No meio da negociação do terceiro resgate à Grécia, a escolha de um novo presidente do Eurogrupo tem passado despercebida. Mas não nos bastidores da política europeia. O duelo é entre o atual presidente, Jeroen Dijsselbloem, o ministro holandês que já afirmou a sua disponibilidade para se manter no cargo, e Luis de Guindos, ministro espanhol com ambição de chegar a um cargo de topo na UE. A decisão deverá ser tomada já esta segunda-feira na reunião do Eurogrupo, a não ser que Atenas se atravesse no caminho dos trabalhos programados.

A campanha de Guindos começou há mais de um ano e Mariano Rajoy parece determinado a conseguir um lugar de destaque para Espanha no leque de principais cargos nas instituições europeias – a França tem Pierre Moscovici como comissário forte do euro, a Itália tem a representação externa com Federica Mogherini, a Alemanha tem Schulz como presidente do Parlamento Europeu – e tem-se batido por isso. O seu apoio de peso é Angela Merkel, que foi dizendo que o espanhol foi “um ótimo ministro em tempos difíceis”. Mais: proveniente de um país que recebeu um resgate – embora para o setor bancário -, Guindos é visto como alguém que estaria numa posição melhor para negociar com países como a Grécia ou Chipre.

Mário David, antigo eurodeputado do PSD e recentemente eleito vice-presidente da IDC – que agrega vários partidos de centro-direita em todo o mundo -, diz que este seria o candidato “ideal” para Portugal no Eurogrupo. “Temos uma grande colaboração com Espanha e estou convencido que receberá o apoio de Portugal e será o novo presidente. Estranharia se não fosse”, adiantou ao Observador. O problema da eleição Guindos pode é prender-se com a distribuição partidária de lugares na cúpula do poder europeu. “Sendo do centro-direita, terá de haver uma nova organização de alguns cargos, já que Dijsselbloem é socialista e equilibra os maiores partidos em Bruxelas”, aponta Paulo Rangel.

O mandato do holandês Jeroen Dijsselbloem – o mandato neste cargo tem a duração de dois anos e meio – ficou negativamente marcado pela sua atuação durante a crise de Chipre, em que começou por dizer que o controlo de capitais e a segurança dos depósitos bancários eram “um modelo” para outros resgates, agitando os mercados e sendo obrigado a corrigir essa afirmação pouco tempo depois, dizendo que Chipre era afinal “um caso específico com desafios excecionais”. Para além disto e de uma polémica com o seu currículo – onde dizia ter feito um mestrado que não existia -, a trajetória do holandês tem sido vista de forma positiva. A mudança na liderança das reuniões dos ministros das Finanças da moeda única, depois de Duncker, nomeadamente a organização, duração e eficácia é apreciada pelos parceiros europeus.

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Ao seu lado, a Holanda terá países nórdicos e do centro da Europa, favoráveis a uma linha mais dura nas negociações com países sob resgate. Um teste entre os dois candidatos foi a última semana. Depois da vitória do não na Grécia, Guindos disse que o país tinha “todo o direito em fazer esta consulta” apesar de o não “dificultar” as negociações, enquanto o atual presidente do Eurogrupo disse que o resultado era “lamentável para o futuro da Grécia”.

Uma eleição com os dias contados?

Independentemente do resultado da votação ou mesmo que esta seja adiada para setembro, quando a questão grega estará em princípio estabilizada, há mudanças de fundo previstas para a liderança do Eurogrupo, entre elas que o presidente passe a ser fixo e não um dos ministros das Finanças da zona euro. O Observador sabe que esta tem sido uma das maiores queixas de Mario Draghi junto dos líderes dos países da moeda única, já que o presidente do Banco Central Europeu não tem um interlocutor fixo e apenas dedicado aos problemas da zona euro.

No caso de ter sido necessária uma mudança abrupta dos tratados, como poderia ter acontecido este domingo se fosse preciso preparar a saída do euro da Grécia, talvez pudesse envolver já esta alteração. Como isso para já não aconteceu, o reforço do papel do presidente do Eurogrupo fica para já adiado, mas está no horizonte próximo de Bruxelas – o funcionamento do Eurogrupo está regulado no Tratado de Lisboa. “A próxima revisão vai seguramente nesse sentido, já que há necessidade de institucionalizar mais o papel do Eurogrupo na arquitetura europeia”, defende Mário David.

Esta foi aliás uma das medidas defendidas por Passos Coelho no documento enviado a Bruxelas e apresentado pelo primeiro-ministro aos parceiros europeus no final de maio. Mas a aposta de Portugal nesta medida prende-se também com a esperança que caso haja alterações neste cargo, a ministra Maria Luís Albuquerque possa ser uma das figuras a considerar, já que o seu ascendente no seio do Partido Popular Europeu e dos seus parceiros do Eurogrupo, tem vindo a crescer. A ministra portuguesa foi até considerada pelo Financial Times como uma possível sucessora de Dijsselbloem no caso de Guindos falhar a eleição.

Até à publicação deste artigo, o Observador não conseguiu apurar se a votação sobre a presidência do Eurogrupo será votada esta segunda-feira devido à agenda da Grécia. O Observador também tentou apurar a posição oficial de Portugal neste eleição, mas sem sucesso.