Os graúdos sabem bem o papel que o “Lápis Azul” teve na ditadura portuguesa. Para os mais jovens, saibam que era o instrumento para censurar qualquer texto, desenho ou imagem que seriam conteúdo impróprio para publicação na imprensa.

Infelizmente, a censura está viva e de boa saúde, e embora as novas tecnologias tenham agilizado a transmissão de informação e feito com que fosse mais fácil que nunca difundir verdades, também surgem novos meios de censurar informação não considerada digna.

Os apoios pelo estado dados à comunicação social alertaram-me para a influência que o Estado terá ou não na comunicação social portuguesa, e como curioso que sou não consegui deixar de pensar no que acontecerá nos media digitais, em especial em países ainda notoriamente fechados.

Levei então a cabo uma investigação incidindo sobre o lápis azul digital em dois tons de vermelho berrante: o tom norte-coreano e o tom chinês.

Deixe-me então, caro leitor, levá-lo no tour pela Internet destes dois países, começando pelo mais simples de abordar: a Coreia do Norte tem menos de 30 websites e a censura norte-coreana é simples, quase nada passa.

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Visitar a Internet norte-coreana é uma tarefa difícil, mas os poucos que conseguem são fracamente recompensados.

Existem menos de trinta websites, sendo que são todos tecnologicamente rudimentares e, muitos deles, inacessíveis.

Claro que muitos desses 30 serão reservados a pessoas especiais, com a autorização especial para se aventurarem um pouco mais longe… mas não muito!

Um dos websites mais populares trata, como é óbvio, da agenda do Líder Supremo, sendo que o segundo website mais visitado é o site de turismo, que revela a propaganda de cada hotspot turístico.

Todas as páginas têm algum grau de propaganda, mas desengane-se quem pensa que a juventude não tem lugar na Internet norte-coreana. Estes podem deliciar-se com o website da cultura, que trata de filmes e receitas da Coreia do Norte.

Toda a Internet está banida da Intranet que é a “Internet” Coreana.

Tudo é administrado por Pyongyang e os sortudos que conseguem fugir do país referem como, mesmo eles que fugiram do país já insatisfeitos o suficiente para arriscar a vida, não sabiam quão maléfico era o governo até conseguirem vê-lo de fora.

Isto atesta ao poder subversivo dos media controlados e censurados pelo estado, especialmente quando são meios “sem cara” como o meio digital.

O caso chinês já não é rudimentar, mas altamente sofisticado. O seu tom é de um vermelho high-tech e o governo chinês até lhe deu nome: que o resto do mundo designa como “A Grande Firewall da China”, o governo chinês nomeou Projecto Escudo Dourado (金盾工程, jīndùn gōngchéng).

Sejamos francos, este escudo dourado trata-se de um projecto de censura, controlo de informação e vigilância populacional.

Em território chinês tudo o que é da Google se encontra banido.

O Instagram, Facebook e todas as aplicações que estamos habituados a ver Internacionalmente são uma miragem que os jovens chineses nem sonham que existe, e os mais aventureiros procuram VPNs (software ilegal na China) de confiança para aceder ao mundo Ocidental secreto.

Não há YouTube, há Youku. As pessoas adicionam-se como amigos no Renren e fazem o update do seu estado no Sina Weibu, após concluirem várias pesquisas no popular motor de busca Baidu.

Pensemos no impacto que a informação obtida na Internet tem no nosso dia-a-dia, e agora pensemos que toda essa informação é apenas aquela que o estado escolheu a dedo para nos fornecer.

Agora pensemos também no impacto a longo-prazo que isso teria na população e nas próprias miopias de pensamento que traria.

É por isso que é necessária a livre circulação de informação, e uma Internet liberal com pouca intervenção do estado, ágil e imparcial.

A pluralidade de opiniões cria o tom mais bonito de todos, o tom daqueles que têm a liberdade de escolher quem ouvir ou quem ignorar.

O que desejo como jovem e como homem livre, é que continuemos a achar interessantes e ridículos exemplos como os da China e Coreia do Norte, porque alguns movimentos recentes com o intuito de “moderar e regulamentar” o discurso na internet têm sido preocupantes, e eu gosto da minha internet como do meu café – puro e pouco filtrado.