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TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

9 opiniões rápidas sobre o Congresso de Rui Rio

As opiniões de José Manuel Fernandes, Helena Matos, Jorge Fernandes, João Marques de Almeida, Alexandre Homem Cristo, André Azevedo Alves, André Abrantes Amaral, Miguel Pinheiro e Rui Pedro Antunes

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José Manuel Fernandes. Rio pode ganhar as eleições, não o país

Há cada vez mais sinais de que do lado do PS e do Governo o desnorte é muito, mas mesmo muito grande. Parece até que já dão a derrota como certa...

A resiliência de Rui Rio pode estar quase a dar resultado. O país dá sinais de estar cansado da governação socialista, está cansado da arrogância do PS, está cansado de Cabritas e outros que tais, está cansado de um partido que também lhe deu Pinho e outros que tais, para além de que não lhe resolve problemas básicos – como marcar uma consulta ou renovar o cartão de cidadão. E se o país dá esses sinais de cansaço, Rio conseguiu o seu objectivo: está no lugar certo à hora certa, esperando que o poder lhe caia nas mãos.

Para ele não seria novidade – foi também assim que conquistou pela primeira vez a câmara do Porto, numa altura improvável, mas onde ao fim de muitos anos de governação socialista (e seis anos de socialistas no governo da Nação), o desgaste ainda não era óbvio, mas estava lá.

Agora o desgaste parece ser mais óbvio, mesmo que nenhuma sondagem coloque o PSD de Rui Rio na frente. Mas vê-se que está a subir a o PS a descer. Mais do que suficiente para animar as hostes laranjas e mais do que suficiente para convencer os social-democratas que vão ganhar a 30 de Janeiro.

Na verdade isso é bem possível, porque há sinais evidentes de saturação com a actual solução governativa e sinais ainda mais evidentes de que o eleitorado se divorcia dos partidos da extrema-esquerda que foram sustentando a geringonça. Percebe-se que isto já deu o que tinha a dar, tal como se percebe que um “chumbo” eleitoral da geringonça acabará por ser também um xeque-mate à liderança de António Costa. Há limites para o contorcionismo.

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Daí que Rui Rio se tenha ocupado mais em desfazer – foi esse o foco do seu discurso de encerramento, todo um ele um ataque cerrado, e diga-se que por regra certeiro, à governação socialista – do que em construir. Quem esperava que ele revelasse o programa eleitoral do PSD enganou-se redondamente.

Rio, na medida do possível, vai preferir que o poder lhe caia nas mãos. Naquilo que estiver ao seu alcance, revelará o mínimo possível do que tenciona fazer se chegar ao Governo. Para se resguardar da máquina de propaganda do PS e também porque em muitas áreas o seu gabinete estratégico pode ter ideias e propostas, mas ele nunca as aprofundou muito.

Valha a verdade – a cínica verdade – que é talvez a melhor forma de ganhar eleições. Mas não é a melhor forma de ganhar o país.

Por outras palavras: não é a melhor forma de mobilizar o país em torno de uma agenda reformista. É apenas uma forma de o levar a votar em nome de um “já basta”, neste caso, um “já chega de António Costa”.

Da forma que as coisas estão, pode ser que funcione, até porque há cada vez mais sinais de que do lado do PS e do Governo o desnorte é muito, mas mesmo muito grande. Parece até que já dão a derrota como certa…

Helena Matos. Uma opinião que não é bonita, nem moderna nem original

De cada vez que Rui Rio se declara disponível para aprovar o OE dos socialistas e pergunta se os socialistas farão o mesmo caso o PSD ganhe as eleições, está também a deixar implícito que se os socialistas recusarem a reciprocidade nesta matéria, o PSD tem legitimidade para falar com o Chega.

O discurso de Rui Rio não foi feito para os comentadores, muito menos para os eleitores mais mobilizados do PSD que, a avaliar pelas eleições internas do PSD, estão divididos em blocos sobre a sua liderança: em 2021, Rui Rio foi reeleito presidente do PSD com 52% dos votos, contra 48% de Paulo Rangel. Em 2020, conseguiu 53,02% versus os 46,98% de Luís Montenegro e em 2018 foi eleito presidente com 54,1%, contra os 45,85% obtidos por Pedro Santana Lopes. Internamente, Rio vence mas não convence.

Mas voltemos à minha opinião que, parafraseando um velho anúncio radiofónico, desde logo declaro que não é bonita, nem moderna nem original, o que não quer dizer que não seja útil: Rui Rio falou e vai continuar a falar para quem de facto decide o vencedor das eleições, ou seja, quem fica em casa.

Os eleitores zangados com o PSD dificilmente votam PS. Podem votar IL, CDS ou Chega, já votarem PS é outro assunto (o mesmo se passa com os eleitores zangados com o PS que podem votar BE, ou vice-versa, mas que dificilmente votarão à direita). Logo, o discurso de Rui Rio teve o q.b. de indefinição para que aqueles que o ouvem na rádio do carro ou nas televisões sempre ligadas dos cafés fixem as suas referências à TAP, ao SNS ou ao ministro Cabrita. Por fim arrisco uma previsão eleitoral para o dia 30 de Janeiro de 2022: se Bruxelas chumbar a TAP e Rui Rio não cometer um erro colossal na campanha eleitoral ele será o vencedor das próximas legislativas.

Quanto à pergunta: vai Rui Rio conversar com o Chega caso ganhe as eleições? Depende do PS, obviamente. De cada vez que Rui Rio se declara disponível para aprovar o OE dos socialistas e pergunta se os socialistas farão o mesmo caso o PSD ganhe as eleições, está também a deixar implícito que se os socialistas recusarem a reciprocidade nesta matéria, o PSD tem legitimidade para falar com o Chega.

P.S. A que santo, instituição ou poder deve uma pessoa dirigir-se para pedir o extraordinário avanço civilizacional a que assistiríamos quando e se os partidos convidados a assistir aos congressos alheios se abstivessem de comentar o que acabaram de ver e ouvir na reunião magna dos seus adversários? Há até quem passe de um comentário breve para uma espécie de comício, como fez o socialista José Luís Carneiro no final deste congresso. Aqui fica o meu apelo: pode acabar-se com este momento constrangedor? Ficávamos todos a ganhar.

Jorge Fernandes. Os dados estão lançados

As eleições de Janeiro de 2022 serão muito mais competitivas e interessantes do que em 2019. Talvez sejam mesmo as eleições legislativas de desfecho mais incerto na história constitucional portuguesa.

O congresso do PSD decorreu num ambiente em que as sondagens apontam para a possibilidade de empate técnico entre PS e PSD, algo impensável há uns meses. Todavia, apesar de uma análise mais fina aos dados disponíveis mostrar que o empate técnico é, em grande medida, resultado de uma má leitura das sondagens por parte da comunicação social, a narrativa começa a instalar-se e isso determinou o ambiente geral do congresso.

Rui Rio teve um congresso tranquilo e, em grande medida, sem história. A tranquilidade do congresso decorreu de uma retirada estratégica por parte de um conjunto de adversários internos, mais ou menos velados, que, hoje, aparecem à apelar à unidade do partido. Em caso de um resultado menos positivo em Janeiro, não querem ser acusados de terem contribuído para a erosão do PSD. Rio é suficientemente experimentado para saber que eles sabem que ele sabe, recordando as palavras da saudosa Maria José Nogueira Pinto, que tudo aquilo não passa de uma encenação. Salvo a ocorrência de surpresa, a 30 de Janeiro ajustar-se-ão as contas.

Por outro lado, o congresso falhou redondamente enquanto tentativa de marcar o início de uma vaga de fundo que levasse o partido em crescendo nas próximas seis semanas. É certo que a crescente preocupação com a pandemia, e os erros que Costa acumula, mais uma vez, em acautelar o período das festas, obnubilam quaisquer grandes manifestações partidárias. Os telejornais portugueses tornaram-se monotemáticos, dando muito menos espaço à política partidária do que teria acontecido em circunstâncias normais. Os efeitos deste enfoque mediático na pandemia tem consequências, acima de tudo, para o principal partido da oposição.

O discurso final de Rio foi morno. Fez um bom diagnóstico da situação do país, abordando, de resto, um conjunto de temas que não são habituais no PSD, nomeadamente uma atenção detalhada ao ambiente. Foi interessante ainda o modo como piscou o olho ao eleitorado à sua direita, ao falar sobre os subsídios de apoio aos mais pobres e a justiça da sua atribuição. O discurso pecou, porém, por não ter apresentado, no mínimo, três ou quatro ideias fortes, concisas e que fiquem no ouvido. Ao fim de mais de trinta minutos, é-me difícil pensar numa proposta de Rui Rio para o futuro. Os dados estão lançados. As eleições de Janeiro de 2022 serão muito mais competitivas e interessantes do que em 2019. Talvez sejam mesmo as eleições legislativas de desfecho mais incerto na história constitucional portuguesa.

João Marques de Almeida. Rio tem seis semanas para construir uma alternativa ao PS

Se Rio considera que o eleitorado do centro vai votar no PSD porque está cansado do PS, então Rio terá que garantir que um voto nos sociais-democratas não serve para manter o PS no poder. É fundamental, usando as palavras de Rio, “dizer a verdade aos portugueses.”

Como se esperava, o Congresso do PSD correu bem a Rui Rio. Foi o momento da consagração da sua vitória nas eleições internas. Os seus antigos adversários foram a Santa Maria da Feira manifestar o seu apoio a Rio. Agora é o tempo de tentar ganhar as eleições nacionais. E as sondagens do fim de semana, com o PSD a subir, ajudaram à unidade. Depois de os seus adversários do passado darem o primeiro passo, como lhes competia, cabe agora a Rio mostrar que quer mesmo um partido unido e que esquece os confrontos do passado. É essa a atitude que se espera de um líder político.

Mas a unidade que saiu do Congresso do PSD está sob escrutínio. Mais uma vez, Rio não conseguiu maioria no Conselho Nacional. E os militantes reelegeram o presidente do Conselho de Jurisdição com quem Rio já teve disputas no passado. Os congressistas querem o partido a escrutinar a sua direção.

O discurso final de Rio foi de ataque ao governo socialista. Em particular, Rio atacou os falhanços nas políticas de educação e de saúde, o fracasso da política económica e a elevada carga fiscal. Curiosamente, Rio até começou os ataques à governação socialista criticando a nacionalização da TAP. Rio já percebeu que um dia pode ter que enfrentar Pedro Nuno Santos como líder do PS, e também sabe que só há um caminho para vencer as eleições: atacar o governo socialista.

Na parte substancial, o discurso de Rio não foi além de generalidades. Deseja que os portugueses paguem menos impostos, quer mais crescimento económico, aumento da produtividade e dos salários médios. Mas quem não deseja menos impostos, e quem não quer mais riqueza? Talvez não fosse hoje o dia adequado mas, para ganhar as eleições, Rio precisa de medidas e de propostas concretas. Rio defendeu as empresas, mas também aqui terá que ir mais longe e explicar detalhadamente como as vai ajudar e defender. E, sem as empresas, os ordenados médios não sobem.

Há outra dúvida que resulta do discurso de Rio. A maioria dos ataques ao governo socialista foi um ataque à geringonça e às “esquerdas extremistas.” Simultaneamente, Rio foi muito vago em relação às possíveis coligações pós-eleitorais, incluindo acordos com o Chega. Mas, no caso do PS, por vezes parece que o principal objectivo de Rio é separar o PS das esquerdas radicais, e não construir uma alternativa aos socialistas. Esta questão é central para os eleitores. Nem sequer falo dos eleitores de direita, que querem uma alternativa clara ao PS, mas sim dos eleitores do “centro”, o principal alvo de Rio. Se Rio considera que esse eleitorado vai votar no PSD porque está cansado do PS, então Rio terá que garantir que um voto nos sociais-democratas não serve para manter o PS no poder. É fundamental, usando as palavras de Rio, “dizer a verdade aos portugueses.”

Alexandre Homem Cristo. Até o PSD já acredita que pode ganhar

Rui Rio encerrou o Congresso na pose incontestada de “líder da oposição que quer chegar a primeiro-ministro", num clima de bipolarização das opções eleitorais. E era só isso que Rui Rio precisava deste Congresso: mostrar ao país que, afinal, até o seu partido já acredita que ele pode mesmo ganhar.

O PSD está dividido? Sim, está (como quase sempre) profundamente dividido. Mas, nos discursos deste fim-de-semana, isso não sobressaiu. Eis a grande novidade do Congresso dos sociais-democratas: pela primeira vez desde que preside ao PSD, Rui Rio teve um palco para ser aclamado. Porque se tornou consensual? Nem pensar — desde a vitória nas eleições internas, a equipa de Rui Rio tem aplicado uma limpeza nos quadros do partido e recompensado a lealdade das suas tropas, saneando os apoiantes de Paulo Rangel das listas eleitorais. Porque os adversários internos desistiram? Também não — Luís Montenegro, Pedro Rodrigues e Miguel Pinto Luz estão a posicionar-se. A resposta é simples: porque o timing assim o exige. Na antecâmara das legislativas, não é de excluir a possibilidade de o PSD de Rui Rio ficar à frente do PS. E, com um mandato interno renovado, ficou claro como água que, aconteça o que acontecer no dia 30 de Janeiro, ninguém vai empurrar Rui Rio dali para fora no pós-eleições.

É uma regra da política: o cheiro a poder faz ultrapassar divergências nos aparelhos partidários. Contudo, a expectativa de poder não faz milagres. E, neste caso, o milagre seria que este Congresso contribuísse para que as propostas do PSD se tornassem mais claras, mais estruturadas, mais agregadoras e mais diferenciadas do PS. Não foi o que aconteceu. Porquê? Em grande medida, porque Rui Rio é Rui Rio — insistiu nas ideias de sempre (por exemplo, nas reformas do sistema político e da Justiça), mostrou o ressentimento de sempre (falou repetidamente da vitória autárquica em Lisboa, mas não foi capaz de nomear Carlos Moedas, que não apoiou Rui Rio nas internas), e exibiu a obsessão de sempre na pureza ideológica do partido (em ataques à direita e a correntes do seu próprio partido). A pouco mais de um mês de ir a votos, o Congresso era uma oportunidade de ouro para o PSD ter a atenção mediática sobre si, trazer novidades, mostrar caras novas, dramatizar as escolhas eleitorais, empolgar o eleitorado e dar o mote da sua campanha eleitoral. Com uma sucessão de intervenções pouco cativantes, essa oportunidade foi desaproveitada.

Quer isto dizer que o Congresso foi um falhanço? Não. Pelo contrário, foi um sucesso, pois a estratégia de Rui Rio dispensa novidades e caras novas. No Congresso, tal como nos anos que já leva de presidência do PSD, Rui Rio abdicou de uma alternativa forte ou de promover um confronto aberto com o PS. Preferiu antes uma longa espera pela alternância PSD/PS gerada por desgaste do governo de Costa — ou seja, em vez de tentar ganhar eleições, escolheu aguardar serenamente que o PS as perdesse. Durante anos, esse posicionamento valeu-lhe críticas internas e externas, porque a cadeira de líder da oposição parecia vazia. Mas, a um mês e pouco de eleições legislativas, essa cadeira parece agora ocupada e Rui Rio encerrou o Congresso na pose incontestada de “líder da oposição que quer chegar a primeiro-ministro”, num clima de bipolarização das opções eleitorais. E era só isso que Rui Rio precisava deste Congresso: mostrar ao país que, afinal, até o seu partido já acredita que ele pode mesmo ganhar.

André Azevedo Alves. Rio no centro

Foi um congresso à medida de Rio com os seus principais críticos a alinharem-se no apoio à liderança e ao partido em contexto pré-eleitoral, ainda que deixando tímidos reparos para memória futura nas entrelinhas.

Sem surpresa, depois da terceira vitória em eleições directas no PSD, Rio apresentou-se no Congresso em alta. Capitalizando bem a seu favor a imagem de resistente e sobrevivente político, Rio beneficiou também do efeito agregador e sedutor que a possibilidade de chegar ao poder infalivelmente exerce nos partidos políticos. Se é verdade que o PSD não é favorito nas próximas eleições de 30 de Janeiro, não é menos verdade que o regresso ao poder parece hoje bem menos distante do que há algumas semanas atrás.

É aliás curioso que Rio saia notoriamente reforçado de um processo de clarificação interna que procurou inicialmente evitar (mas que num momento de clarividência percebeu seria suicidário para o PSD não ter antes das legislativas). Foi por tudo isto um congresso à medida de Rio com os seus principais críticos a alinharem-se no apoio à liderança e ao partido em contexto pré-eleitoral, ainda que deixando tímidos reparos para memória futura nas entrelinhas. Depois da vitória decisiva em Lisboa, Carlos Moedas consolidou-se neste Congresso como uma referência inevitável para o PSD pós-Rio, um Congresso em que só Miguel Pinto Luz se atreveu a atacar frontalmente o líder reeleito.

Os resultados da votação para o Conselho Nacional confirmaram a pluralidade de tendências do PSD e deve ser especialmente salientada a reeleição de Paulo Colaço para o Conselho de Jurisdição Nacional do PSD. Contra um candidato forte (Morais Sarmento) e depois de várias polémicas com Rui Rio, a reeleição de Paulo Colaço é um importante sinal de vitalidade e independência das bases do partido.

Quanto à mensagem de Rio, foi consistente com o que tem afirmado desde que chegou à liderança: quer um PSD ao centro e rejeita qualquer conotação com o liberalismo (a Iniciativa Liberal não poderia pedir melhor estratégia por parte do PSD). Uma linha que deixa também escancarada a possibilidade de entendimentos pós-eleitorais com o PS, cenário que Iniciativa Liberal, Chega e CDS não deixarão certamente de tentar explorar no apelo ao voto à direita.

A pouco mais de um mês das eleições, a estratégia de Rio — disputar o centro eleitoral com o PS e deixar o espaço mais à direita para Chega, Iniciativa Liberal e o que possa restar do CDS — é clara e a dinâmica de recuperação do PSD também. Até onde irá essa dinâmica e se chegará para derrotar o PS são questões em aberto que obterão resposta no próximo dia 30 de Janeiro.

André Abrantes Amaral. Um PSD nas mãos do PS

Este PSD de Rui Rio reconhece a primazia do PS no jogo democrático. Para Rio o PSD está num nível inferior ao do PS. É o estranho da festa que espera ser tolerado pelos donos da casa.

Rui Rio percebeu duas coisas: primeiro, que o PS sem Costa divide-se e vira à esquerda deixando o centro para o PSD. Segundo, que a geringonça terminou com a queda do governo. Caso o PSD ganhe as eleições vai ser muito difícil explicar um novo acordo da esquerda quando não houve entendimento para o orçamento em Outubro. Basicamente, se se entendem para impedir que o PSD seja governo, por que não se entenderam antes e evitaram a crise política? Como não há explicação válida, é pouco provável um novo acordo à esquerda. Ao PSD de Rio basta ganhar por um voto. É nesse sentido que Rio quer o compromisso de Costa para que, caso este perca, não inviabilize um governo PSD. A estratégia tem ainda outra vertente: caso seja o PS a vencer, Rio quer que Costa governe com o apoio do PSD em vez do BE e do PCP. As declarações de André Coelho Lima de que Rio não tem de sair se perder têm de ser lidas neste contexto. O plano tem lógica, mas apresenta um pequeno problema.

Este PSD de Rui Rio reconhece a primazia do PS no jogo democrático. Para Rio o PSD está num nível inferior ao do PS. É o estranho da festa que espera ser tolerado pelos donos da casa. Ora, nem este é o conceito de uma verdadeira democracia nem esta nunca foi a posição do PSD. Desde o início que este partido batalhou para ser tratado como tendo a mesma legitimidade do PS. Sá Carneiro não descansou enquanto não o conseguiu e Cavaco irritou meio mundo político porque se impôs 10 anos como primeiro-ministro. Tanto um como o outro foram bem-sucedidos porque tinham uma visão para o país. Tinham um programa e esse programa não passava pelo PS ou pelo o que PS permitia. Nenhum se adaptou ao PS. Foi o PS que se adaptou a eles.

A estratégia de Rio é outra. Quer ser aceite e por isso pede licença. Aguarda que o PS o deixe governar como o PS governaria: ao centro. O PSD de Rio não é o PSD inconformado que conhecemos no passado; é um PSD que está na mão do PS.

Miguel Pinheiro. Abram alas para a bipolarização

Ao contrário do que ficou estabelecido em 2015, nestas eleições as maiorias pós-eleitorais são pouco relevantes — o que vai ser outra vez decisivo é saber quem fica em primeiro lugar. Por uma razão: o futuro de António Costa depende disso. Mesmo que tivesse uma maioria sólida e inexpugnável à esquerda, a reputação e a carreira do líder do PS não sobreviveriam caso os socialistas ficassem em segundo lugar.

O país político entrou neste fim de semana em modo Bloco Central e sai dele em modo bipolarização.

À direita, as duas sondagens que colocaram o PS e o PSD em empate técnico insuflaram ainda mais Rui Rio e ajudaram a tirar qualquer dúvida que restasse aos críticos: com a solitária excepção de Miguel Pinto Luz, até 30 de janeiro os laranjinhas são todos rioístas.

À esquerda, António Costa espetou uma faca no coração moribundo da geringonça, deixando a maioria absoluta como única alternativa à cavalgada de Rui Rio. O obituário foi escrito assim: “Com a autoridade de ter dito em 2019 que era possível trabalharmos à esquerda para construir uma maioria sólida, duradoura e estável, há uma coisa que tenho de constatar: em 2019 isso já foi assim-assim; em 2020 ainda mais assim-assim; e em 2021, manifestamente, não existiu”.

Há um ponto que é importante não perder de vista até 30 de janeiro: ao contrário do que ficou estabelecido em 2015, nestas eleições as maiorias pós-eleitorais são pouco relevantes — o que vai ser outra vez decisivo é saber quem fica em primeiro lugar. Por uma razão: o futuro de António Costa depende disso. Mesmo que das eleições saísse uma maioria sólida e inexpugnável à esquerda, a reputação e a carreira do líder do PS não sobreviveriam caso os socialistas ficassem em segundo lugar.

Por isso, o PS vai exercer uma atração magnética sobre todos aqueles que, à esquerda, querem salvar António Costa. E o PSD vai exercer uma atração magnética sobre todos aqueles que, à direita, querem despedir António Costa.

Para os partidos pequenos, esta campanha vai ser uma dificuldade — cada um terá a sua e nenhuma será agradável. Os eleitores do PCP e do BE têm que decidir se vale a pena correr o risco de repetir o que aconteceu nas autárquicas em Lisboa, onde o poder passou para a direita apesar de haver uma maioria de esquerda. Os eleitores da Iniciativa Liberal vão ter que decidir se preferem a ideologia ou a eficácia. Os eleitores do Chega vão ter que decidir se odeiam mais “o sistema” ou António Costa. E os eleitores do CDS vão ter que decidir se, a 30 de janeiro, entram numa cabine de voto ou num museu.

Rui Pedro Antunes. Rio no país que temos

A vida corre bem a Rui Rio: sobe nas sondagens, controlou a oposição interna e criou a perceção pública de que é possível chegar lá. Lá, a São Bento. Por isso, Rio não quer, para já, arriscar medidas que mudem a tendência de crescimento.

Rui Rio tinha prometido propostas concretas no encerramento do Congresso, mas medidas nem vê-las. O discurso final foi temático, como tinha prometido, mas apenas com ideias genéricas sobre várias áreas da governação. E podia resumir-se assim: o SNS tem de ser melhorado, os professores têm de ser respeitados, os impostos têm de baixar para a classe média, o Estado tem de parar de meter dinheiro na TAP, Cabrita foi um mau ministro e a geringonça “esbanjou” dinheiro. E, claro,um chavão ambientalista: “Não há planeta B”.

Já sobre quanto quer baixar o IRC, se quer mais ou menos escalões no IRS, se quer envolver o privado nas respostas de saúde ou como pretende combater as alterações climáticas sem novas taxas, nada disse. E isso faz parte da estratégia.

A vida corre bem a Rui Rio: sobe nas sondagens, controlou a oposição interna e criou a perceção pública de que é possível chegar lá. Lá, a São Bento. Por isso, Rio não quer, para já, arriscar medidas que mudem a tendência de crescimento. Apresentar medidas concretas agora, colocá-lo-ia como potencial alvo de críticas que podiam mexer nesta dinâmica positiva. Por outro lado, se tornar essas mesmas propostas públicas já depois do período festivo, Rio encurta o espaço para a crítica e arrasta o atual balanço positivo até ao início do ano. Aguenta-se à tona a morder os calcanhares a Costa e a deixar o PS à beira de um ataque de nervos. Depois, aí, valerá tudo. É campanha, onde Rio sabe que é melhor que Costa.

A prioridade de Rio foi, por isso, falar uma linguagem que – como o próprio tantas vezes diz – o povo entende. E aí foi eficaz. Quando falava do Novo Banco e outros escândalos, o líder do PSD utilizou uma expressão que mostra bem para quem estava a falar: “É o país que temos”, disse, citando os seus potenciais eleitores.

Rio não quis falar para os comentadores que estavam nos estúdios de televisão à espera de medidas do líder do PSD para poder avaliar (por serem mais ou menos liberais, mais ou menos estatizantes, mais ou menos populistas), preferiu falar para o grande eleitorado de centro, que estava a acabar um almoço de domingo ou já à mesa do café. Não é só esse o país que temos, mas é o país que Rio quer convencer.

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