A campanha já aí está. E mesmo sem dotes de adivinho, há coisas que já sabemos que vão acontecer. Vai uma aposta?

  • Políticos em poses estranhas nas fotografias

É um clássico. Desde fatos de plástico em visitas a fábricas a posições de equilibrismo. Desde lábios esticados prontos para o beijinho a subidas ao tejadilho de carros de campanha. Acontece com todos da esquerda à direita. E não pense que é mau. Faz parte da campanha e os fotógrafos são exímios a apanhar ‘aquele’ momento.

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  • Todos furiosos com o futebol mas ninguém ousa criticar

Pela primeira vez, vai haver jogos de futebol da primeira liga no dia de eleições. Sabe quem joga? O Benfica, o Sporting, o Porto e o Braga, sim, todos estes. Os partidos não gostaram nada da ideia, Ouviu alguma crítica? Não, apenas o Presidente da República disse ter ficado “surpreendido”. Em altura de campanha, ninguém se atreve a falar de futebol e muito menos a dizer mal de algum clube. Entre dentes, vão lembrando as isenções fiscais que os clubes vão tendo e a pressão que fazem sobre os partidos quando lhes convém. Mas não espere que isso passe cá para fora.

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  • “Não pode haver chuva na eira e sol no nabal”

Este é um provérbio bem conhecido na boca de Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, que, aliás, é “useiro e vezeiro” em expressões populares. Não há campanha sem os sound bytes do líder comunista que entram direitinho nos ouvidos dos eleitores. Mas aquilo que era uma marca de Jerónimo começou a ser apropriada por outros políticos e, às vezes, PCP e CDS chegam mesmo a aproximar-se. Quem tem repetido nos últimos dias “Mais vale um pássaro na mão do que dois a voar”?

  • Dores nas costas

Pois é. Não há campanha, sem que os candidatos acabem o dia todos tortos de tanto se baixarem para dar beijinhos e de tanto serem agarrados por potenciais eleitoras (ou talvez não, apenas senhoras que gostam de cumprimentar políticos). O mais provável é que Passos venha a sofrer mais do que Costa por ser mais alto. Mas não se pense que a culpa é das eleitoras. É frequente haver homens a dar palmadas nas costas aos candidatos que até os fazem soltar um ai. É vida, como diria Guterres. Candidato que se preze não pode recusar um cumprimento.

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  • Redes sociais inundadas com fotos que transpiram otimismo mesmo que o dia não tenha sido bom

Isso já começa a acontecer. No dia em que Passos e Portas foram surpreendidos pelas manifestações dos lesados do BES em Braga, o Facebook da coligação Portugal à Frente tinha várias fotografias que irradiavam um dia de campanha tranquilo e animado. Quem disse que a vida virtual nas redes sociais é a versão positiva da vida real tinha razão. costacostas passosportas

  • Manifestações dos lesados do BES

Já começaram as manifestações e vão continuar. Os lesados do BES prometem voltar à carga dentro do período oficial de campanha. Passos e Portas apelaram a tréguas durante estes 15 dias, alegando que há regras em democracia e que se deve respeitar os dias dedicados apenas à campanha eleitoral. Mas não devem ser atendidos.

  • Candidatos em excesso de velocidade

120 km/hora é coisa que as comitivas das candidaturas desconhecem. Ganha um prémio quem respeitar os limites de velocidade. Já aconteceu os candidatos serem multados pela polícia mas na grande maioria das vezes há um certo desconto pela parte das autoridades. Tanto o PS como a coligação tem várias ações de campanha por dia e, olhando para a agenda, é impossível que compareçam em todas elas sem umas infrações à lei.

  • Políticos que sabem melhor quanto custam as medidas dos adversários do que as suas

A guerra dos números já começou. E parece que cada adversário é mais especialista a desmontar as contas dos outros do que em explicar os seus próprios cálculos. Costa não sabe como cortar 1.020 milhões nas pensões não-contributivas. Portas tem a certeza que as nacionalizações propostas pela CDU custam 28 mil milhões de euros. Vamos continuar a seguir esta guerra com atenção.

  • Emprego, emprego, emprego

A palavra mais vezes repetida na campanha quer pelos partidos do Governo, que garantem que agora é que é e que o emprego está a aumentar, quer pelos partidos de esquerda, que questionam como foi possível a destruição de postos de trabalho e garantem lutar por mais emprego para os que cá estão e para os que optaram por emigrar.

  • Críticas à cobertura da campanha pela comunicação social

Queixas sobre as sondagens. Queixas sobre a pouca atenção dada a alguns candidatos (nomeadamente, os pequenos partidos). Queixas (mais subtis) até sobre a escolha das fotografias. Sim, vai haver. O tom, esse, depende do partido. Jerónimo de Sousa, líder do PCP, por exemplo, já criticou os “cangalheiros” que querem, a seu ver, enterrar a CDU.

  • Portas de boné

Boné, chapéu, boina. Vai haver de tudo. O líder do CDS, Paulo Portas, já nos habituou ao seu estilo – o estilo de adotar vários estilos consoante o eleitorado a que se dirige. A tendência já se espalhou aos dirigentes do CDS e até a ministra da Agricultura Assunção Cristas lhe segue o exemplo. Veremos quais vão ser os novos modelos desta estação.

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  • Vão ser todos muito compreensivos

Na volta pelo país, o contacto com as pessoas vai ser diário. Os candidatos têm que estar preparados para o diálogo e, perante os problemas ou dramas pessoais que de certeza serão relatados, vai ser certo que ouviremos vários “compreendo”, “estou a ver”, “não me esquecerei”.

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  • Políticos a dizerem que não fazem ataques pessoais e a usar palavras como “mentiroso”

Todos os ataques são políticos e não são pessoais. Mas vai haver lugar para tudo. Principalmente, no ataque ao atual Governo de Passos e Portas – que mentiram aos portugueses, que enganaram, que prometeram e não cumpriram, que nada do que dizem é verdade, que inventam, deturpam, manipulam. O Bloco de Esquerda tem sido o mais direto e o que usa palavras mais duras.

  • Frases iguais às ouvidas em 1975

Depois da manifestação dos lesados do BES em Braga, Paulo Portas levou-nos de volta a 1975. “São uns nossos velhos conhecidos”, disse, referindo-se aos partidos de extrema-esquerda e aludindo ao cerco do CDS em 1975. É recorrente no discurso do CDS a invocação dos primeiros anos de democracia em momentos de tensão em campanha.

  • Ninguém quer dar a mão a ninguém 

Com os olhos postos na maioria absoluta, a coligação e o PS vão apelar ao voto útil. Coligações nem pensar, cenários de maioria relativa são para esquecer. A estratégia é dramatizar e fazer um apelo do “ou nós ou o caos”. Depois de dia 4 de outubro, logo se vê se será preciso dialogar.

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