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A escola primária oficial 87 e as memórias do Porto de João van Zeller

Os colegas, os professores e a temida Santa Luzia Milagrosa. O Observador publica um excerto do livro "Johnny Boy", uma coleção de memórias de João van Zeller.

Foi no Porto que nasceu, em 1941, e a cidade é a protagonista de “Johnny Boy”, livro de memórias de João van Zeller, com especial atenção nas décadas de 40 e 50. Os primeiros 20 anos da vida do autor, empresário e gestor, antigo chefe dos Serviços de Imprensa, Radiodifusão e Televisão de Angola. O Porto com ponto de partida para o futuro de Van Zeller. Mas também o futuro da cidade e as transformações que sofreu.

O Observador publica um excerto de “Johnny Boy”, sobre a vida numa escola primária do Porto na década de 40, um retrato pessoal e social do autor e da cidade.

A capa de “Johnny Boy”, de João van Zeller (Edições Afrontamento)

Suponho que como consequência da falência da empresa de cortiças de meu pai, e consequente penúria financeira da família, acabaram as mestras em casa e fui inscrito na Escola Oficial da nossa zona de residência no Porto, na Rua Dom Manuel II, mesmo em frente à entrada do Palácio de Cristal.

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Foi aí que conheci o Vilapouca, os filhos da Pataréca e do carteirista, o Miguel, filho do padeiro, o Manel, filho do taberneiro, o Deolindo, o único obeso da terceira classe. Eram filhos de gente muito pobre daquela zona, que viviam em ilhas, uns casebres alinhados frente a frente, na perpendicular das ruas, verdadeiros microbairros, bem mais carentes que as villas do mesmo desenho da Lisboa daquela época.

Diziam‑me que o edifício onde se encontrava a escola tinha sido de meu pai, fora por ele hipotecado, e subsequentemente executado e levado a leilão judicial para satisfação do credor. Terá sido assim ou não, mas creio ter‑me sido acrescentado mais tarde que quem o arrematara fora a Dona Belmira e o Senhor Moura, os mestres dessa escola, que também lá viviam, no último de quatro pisos.

Era a Escola Primária Oficial 87 (todas tinham número afixado numa parede a dar para a rua). Na 87 congregava‑se a mais completa miséria das crianças daquela zona do Porto, tão semelhante à retratada e descrita por Charles Dickens em algumas das suas obras mais lúgubres, e que num espelhismo eram reencontradas naquela Escola.

Devido à minha ascendência, ao drama do prédio e aos conflitos por vezes violentos que ocasionalmente eclodiam entre aquela paupérrima rapaziada, a Dona Belmira e o Senhor Moura criaram à minha volta um muro sanitário invisível que me impedia de nos intervalos brincar, como tanto desejava, com os meus colegas, os garotos da rua. Para minha contrariedade, não me deixavam com eles partilhar nem os intervalos para jogar ao pião nem a sopa dos pobres, servida com um pão duro a meio da manhã. Poupavam‑me também às violentas reguadas nas palmas das mãos, infligidas com desespero por aquele casal de professores dickensiano, desproporcionada punição pela ignorância ou estupidez dos alunos. Para o efeito do castigo sobre mim recair e amedrontar, bastava ouvir o splash forte da régua nas palmas das mãos das vítimas.

A Dona Belmira era enorme, de bata branca pouco limpa, passada larga e pesada, cabelo grisalho apertado atrás, num puxo, ostentando na sua cara circular, inchada e gasta, uma enorme bolha castanha de onde saíam pêlos negros, o que lhe acentuava a ferocidade quando se zangava.

O edifício da Escola, cujas paredes fronteiras davam para a Rua D. Manuel II, tinha o recreio e um comprido espaço que se lhe seguia nas traseiras sul do nosso jardim da Miguel Bombarda. Essa proximidade fazia com que, quando as janelas da sala de aulas da Escola estavam abertas, se ouvissem as palmatoadas, que ecoavam tenebrosamente pela vizinhança, até às nossas próprias janelas.

Quando esses castigos eram infligidos durante as aulas a que eu assistia, chegava a chorar de aflição com o sofrimento do amigo. As vítimas, chamadas ao quadro pelo mestre ou pela mestra de cenho zangado, avançavam com o horror estampado no rosto. A Dona Belmira ou o Senhor Moura agarravam‑lhe numa das mãos, viravam as palmas para cima, e fustigavam‑nas com cinco, dez, quinze palmatoadas fortes e secas. Os rapazes fechavam os olhos agonizantes, na expectativa da dor e, durante o castigo, as lágrimas corriam‑lhes pelas faces sujas.

Lá fora desfilavam, com os tambores a rufar, bem ritmados, e a abafarem o estalo de cada palmatoada, os soldados do Regimento de Artilharia 3, em marcha firme, com as botas a baterem no chão com força, ouvindo‑se tudo do quartel que se situava quase em frente à Escola.

No final do “holocausto”, os rapazes recolhiam à carteira limpando as lágrimas às mangas da veste esfarrapada, e os mestres enxugavam num lenço sujo e amarrotado o suor causado pelo esforço. Habituados a conviver com o mundo duro da rua, o Vilapouca e o Manuel chegaram uma manhã entusiasmados à escola: tinha havido um suicídio de uma mulher num andar do prédio que faz a esquina da Rua D. Manuel II com a Rua do Pombal (hoje, Adolfo Casais Monteiro), em frente a outro edifício que tinha um refeitório onde nessa altura a Legião Portuguesa distribuía a sopa dos pobres.

A ideia da morte e do corpo humano sem vida causaram‑me uma emoção de rejeição pelo impossível, uma impressão profunda, forte. A saída do corpo da mulher para um carro da morgue por eles presenciada e relatada com pormenores tétricos levou a minha imaginação aos píncaros mais tenebrosos e aos pesadelos mais negros. Surgia uma nova realidade, que eu não compreendia, a da morte, tema novo, a cujo remoto significado só me acercara nas ilustrações sinistras de uma Bíblia que tínhamos em casa.

Este caso coincidiu com um passeio no Rio Douro, a que o meu pai me levou. Saímos num barco do Clube Fluvial Portuense, de assentos deslizantes, ele procurando entusiasmar‑me para a introdução ao desporto do remo. Subimos um bom pedaço do Douro a montante da Ponte Maria Pia e, no regresso, viemos encostados à margem esquerda, aproveitando a revessa da maré enchente. Ao passar pela praia fluvial do Areinho, notei um volume oblongo, estendido na margem, junto à água, coberto por um lençol. Um golpe de vento levantou o pano deixando à vista um cadáver meio despido, em muito más condições. A minha comoção foi violenta, e entrei num choro soluçante. Para contrariedade de meu pai, foi a primeira e última incursão a remos no Rio Douro, tal o pavor que aquela visão me causou.

Os números 641 e 643 da Rua Miguel Bombarda, casas da avó e dos pais de João van Zeller; o pátio da Casa da Faia; o cinema Batalha nos anos 50; a praia do Molhe

Nessas terceira e quarta classes da Escola Primária número 87, aliás muito bem ensinadas, eu tinha dois outros colegas teoricamente privilegiados, teoricamente não pobres, como eu: o Luís de Noronha e Távora (o Robalo), e o Zé Pedro Ferreira (o Ferreirinha). Infelizmente, a Santa Luzia Milagrosa (a palmatória) também os vitimizava.

Em livros muito manuseados e sebentos da Editora Educação Nacional, do Porto, aprendemos uma versão hiper nacionalista da História de Portugal. Era esta da autoria de Tomás de Barros, com todas as batalhas dadas como ganhas ao arqui‑inimigo castelhano pelos sempre glorificados portugueses, com impressionante descrição da Batalha de Toro e da empolgante figura do Decepado que “segurou a gloriosa Bandeira Portuguesa entre os dentes” ante o ataque do inimigo que lhe roubara os braços.

No livro de aritmética, além de ficarmos a saber fazer contas de somar, subtrair, multiplicar e dividir, aprendemos o que era um estere (medida de volume para a madeira…), assim como um are e um centiare (medidas de superfície), sendo‑nos apresentados para resolução problemas também com medidas de capacidade (hectolitros, mililitros). Esses problemas eram hieroglíficos e muitas vezes de uma complexidade absurda: com quantos mililitros de água fica um tanque ao fim de trinta e sete minutos, considerando que a torneira debita trinta e oito hectolitros por hora, que o tanque tem um quilómetro cúbico de capacidade, e que dois ares de madeira foram lá previamente metidos…

A Dona Belmira era enorme, de bata branca pouco limpa, passada larga e pesada, cabelo grisalho apertado atrás, num puxo, ostentando na sua cara circular, inchada e gasta, uma enorme bolha castanha de onde saíam pêlos negros, o que lhe acentuava a ferocidade quando se zangava. Nas carteiras, sentados dois a dois, escrevíamos os ditados, fazíamos redacções e contas, resolvíamos problemas de aritmética, copiávamos para cadernos pautados a caligrafia cuidadosa que ela ia espraiando pelo quadro preto. Quando escrevíamos com penas, os bicos eram molhados num tinteiro com tinta arroxeada, dos quais, com algum movimento mais brusco, caía um tremendo borrão, objecto de uma invectiva punitiva da Mestra.

Alguns dos meus colegas, devido à sua pobreza, apresentavam‑se descalços. Não tendo meios para comprar cadernos, usavam a lousa para escrever, objecto artesanal com uma aparência que hoje leva a pensar que o Steve Jobs nele se inspirou para o design do iPad. Às onze horas da manhã era servida uma sopa quente, água espessa com alguns legumes e feijões a flutuar, servida em marmitas de alumínio, que a rapaziada comia com gosto, acompanhada por um molete, designação portuense para uma variedade de pão, que abrangia as espécies carcaça, sêmea e bijou.

A Geografia tão pouco era assunto fácil. Levava com a Santa Luzia Milagrosa quem não soubesse, sem hesitar, os rios de norte a sul do país e os respectivos afluentes. Minho, Lima, Cávado, Ave, etc., até ao ao Sado e ao Guadiana que, como eram dos últimos, já sofriam hesitações. Depois os afluentes ainda eram razoavelmente papagueados até aos do Rio Douro, mas a partir daí a coisa complicava‑se, e era raro o aluno que os soubesse todos.

O ensino da gramática portuguesa na quarta classe era bem exigente, indo a detalhes insuspeitos: os graus dos adjectivos (incluindo o superlativo relativo de inferioridade), os adjectivos uniformes e biformes, os pronomes pessoais reflexos, possessivos, demonstrativos, relativos, interrogativos; os verbos defectivos pessoais e impessoais, as flexões verbais, o tema e a desinência, as locuções prepositivas, as interjeições de dor (ai! ui!, cáspite!), as palavras cognatas, etc., etc. Era disciplina de grande preferência da Dona Belmira, que esbarrava na incapacidade de alguns alunos para apreender tais complexidades, o que a fazia enfurecer ao rubro.

Como todas as grandes mestras, a Dona Belmira escondia por trás do seu temperamento sanguíneo uma alma generosa e compreensiva, sobretudo para com os mais miseráveis dos meus colegas. Terminada a classe, em que ela era implacável com todos, percebendo que algum deles estava a sossobrar, chamava‑o à parte, trocava palavras pacíficas, e dava‑lhe um rebuçado Victoria (dois custavam um tostão). A idade terna/belicosa dos rapazes, a sua pobreza fatalista, a crueldade que os rondava, tudo era do domínio real e palpável, que o Senhor Moura e a Dona Belmira percebiam bem, na sua missão social e educativa.

A Geografia tão pouco era assunto fácil. Levava com a Santa Luzia Milagrosa quem não soubesse, sem hesitar, os rios de norte a sul do país e os respectivos afluentes. Minho, Lima, Cávado, Ave, etc., até ao ao Sado e ao Guadiana que, como eram dos últimos, já sofriam hesitações. Depois os afluentes ainda eram razoavelmente papagueados até aos do Rio Douro, mas a partir daí a coisa complicava‑se, e era raro o aluno que os soubesse todos. Já sem falar das de Portugal, pior eram as linhas de caminho de ferro, as serras e os rios de Angola e Moçambique… Mas aí, as lacunas de conhecimento gozavam de muita benevolência. E na parede da sala de aula estava um grande mapa da Europa onde, encaixadas, apareciam as colónias portuguesas (ocupando naturalmente mais de um terço do Continente Europeu), tendo por baixo escrito: “Portugal não é um país pequeno”.

Tanto o ensino liceal como o ensino técnico era muito barato, e muitas famílias tinham isenção de propinas. Muitos desses colegas da Escola Primária preferiram ao Liceu o ensino técnico da Escola Industrial Infante D. Henrique, com entrada pelo Largo Alexandre Sá Pinto e traseiras para a Praça da Galiza. E dele saíram várias carreiras profissionais de sucesso, como a do Manel (da taberna do Palácio), que se tornou num excelente torneiro mecânico, e do Deolindo, que escolheu a vida de taxista e mecânico de automóveis. Porém a maioria deixava os estudos na 4.ª classe, indo engrossar as hostes do trabalho infantil, ainda tão usual nos anos 50.

Nas voltas da vida, encontrei‑me de passagem no Porto na minha labuta dos anos 80. Entro num táxi, dando ao motorista o meu destino. Lá da frente, um enorme e volumoso ser queixa‑se: “João, já não te lembras de mim? Sou o Deolindo!”. Já não houve outro destino senão a tasca do Manel, onde passámos um par de horas à volta de umas taças de verde branco e de umas loiras (pataniscas de bacalhau) recordando os tempos da feroz Dona Belmira e do não menos feroz Senhor Moura. Tinham passado mais de 30 anos.

O antigo Palácio de Cristal; a Rua de Santo António; um recanto do quarto de João van Zeller; sala de bilhar do Clube Portuense

E contei‑lhe como hipoteticamente me poderia ter tornado colega deles, ou como taxista, ou como criado de balcão. Efectivamente, no tempo da nossa Escola Primária número 87, aos sete/oito anos, quando me perguntavam o queria ser quando fosse grande, eu exprimia a dúvida entre ser em primeiro lugar motorista de táxi, e depois guarda-freio, criado de café, ou lutador à Americana. E expliquei como, aos dezoito anos, a minha candidatura para trabalhar como barman da Holland America Line tinha sido rejeitada.

Acabámos por reconhecer o mérito do casal Moura, precursor feroz de um 25 de Abril antecipado, ao qual eu tinha sido poupado, mas o Deolindo e o Manel não.

O abismo social teórico entre mim e os meus colegas da Escola Primária Oficial número 87 era grande. Mas, na realidade, os garotos da rua de quem eu fui amigo e cúmplice entre os sete e os nove anos marcaram saudável e brutalmente a minha perspectiva da sociedade, e diluíram até ao grau zero a percepção de superioridade social da classe onde a minha família se inseria, exercício simples, pois a nossa casa, suposta de poder ser o oposto, era a antítese do classismo.

Já estava eu no Liceu Dom Manuel II quando o Virgílio carteirista, pai de dois dos meus colegas da Escola Primária Oficial número 87, foi uma tarde a nossa casa, encontrando‑se na sala onde meu pai o mandara entrar umas cinco ou seis visitas. Era um artista capaz, e numa sala com vários circunstantes, conseguia subtilizar, sem dor nem percepção, a carteira de um ou dois dos presentes, sem que estes se apercebessem. Essa habilidade executou‑a nessa visita sem avisar, para estupefacção dos amigos de meus pais.

Para o afastar das multidões cujas carteiras eram mais fáceis de mondar, o Virgílio era preventivamente levado para a prisão nos fins‑de‑semana de todos os grandes jogos que o F. C. Porto disputava em casa. A alternativa de zona de trabalho carteirista era Fátima, durante as grandes peregrinações de 13 de Maio a 13 de Outubro, onde conseguia excelentes receitas. Mas nesse ano, já velho e debilitado, Fátima e Nossa Senhora foram‑lhe avessos. Com os dedos já sem ginástica, foi apanhado em flagrante ao fim de anos de impunidade. Foi cruelmente sovado, e depois preso, tendo ficado tuberculoso, a cuspir sangue, dizia‑nos a Pataréca, sua mulher. Com vários pedidos, conseguiu‑se que saísse da cadeia para vir morrer a casa, junto da família. Nunca mais vi os filhos da Pataréca e do Virgílio.

Entretanto, a minha irmã Fernanda assumia um estatuto especial. Depois da passagem pelas freiras do Colégio Nossa Senhora de Lourdes, fora para o Liceu Carolina Michaelis (todos os dias no eléctrico vinte com um traço, ou com dois traços), frequentava as Noelistas, ia a festas, as amigas eram demonizadas pelo irmão Pedro (e por mim, em exercício mímico, mas condoído), e os rapazes começavam a rondar.

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