A mala está arrumada, as férias marcadas há meses e, de repente, a eventual saída da Grécia da moeda europeia levanta uma série de questões: levar dinheiro vivo que cubra todos os gastos das férias ou levantar no destino? Pagar com cartão de crédito ou adiar a viagem? E se o dracma voltar mesmo a circular, por quanto tempo é que as lojas aceitarão o euro?

O impasse sobre as reformas da Grécia e o pagamento ou não da dívida à União Europeia continua a desenrolar-se sem um aparente fim à vista, o que tem contribuído para o decréscimo de turistas portugueses a escolher este destino. “No ano passado, tínhamos muito mais pessoas a reservar para lá. Este ano, para o Verão todo, só temos seis viagens marcadas. Todas para as ilhas Gregas”, revela Ana Rita Santos da Agência Best Travel, em Alvalade, Lisboa. No entanto, sem revelar números, a Associação Portuguesa das Agências de Viagem e Turismo (APAVT) apurou “que as vendas estão, até ao momento, ao mesmo nível do ano passado”.

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Se a Grécia sair do euro, o país sofrerá mudanças profundas não só a nível económico, como social. E se o clima é de tensão entre os credores europeus e o governo grego, a agitação social – tradicional em Atenas – está ao virar da esquina. Se a dívida grega não for paga, o país terá de imprimir moeda, o que pode levar a uma rápida subida dos preços.

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Nesse cenário, até a nacionalização dos bancos é possível. O governo pode recorrer a um controlo de capitais para minimizar a corrida às instituições bancárias e a saída de dinheiro do país, enquanto a nova moeda não estiver estabilizada.

Este foi o receio de um dos clientes de Ana Rita Santos que pediu mesmo para desmarcar a viagem: “Queria cancelar porque achava que não ia conseguir levantar dinheiro”, conta a agente. Acabou por partir, porque grande parte dos pacotes vendidos em agências de viagens já englobam os gastos básicos: “Aconselhámos a levar dinheiro em mão, mas não demasiado, porque a maior parte das pessoas já vai com serviços contratados e não precisa de gastar muito”, explica Ana Rita Santos.

Outro problema: se a saída da zona euro se confirmasse, a Grécia voltaria ao dracma. Mas uma alteração da moeda não é feita de um dia para o outro e, de acordo com as estimativas do Post Office Travel Money, a estabilidade da circulação da antiga moeda grega pode demorar até 18 meses. Enquanto isso, o euro continuará a ser utilizado como alternativa. O lado bom da moeda? As férias na Grécia poderiam sair bastante mais baratas.

E os cartões de crédito? Podem ser recusados? Rui Faria de Oliveira, da Associação Nacional dos Operadores de Cartões Visa, explica que “desde que os bancos cumpram os estatutos e regulamentos”, não há razão para que os cartões de crédito não sejam aceites, já que “o visa é mundial e o sistema de processamento estará a funcionar.” Da mesma forma, numa eventual alteração da moeda “a adaptação dos sistemas de conversão” está salvaguardada. A única razão para os cartões de crédito não serem aceites é em caso de falência dos bancos.

Declarar dinheiro à entrada ou levantar no multibanco?

De uma forma ou de outra, o melhor é ter sempre dinheiro vivo no bolso. Na primavera de 2013 não era fácil levantar dinheiro nas caixas multibanco, recorda o Post Office Travel Money. Os turistas britânicos estarão mesmo a ser alertados para viajarem com dinheiro, porque as máquinas podem ser desligadas em caso de não haver acordo, mas em Portugal “não há ainda nenhuma recomendação em particular”, revela fonte da APAVT.

Mas atenção: se a ideia é levar todo o dinheiro para as férias em notas, o melhor é declará-lo quando chegar ao país, porque a falta de informação sobre entradas de dinheiro pode significar a sua retenção nas fronteiras na altura do regresso. Num cenário de controlo de capitais, a saída de dinheiro pode passar a ser fiscalizada (e travada, para lá de certo limite) nas fronteiras e, ao declarar o dinheiro, a quantia que restar das férias fica salvaguardada.

Agitação social

Um dos maiores receios dos turistas pode ser o da agitação social – mas mesmo no pior cenário isso deve acontecer sobretudo em Atenas. Nas ilhas gregas, para onde viaja a maior parte das pessoas, a calma parece permanecer. De qualquer forma, ressalva Ana Rita Santos, da Best Travel, “salvaguardamos o regresso dos passageiros, porque os voos são contratados e não de carreira, o que significa que os aviões estão destinados só e apenas para aquelas pessoas”. Mas, acrescenta a APAVT “é um destino com oferta algo limitada em termos de viagens organizadas”.