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941 dias depois, Klay Thompson regressou – quem pára os Golden State Warriors agora?

A dúvida existia: Klay Thompson ainda saberia jogar basquetebol? Sabia. Sabe. E o all-american boy, simples e que adora o seu desporto, reforçou o caminho anunciado do regresso de uma dinastia.

Passavam uns minutos da meio noite e meia da madrugada de domingo para segunda e o jogo tinha começado há escassos segundos. Klay Thompson recebeu uma bola na esquerda com um defesa em cima e, naquela situação, tinha duas opções: fingir um lançamento e encontrar espaço para penetrar pela linha, ou devolver o passe. Mas Klay viu um arco de fora para dentro – recebeu, infletiu na dircção do meio campo e depois para dentro, rumo ao cesto, onde acabou com uma bandeja e os dois primeiros pontos em 941 dias.

E com este simples movimento acaba a dúvida que pairava na mente de toda a gente: será que, 941 dias depois, Klay Thompson ainda saberia jogar basquetebol? Sabia. Sabe. Klay acabou o jogo com 17 pontos em 20 minutos e, se precisou de 18 lançamentos para os alcançar, isso é o mais natural em quem esteve tanto tempo parado. A este nível, com esta classe de lançador, falham-se menos lançamentos pelo movimento dos braços do que das pernas – jogadores como Klay lançam com dois defesas em cima, à saída do drible e é precisa uma força imensa para conseguir, em salto, manter o equilíbrio necessário para armar o lançamento. Isso adquire-se com ritmo, com jogo.

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Tudo o resto permanece lá. No segundo período Klay voltou a penetrar e acabou com um afundanço tão tremendo que o pavilhão quase ruía – também acabou no chão, apoiado nos dois pés e nas duas mãos, e não deve ter escapado a ninguém que aquele afundanço autoritário era uma declaração de intenções: foi num afundanço, nas Finais contra Cleveland, em 2019, que Klay teve a primeira de duas lesões que o deixaram dois anos e meio fora do jogo. Ontem, não por acaso, o adversário era Cleveland.

Essa primeira lesão não foi apenas um golpe duro em Klay, que no momento em que se lesionou nem sequer teve noção do calvário que se seguiria – foi como que uma machadada na dinastia que ele havia ajudado a criar nos Golden State Warriors. Klay e Stephen Curry eram conhecidos como os Splash Brothers, à conta da quantidade de triplos que marcavam por jogo. Com Draymond Green eram três All-Stars numa equipa que, graças à sua altíssima percentagem de lançamentos de três, mudou a forma como se joga basquetebol: com tantos lançadores de distância bons numa equipa os adversários eram obrigados a defender a linha de três e isso abria espaço para a penetração.

A adição de Kevin Durant tornou os GSW praticamente imbatíveis – e foram-no, pelo menos enquanto Klay e Durant estiveram saudáveis. Nas suas duas primeiras idas às Finais, ainda sem Durant, os GSW bateram-se sempre contra os Cleveland de LeBron – ganharam no primeiro ano e depois perderam no segundo, no famoso ano do super-bloqueio de LeBron seguido do triplo de Kyrie Irving. Durant entrou na época seguinte (em 2016/7) e os GSW ganharam dois títulos consecutivos antes de, em 2018/9, verem Durant e Klay sucumbirem a lesões frente a Toronto.

A primeira lesão não atingiu apenas Klay Thompson, foi como que uma machadada na dinastia que havia ajudado a criar nos Golden State Warriors

Em ambos os casos apontou-se para um tempo de regresso de cerca de um ano – Durant conseguiu; Klay, após recuperar da rutura de ligamentos, rompeu um tendão (a mesma lesão que acabou com a carreira de Kobe Bryant) a 19 de novembro de 2020. No total seriam 941 dias até voltar a jogar, acabados esta madrugada.

O basquetebol mudou, desde então. Durant mudou-se para os Brooklyn Nets, onde reencontrou Kyrie; todos os miúdos da NBA desataram a lançar triplos quase do meio campo, imitando Curry e Klay, que entretanto já são veteranos – Doncic e Trae Young em particular especializaram-se nestes lançamentos. O triplo tornou-se tão omnipresente e a defesa da linha de três pontos tão eficaz, que algumas equipas voltaram aos tempos de Michael Jordan e Kobe Bryant, privilegiando de novo o lançamento dos cinco metros: os Suns têm em Chris Paul e Booker dois grandes lançadores de cinco metros, os Bulls usam esse lançamento com DeMar De Rozan e, agora, também Zack Lavine.

E em todo este tempo os GSW nem aos play-offs foram. É que Klay não era apenas um lançador de três pontos – se Draymond Green é o defensor que faz o trabalho sujo e no ataque ajuda a espalhar a bola, se Curry é o corredor incansável que no ataque inventa os seus próprios lançamentos, Klay era uma espécie de Scottie Pippen contemporâneo só que com grande lançamento: eficaz dos dois lados, tanto lançava à saída do passe como a seguir estava a bloquear, no chão, a roubar bolas.

Green é o líder com o chicote, Curry o mágico, mas Klay tem uma característica que o torna adorado: é o all-american boy, simples e que adora o seu desporto; é, simplesmente, incapaz de não se entregar 100% ao jogo, e mesmo quando este está ganho por 20 ou 30 pontos ainda disputa cada bola como se fosse a última. Talvez por isso tenha custado tanto aos fãs da NBA vê-lo de fora: este é um tipo conhecido por se perder enquanto passeia o cão, por se esquecer das horas enquanto jogava ping-pong com elementos da aldeia olímpica australiana (que nem sequer conhecia), que nunca dá nas vistas pela roupa, que não compra carros caros e partilha histórias do cão no Instagram. Ele não é um de nós – é demasiado rico para isso – mas parece ser um de nós.

Klay tem uma característica que o torna adorado: é o all-american boy, simples e que adora o seu desporto; é, simplesmente, incapaz de não se entregar 100% ao jogo, e mesmo quando este está ganho por 20 ou 30 pontos ainda disputa cada bola como se fosse a última (...) Ele não é um de nós – é demasiado rico para isso – mas parece ser um de nós.

Por isso custou quando o vimos chorar, em finais de novembro, sentado no banco, no final de uma vitória de Golden State, no último lançamento, sobre Portland: Klay escondeu a cabeça debaixo de uma toalha e ficou ali, como se não quisesse ir embora, como se imaginasse que normalmente seria ele a fazer aquele último lançamento de vitória, como se já não aguentasse mais não praticar o desporto que tanto ama. Os minutos passaram e Klay ali, toalha na cabeça, lágrimas a cair, imóvel.

Muito provavelmente, nessa altura Klay já sabia mais ou menos quando regressaria e à medida que o momento se aproximava foi-se tornando mais difícil gerir as emoções. Nós não – o que sabíamos do estado dele eram as sessões de lançamento que ele partilhava no Instagram e em que, basicamente, Klay espetava triplo após triplo após triplo. Mas recuperar de duas lesões assim não é trabalho de braços – são muitas horas por dia a saltar num só pé, com uma mão a segurar num peso, enfim, a fazer todo o tipo de exercícios para de forma lenta mas segura recuperar os ligamentos e o tendão e os fortalecer – o tendão de Aquiles de um basquetebolista é literalmente o tendão, tantas são as pancadas que este leva (à conta dos ressaltos, por exemplo, ou da forma como se apoia o pé no chão depois de um afundanço ou de uma entrada para o cesto).

O calendário de Klay estava (está) estipulado: começar por jogar 20 minutos em períodos de cinco e ir aumentando até, à entrada dos play-offs, estar capaz de jogar 40 minutos, quando a rotação (o número de jogadores que entra em campo) diminui, por forma aos melhores jogarem mais tempo. E na segunda parte contra os Cavaliers, que Klay começou, aconteceu qualquer coisa, aquela acendalha que todos esperávamos: Klay marcou três lançamentos seguidos, um deles triplo, lembrando um daqueles momentos do passado em que ficava em chamas e se tornava impossível de parar. Ele não queria, mas teve de sair.

Klay Thompson, de 31 anos, chegou aos Warriors em 2011, conseguiu três títulos entre 2015 e 2018 e foi cinco vezes All-Star

Gregory Shamus

Durante os dois anos em que esteve fora os Golden State arrastaram-se, como se a dinastia que estava programada se tivesse evaporado no ar em que os ligamentos de Klay se tornaram ao romper. Mas este ano qualquer coisa aconteceu: Jordan Poole explodiu e tornou-se um jogador valioso. Alto e forte, é eficaz na defesa, mas também tem o drible necessário para entrar para o cesto e começa a desenvolver um bom triplo – é o herdeiro de Klay e tem sido titular na equipa com melhor média da NBA, um lugar que agora abdicará para Klay, ciente de que tem alguns anos para aprender com um dos melhores lançadores de sempre, antes de ser ele própria a estrela da franchise. Uma série de miúdos de primeiro ano têm tido bons desempenhos e os veteranos da equipa encaixam na perfeição.

Como uma massa que encontra o tempo ideal de cozedura, os GSW dão por si numa posição invejável. Já eram a melhor equipa e, se o calendário de aproximação de Klay à melhor forma funcionar, terão um reforço extra no exato momento em que mais precisam dele: os play-offs. Mais ainda, um reforço que já conhece a casa, as jogadas, os bloqueios. Quando ele estiver entrosado vai ser muito difícil impedir o regresso da dinastia. Só os Suns, com um super-Chris Paul, um super-Booker e um super-Ayton podem competir (se bem que convém não eliminar já os Bulls ou mesmo os Nets, com Kyrie Irving a só jogar fora, porque Nova Iorque não permite a jogadores não vacinado a entrada no pavilhão).

A Klay só falta agora ritmo e alguma força nas pernas. Mas para as pessoas normais que se revêm na pessoa quase normal que é Klay, há uma lição nisto: ok, ele tem grandes médicos a ajudá-lo, mas outros falharam e na mesma foram 941 dias. 941 dias, muitos deles negros, sem esperança, mas 941 dias em que ele acreditou sempre que voltaria. No mundo mágico na NBA acreditar é tudo – e isso passa para as pessoas normais, as que não têm os melhores médicos mas que têm ao seu alcance a simples hipótese de não desistir.

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