiro, num pai ou num confidente.