Falhou a forma como a equipa não conseguiu fazer a primeira pressão à frente. Falhou a forma como não se conseguiram estancar as transições rápidas contrárias. Falhou a forma como a equipa tentou ter a bola pelo corredor central. Falhou a forma como a defesa se posicionou em ação defensiva. Contra o Ajax, falhou um pouco de tudo ao Sporting, quase como se uma lei de Murphy viesse apadrinhar o regresso dos leões à Liga dos Campeões para fazer com que qualquer aspeto que pudesse correr mal fosse ainda pior, e havia um novo desafio pela frente nascido desse mesmo encontro: trabalhar para não falhar numa resposta que teria de ser imediata depois dos empates com Famalicão e FC Porto. Esse seria o jogo dentro do novo jogo.

Estoril-Sporting. Leões tentam recuperar da derrocada europeia frente à equipa sensação da Liga

“Doeu a toda a gente, aos jogadores, à equipa técnica, aos adeptos… A ilusão é sempre grande, eles confiam na equipa, fomos claramente de peito aberto e estamos sempre a aprender. Faz parte. Uma equipa que sente o jogo como nós não pode ter os dois lados da mesma moeda. Quando somos muito unidos estas pancadas sentem-se bastante mas é sempre possível dar a volta. Disse aos jogadores para verem o jogo sem som, para verem onde falharam… Eles viram, falámos sobre isso e nada mais do que isso. Foi um resultado muito mau e agora há que seguir em frente, o mais importante agora é o Campeonato”, destacara Rúben Amorim antes do encontro no Estoril, “sem receio” de eventuais efeitos que a derrocada pudesse causar.

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“Não sei qual vai ser a reação, foi uma pancada muito forte. Numa equipa que tem o espírito como a nossa é normal que se sinta no ambiente mas nada melhor do que um jogo. Podemos estar com todas as psicologias junto da equipa, mas o melhor é ir passo a posso, durante o treino… Mais do que preparar o Estoril, a preparação foi muito naquilo que temos de fazer e é isso que dá segurança aos jogadores. mostrar aos jogadores que somos uma excelente equipa e por que é que o somos. Quero que a equipa apresente a mesma identidade que tem tido, que sintam confiança no processo e nos primeiros momentos da semana vi que será assim. A equipa está preparada, tudo se esquece”, acrescentou ainda a esse propósito.

A chegada do treinador a Alvalade, em março de 2020, teve o condão de alterar várias realidades. Contas feitas, um ano e meio depois com a conquista de um Campeonato, uma Taça da Liga e uma Supertaça pelo meio, a equipa de Rúben Amorim e a forma como aliou aposta na formação, qualidade de jogo, consistência e resultados fechou muitas trincheiras de guerras internas abertas no clube. Acreditou no processo, nunca mudou o processo, fez do processo uma regra, fosse na ideia de jogo da equipa, fosse na composição de um plantel mais curto para ser mais competitivo. E era a isso que se voltava a agarrar na visita à Amoreira.

Pela frente, o Estoril. Pela classificação à quinta jornada na segunda posição era uma revelação nesta Liga, pela forma como jogava até à quinta jornada era a confirmação desta Liga – à semelhança do que já fazia com Bruno Pinheiro na última época, em que ganhou a Segunda Liga e foi às meias da Taça de Portugal, o conjunto da Linha mostrou como consegue controlar jogos e ferir adversários mesmo jogando num 4x3x3 que pelas dinâmicas que oferece perante a estratégia pretendia consegue encaixar bem nos adversários. E foi contra esta ideia que Amorim manteve o mesmo sistema tático (depois de ter aberto a porta a uma linha de quatro na defesa), poupando Feddal e apostando pela primeira vez em Sarabia de início.

O espanhol ainda não fez um grande jogo. Nem sequer foi bom. No entanto, quando a bola chega àquele pé esquerdo percebe-se de imediato que é um jogador acima da média, como se viu no passe para Paulinho que originou a grande penalidade do último golo. Um pouco mais atrás, na direita, esteve Pedro Porro. E o espanhol, que fala a mesma língua de Sarabia mas ainda não comunica como pode comunicar com o seu compatriota em campo, foi o melhor exemplo para um Sporting que respondeu da melhor forma num jogo onde a vitória era fundamental. Na entrega, na garra, na vontade, na qualidade com que subiu para criar ocasiões de finalização, na frieza com que marcou. Em forma, é o melhor lateral direito em Portugal e tem tudo para fazer uma ala de luxo made in Espanha naquela que pode ser uma chave no futuro.

O Sporting entrou numa postura “apaga Ajax” em campo. O que quis isto dizer? Muito mais posse, a fazer uma circulação segura para perceber o encontro, a ter uma boa reação à perda. Durante os dez minutos iniciais, ganhando cantos mas tendo dificuldades em entrar no último terço do Estoril, a equipa serenou em campo depois do descalabro diante dos neerlandeses tentando também perceber os posicionamentos sem bola dos visitados que faziam recuar Gamboa mas sem baixar em demasia as linhas com esse movimento. No entanto, a primeira ameaça real a uma das balizas voltou a intranquilizar os leões, com Adán a ter uma primeira defesa num desvio após canto ao primeiro poste antes de travar de novo a recarga (15′). Sem problemas para travar as transições dos canarinhos, o conjunto verde e branco facilitava na bola parada.

Com o Estoril a tirar a profundidade para os movimentos ofensivos que o Sporting tanto gosta e o vento a não aconselhar ao jogo com passes longos, os leões voltaram a recorrer à paciência para jogar pelo chão, fazer subir os centrais para criar desequilíbrios e colocar mais vezes os alas a jogar por dentro para os laterais darem largura às ações ofensivas. Foi assim que o conjunto verde e branco teve as suas melhores oportunidades, três em dez minutos: Paulinho atirou para grande defesa de Dani Figueira após um centro rasteiro de Porro (28′); o mesmo Paulinho encostou de cabeça após lance confuso no seguimento do canto mas Joãozinho conseguiu cortar em cima da linha (29′); e de novo Paulinho, após uma má saída da defesa estorilista, assistiu Nuno Santos mas Patrick William conseguiu ainda evitar o remate (37′).

O intervalo chegava sem golos e numa fase em que o Estoril voltara a equilibrar o encontro, muito por culpa da capacidade que Arthur tinha em esticar o jogo pela esquerda (bem mais do que Chiquinho, uma das revelações destas jornadas iniciais, pela direita). Proibido de perder pontos depois dos empates com Famalicão e FC Porto, o Sporting tinha começado a desbravar o caminho para furar a bem organizada estrutura defensiva dos canarinhos mas sem a consistência ofensiva que permitisse criar mais chances.

Mesmo sem substituições e com o vento contra (e como estava na Amoreira, isso não era só um pormenor), o Sporting entrou bem mais afirmativo no segundo tempo e acertou mesmo no poste logo a abrir, com Paulinho a descair na direita, a receber de forma orientada e a atirar em jeito de pé esquerdo com um desvio ainda que não daria hipóteses a Daniel Figueira (47′). Arthur era sempre uma seta apontada à baliza de Adán mas o campo tinha inclinado de vez, com o Estoril a perder capacidade de saída e Luís Neto a ter mais uma excelente chance para desfazer o nulo desviada por Soria para canto em cima da linha (60′).

O Sporting, que já tinha trocado Rúben Vinagre por Jovane Cabral para colocar Nuno Santos a fazer toda a ala esquerda, começava a ter caudal ofensivo que justificava a vantagem, jogava para estar em vantagem mas beneficiou de um erro para alcançar essa vantagem: na sequência de um passe longo tenso de Sarabia a explorar a profundidade de Paulinho, Dani Figueira falhou o corte e acabou por atingir Paulinho na área para uma grande penalidade convertida de forma superior pelo lateral Pedro Porro, um estreantes nestas andanças dos castigos máximos que marcou o quinto golo pelos leões, primeiro esta época (67′).

O encontro iria ganhar outras características, com Bruno Pinheiro a mexer nas alas (entraram Xavier e Bruno Lourenço) e no corredor central (com Romário Baró e Francisco Geraldes), havendo um Estoril mais capaz de arriscar nas saídas ofensivas e o Sporting a baixar linhas tendo sempre em vista as transições que pudessem “matar” de vez um encontro fundamental pelo contexto em que chegava no calendário verde e branco. No entanto, os minutos foram passando sem golos nem oportunidades de muito perigo a não ser um desvio de Bruno Lourenço ao segundo poste que Adán agarrou sem problemas (80′) e um remate de longe de João Palhinha já nos descontos para defesa de Dani Figueira (90+3′). Num dos campos mais difíceis da Primeira Liga, o Sporting festejava uma vitória que valia mais do que três pontos.