Há quem diga que em equipa que ganha não se mexe. Numa equipa que ganha 5-0, à primeira vista, muito menos haverá a mexer. Mas o onze inicial apresentado por Sérgio Conceição no último fim de semana, na vitória por 5-0, frente ao Moreirense no Estádio do Dragão, não foi o mesmo desta sexta-feira em Barcelos. Tratou-se de um encontro em que pela primeira vez os dragões apresentaram de início quatro atletas que ganharam uma UEFA Youth League pelo clube. E a resposta, principalmente na segunda parte, dificilmente seria melhor por parte de Diogo Costa, João Mário, Fábio Vieira e Vitinha.

Se Diogo Costa, no lugar do lesionado Marchesin, e João Mário, na lateral direita da defesa, já haviam sido apostas, Fábio Vieira e Vitinha apareceram de início na ressaca de um empate sem golos no Wanda Metropolitano, frente ao Atlético Madrid, para a Liga dos Campeões, num jogo que, diga-se o que se disser, seria sempre e foi, de extrema exigência para os dragões. O atual campeão espanhol é uma equipa sempre intensa, como tem sido desde que Diego Simeone chegou, e os jogos a cada três ou quatro dias deixam mossa. Daí que as alterações do técnico azul e branco frente ao Moreirense não tenham surpreendido, com resultados práticos, visto que além do bom jogo de Vitinha, Fábio Vieira fez um hat trick de assistências.

Depois do encontro, como é seu hábito, Sérgio Conceição disse que o mais importante era “acreditar no grupo e todos os que estão à disposição”. “Isso é que é importante, temos um grupo que é competitivo, mas não só. O nosso trabalho diário é essencial. Há uma disputa grande que cada um tem e dá para discutir o seu lugar, depois cabe-me a mim escolher”, referiu, mas deixando algumas frases sobre as entradas de Vitinha e Fábio Vieira: “Era importante ter essa mobilidade, não dar referencias à possível linha de cinco que não se confirmou no Moreirense. Foi isso que procurei, com gente capaz de dar ao jogo situações diferentes. O Fábio Vieira naquela posição era uma das possíveis opções para jogar com Taremi. Também achei que o Vitinha tinha características importantes para o jogo de hoje. O João Mário também permitiu refrescar o corredor direito. Olhamos para a equipa e os jogadores que jogam em cada uma das posições dão o seu melhor”.

Ora, esta sexta-feira, no terreno do Gil Vicente, João Mário ficou no banco, entrando Corona para a lateral direita da defesa, mas Vitinha e Fábio Vieira mantiveram-se no onze. Porque não vão jogar a meio da semana com o Liverpool? Porque estiveram bem frente ao Moreirense e durante a semana? Ambos? Apenas no jogo com os ingleses será possível esclarecer. Mas na antevisão ao jogo de Barcelos, Conceição mostrou-se orgulhoso “por ter jogadores que atingem patamares elevados”. “A equipa e o clube ganham com isso, mas esse é o meu trabalho, fazê-los crescer. É a minha obrigação”, disse ainda. E, desta vez, questionado sobre Fábio Vieira, individualizou: “Quando o vemos ganhar essa atitude e comportamento, que não tem a ver só com o treino em si… Todo esse trabalho e comportamento no fundo é invisível, e quando consigo incutir nos jogadores princípios fundamentais para o sucesso fico extremamente orgulhoso. Muitas coisas não têm a ver com o campo”.

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Falando em campo, quando Artur Soares Dias apitou para o início do encontro no Estádio Cidade de Barcelos, para o jogo que Sérgio Conceição definiu como “uma das deslocações mais difíceis do campeonato”, foi a equipa de casa que quase fez golo no primeiro minuto, quando uma diagonal da direita para o meio de Murilo acabou com um remate do jogador gilista que passou mesmo muito perto do poste de Diogo Costa. Com a equipa de Ricardo Soares bem montada, num 4x4x2 a defender e um 4x3x3 a atacar, o FC Porto acabou, sem surpresas, por assumir a bola. Ainda antes dos 10′ surgiria o golo portista mas não de ataque rápido ou organizado, mas sim… de perto do meio-campo. Pedrinho, do Gil Vicente, quis atrasar a bola para Lucas, central, que demorou a fazer-se ao esférico e foi ainda contrariado por Taremi, muito incisivo como primeiro defesa que é. O iraniano tocou a bola e, ao ver o guarda-redes Frelih adiantado, fez um “chapéu”, um golaço poucos metros depois do meio-campo. Dragões estavam a assentar jogo e já ganhavam.

Com o 2-0 a poder surgir pouco depois, novamente por Taremi, mas também por Fábio Vieira, acabou por ser o Gil Vicente, que sempre se mostrou animado, a chegar ao empate através de uma grande penalidade, mas apenas na recarga. Após mão na bola de Mbemba (o VAR avisou Artur Soares Dias que foi ver as imagens), Samuel Lino, chamado a converter, ainda viu Diogo Costa defender o penálti, mas, mais perto do que todos os outros, reagiu e fez golo à segunda, para desespero do guarda-redes do FC Porto que, ao fim ao cabo, defendeu efetivamente um remate da marca dos 11 metros. Ainda antes do golo da sua equipa, o treinador dos gilistas, Ricardo Soares, viu cartão vermelho e foi expulso.

O golo do Gil Vicente foi a meio da primeira parte e, até ao fim desta, não existiram mais lances de perigo, não só por demérito do favorito e obrigado de responsabilidade do FC Porto, que acabava por ter uma posse de bola algo infértil, mas também porque o Gil, que não vencia há quatro jogos para a I Liga, estava a conseguir aguentar bem um tipo e ritmo de jogo que lhe convinha. Ao intervalo, com um empate, saltava à vista que faltava alguma influência de Luis Díaz e Otávio, como têm protagonizado noutros jogos, ou mesmo de um novo bom jogo de Vitinha ou Fábio Vieira. Isto não quer dizer que os jogadores se estivessem a esconder, apenas que as coisas não estavam a sair.

Depois, conforme os minutos da segunda parte se iam seguindo, mais domínio tinha o FC Porto no encontro e menos Gil Vicente, sobretudo se comparado com o da primeira parte, que ainda mostrou querer, com cuidado, tratar de si e da bola. Com alguma lógica, os dragões criaram dois lances de perigo, um por Otávio, que picou a bola por cima da baliza à saída de Frelih, o mesmo guarda-redes que fez uma excelente defesa a cabeceamento de Uribe. Por falar no colombiano, o meio-campo de Sérgio Conceição parece mesmo “rodar” em torno dele, visto ter ficado em campo quando, por volta dos 20′ da segunda parte, saíram os jovens Vitinha e Fábio Vieira para a entrada de Sérgio Oliveira para o meio-campo e ainda de Toni Martínez para fazer um par mais direto com Taremi.

Ricardo Soares (da bancada) também mexia algumas peças, mas sem nunca descaracterizar a sua estrutura ofensiva e defensiva, com o primeiro ataque digno desse nome do Gil Vicente a surgir já para lá dos 70 minutos, com alguns passes já para lá do meio campo ofensivo e um cruzamento com relativo perigo para a área de Diogo Costa, mero espectador do encontro até então. Aos 79′, Leautey rematou também por cima da baliza do jovem guarda-redes português e, numa altura em que o Gil parecia descer no campo para aguentar, conseguiu soltar um par de ataques. O jogo acabou por ficar relativamente partido, não sendo claro se, principalmente para quem o empate era saboroso, isto era positivo.

Mas, apesar desta dúvida, não foi por aí que o Gil Vicente acabou, mesmo em cima do final, por perder o jogo… Numa bola parada marcada de forma irrepreensível, Sérgio Oliveira (que entrou muito bem no encontro) fez o 2-1 aos 89′, concretizando em golos um domínio que, mesmo que não asfixiante a nível de ocasiões, justifica a conquista dos três pontos por parte dos dragões, que podem agora respirar um pouco mas sem grandes distrações, porque o Liverpool está já aí, terça-feira, no Estádio do Dragão.