A Agência Mundial Antidoping (AMA) diz que está “muito alarmada” com as novas denúncias do uso generalizado de substâncias proibidas no atletismo internacional, divulgadas no documentário sobre doping, o “Doping – Top Secret: O mundo sombrio do Atletismo”, que passou no sábado na estação pública alemã ARD.

“A Agência Mundial Antidoping (AMA) está muito preocupada com as novas alegações levantadas pela ARD, que mais uma vez vai lançar dúvidas sobre a integridade de atletas a nível mundial”, disse Craig Reedie, presidente da AMA.

O documentário lança novos ataques contra a Rússia, que já tinham sido denunciados numa reportagem anterior, mas também ao Quénia. Reedie disse aos jornalistas em Kuala Lumpur, Malásia, que a investigação que já está a decorrer sobre doping na Rússia vai ser alargada para averiguar as alegações do documentário da ARD.

A AMA e o Sunday Times tiveram acesso ao resultado de 12 mil análises de 5 mil atletas, diz a BBC. Os dois especialistas em doping contratados pela televisão, Robin Parisotto e Michael Ashende, concluíram que um terço das medalhas ganhas em campeonatos mundiais e jogos olímpicos entre 2001 e 2012 pertencem a atletas que tiveram resultados suspeitos nos testes. Dos 146 atletas com medalhas ganhas, 55 tinham arrecadado medalhas de ouro.

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Mais de 800 atletas têm registos de análises descritas por serem “altamente suspeitas de doping ou, pelo menos, muito anormais”. A campeã olímpica Jessica Ennis-Hill chegou mesmo a perder em eventos de grande dimensão contra atletas que estão agora sob suspeita.

Mais: dez dos atletas com medalhas ganhas nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, têm análise com resultados dúbios. A Rússia é o país no centro das suspeitas de doping, com mais de 80% de medalhas ganhas por atletas sob suspeita. O Quénia tem 18 medalhas que pertencem a atletas com resultados suspeitos. Atletas como o britânico Mo Farah e o jamaicano Usain Bolt não apresentaram resultados suspeitos.

A Federação Internacional de Associações de Atletismo (IAAF, na igla em inglês) já reagiu à reportagem e mostrou-se indignada com o uso de informação confidencial. “[As alegações] são principalmente baseadas na base de dados da IAAF com dados médicos privados e confidenciais obtidos sem consentimento”, lê-se no comunicado. A IAAF encontra-se a preparar uma resposta para os dois órgãos de comunicação que divulgaram os dados – a estação pública alemã ARD e o jornal Sunday Times – e reserva a possibilidade de tomar medidas que protejam os atletas.

No final de dezembro de 2014, a AMA levou cerca de 3.000 amostras de atletas russos para analisar nos laboratórios de Colónia, na sequência da investigação sobre práticas de doping na Rússia, denunciadas pela televisão germânica ARD.

As duas reportagens emitidas no início desse mês pela ARD denunciaram práticas sistemáticas de doping no atletismo russo, assim como alegada corrupção.

As práticas ilegais incluiriam o tesoureiro da Federação Internacional de Atletismo (IAAF) e presidente da Federação Russa de Atletismo, Valentin Balakhnichev, que teria colaborado na ocultação de casos de doping a troca de dinheiro.

Segundo a TSF, o ministro russo do Desporto já rejeitou as acusações de doping que envolvem atletas daquele país, acrescentando que é uma estratégia para denegrir a modalidade e que até pode estar relacionada com a proximidade das eleições para a presidência da Federação Internacional de Associações de Atletismo.

Atualizado às 18h30