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Hungarian Prime Minister Viktor Orban claims 'great victory' in general election
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Anadolu Agency via Getty Images

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"A Hungria não vai desaparecer da agenda europeia". Guerra na Ucrânia pode mudar tudo para Orbán daqui para a frente

Orbán reforça-se de forma clara dentro de portas. Na Europa, guerra complica tudo para todos: processos contra Budapeste podem ficar em banho-maria, mas relação com a Polónia está mais tensa.

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Texto da enviada especial do Observador à Hungria

Viktor Orbán chega acompanhado pela mulher. Faz uma paragem para tirar uma selfie com um apoiante, antes de entrar de mãos dadas com a companheira na assembleia de voto. Ali, só se ouve o barulho das máquinas fotográficas que tentam captar o momento em que o primeiro-ministro húngaro vai votar nas eleições legislativas deste domingo, para tentar renovar a sua maioria absoluta no Parlamento. Click, click, click. Orbán faz um compasso de espera com o boletim na mão, já meio dentro da ranhura da urna, para que o momento fique registado para a posteridade. Por fim, larga-o. Volta a dar a mão à mulher, agradece a todos os presentes e abandona a sala.

À saída, porém, tem de parar uma vez mais para responder às perguntas dos jornalistas. E é ali que Orbán é confrontado como poucas vezes foi durante a campanha com a sua relação com o Presidente russo, Vladimir Putin. O experiente primeiro-ministro húngaro, no poder há 12 anos consecutivos (a que se soma um outro mandato anterior), chuta para canto com habilidade: “Vladimir Putin não está a concorrer às eleições húngaras, por isso, felizmente, este tema não tem de ser abordado hoje.”

Horas depois, Orbán subiria a um palco em frente a uma multidão para festejar mais uma vitória estrondosa: o Fidesz conquistou 53,1% dos votos, o que corresponde a 135 deputados numa câmara com 199 lugares. É não só o renovar da maioria absoluta como da maioria de dois terços de que o partido já dispunha e que permite levar a cabo alterações constitucionais.

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Viktor Orbán declara vitória: “Todo o mundo pode ver que a política conservadora e cristã ganhou”

“Conquistámos todas as oportunidades”, afirmou o líder húngaro aos seus apoiantes, referindo-se às anteriores vitórias em 2010, 2014 e 2018. “E agora conseguimos a maior vitória quando todos uniram forças contra nós.” A referência à oposição unida é pertinente, já que Orbán enfrentava aquela que seria a sua corrida eleitoral mais renhida, de acordo com as empresas de sondagens, depois de a oposição se ter praticamente unido toda em torno de Péter Márki-Zay. E, no entanto, ali estava Orbán a festejar um triunfo esmagador.

“Foi uma grande surpresa”, reconhece ao Observador Zsuzsanna Véher, investigadora húngara do Conselho Europeu para as Relações Internacionais. “A oposição esperava um resultado mais próximo. Mas acho que até para o líder do Fidesz uma vitória desta dimensão foi uma surpresa”.

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Zelensky colocado “no mesmo cesto” que os inimigos do costume

As razões que explicam a vitória serão dissecadas nos próximos dias pelos analistas — Véher sugere a impreparação da oposição, o domínio de quase todos os media pelo Fidesz e o voto dos indecisos no novo partido de extrema-direita, o Mi Házank, como algumas das explicações. Mas um dos elementos mais fulcrais foi precisamente a mensagem do partido de Orbán a propósito da guerra na Ucrânia, afirmando-se como defensor da paz para justificar a sua política de neutralidade, que ressoou junto do eleitorado.

Sabendo disso, Orbán invocou o tema durante o seu discurso de vitória, somando Volodymyr Zelensky à lista de adversários que diz ter tido de enfrentar: “A esquerda daqui, a esquerda internacional, os burocratas em Bruxelas, as forças d[o milionário George] Soros, os media internacionais e até Zelensky”. Uma atitude que, para a investigadora Véher, não é surpreendente tendo em conta o modo de fazer política de Orbán, “que já anda a lutar contra muitos inimigos ao longo dos últimos dez anos”, um padrão que diz que não irá mudar.

“Aquilo que é novo aqui é que entre os opositores que são normalmente identificados como culpados está agora o Presidente de um país vizinho.”
Zsuzsanna Véher, investigadora húngara, sobre a referência a Zelensky no discurso de vitória de Orbán

“Aquilo que é novo aqui é que entre os opositores que são normalmente identificados como culpados está agora o Presidente de um país vizinho”, acrescenta, que “é agora colocado no mesmo cesto que todos os outros com que Orbán anda a lutar”. As afirmações de Orbán acontecem depois de Zelensky ter dito no sábado que o primeiro-ministro húngaro “é o único na Europa que apoia o senhor Putin”. Tendo em conta o estado em que estão as relações entre Kiev e Budapeste, diz Zsuzsanna Véher, o mais certo é que venhamos a assistir a novas trocas de acusações em breve.

A proximidade da Hungria de Orbán a Moscovo não é um dado novo — afinal, já em 2014 Orbán enumerava a Rússia, entre outros países, como modelos bem sucedidos no famoso discurso em que disse querer implantar um “estado iliberal” na Hungria. Nesse mesmo ano, o seu governo do Fidesz deu o projeto de expansão da única central nuclear húngara (em Paks) ao Estado russo, sem concurso público. Os laços económicos com a Rússia de Putin foram-se estreitando e atualmente é dali que a Hungria importa 90% do seu gás e 65% do seu petróleo. Temas como as obras na central nuclear e o gás russo foram discutidos por Orbán na sua última visita de Estado a Moscovo — menos de um mês antes da invasão da Ucrânia.

Vladimir Putin - Viktor Orban joint press conference in Budapest

As relações da Hungria de Orbán com Vladimir Putin têm estado sob escrutínio europeu

Anadolu Agency via Getty Images

É precisamente essa dependência económica que Orbán cita agora para invocar a atual política em relação à Rússia, dizendo que enfrentar Moscovo deixaria os húngaros numa situação complicada. Zelensky e outros criticam a Hungria pela proximidade com os russos, mas Orbán não cede uma linha: “Tudo o que acordei com o Presidente russo foi cumprido por ele até agora e por nós. As relações entre a Hungria e a Rússia sempre foram equilibradas e justas até há pouco tempo”, afirmou o primeiro-ministro durante a campanha eleitoral. A maioria dos húngaros parece concordar.

Processo de Estado de Direito avança? Depende de postura húngara face à Rússia

Para além da guerra na Ucrânia, outros pontos da política externa da Hungria foram abordados pelo próprio primeiro-ministro no discurso de vitória. Logo a abrir, Orbán comentou que esta era uma vitória tão grande que “pode ser vista da lua, mas certamente também de Bruxelas”. O comentário não foi inocente: a Hungria tem neste momento a primeira tranche dos fundos pós-Covid congelada pela Comissão Europeia, na sequência da avaliação de violações ao Estado de Direito que tem a decorrer em Bruxelas.

Perante este cenário, todos os pequenos sinais contam. Na noite eleitoral, nenhum representante da União Europeia felicitou publicamente Orbán — ao contrário do que fizeram líderes da extrema-direita como Matteo Salvini e Marine Le Pen, bem como o Presidente russo. Um sintoma claro do fosso cada vez maior entre Bruxelas e Budapeste. Agora, com uma nova vitória do Fidesz, alargar-se-á ainda mais?

EU Leaders Summit in Brussels

Budapeste tem um diferendo com Bruxelas aberto por causa do processo por suspeitas de violação do Estado de Direito

Anadolu Agency via Getty Images

Zsuzsanna Véher diz que é difícil prever, por uma razão: a guerra na Ucrânia tudo muda. “Se não tivesse começado a guerra diria, sem dúvida, que neste momento a Europa iria escrutinar muito mais a qualidade da democracia húngara e que o processo sobre o Estado de Direito ia avançar”, afirma a investigadora. Agora, porém, não tem tantas certezas: “Se a Hungria decidir romper com a unidade europeia e bloquear mais sanções à Rússia, por exemplo, não tenho dúvidas de que vai ser ainda mais encarada como um cavalo de Tróia russo na Europa e pode ter de lidar com o processo do Estado de Direito de forma mais firme”, alvitra.

Caso contrário, talvez tudo fique em “banho-maria” em prol da unidade europeia. “Pode haver motivações políticas que façam Bruxelas decidir adiar o processo”, resume Véher.

Polónia pode ser elemento decisivo para Hungria se posicionar face à Rússia

Tudo isto, porém, depende também de um terceiro fator: as relações da Hungria com a Polónia — o outro Estado europeu que enfrenta processos relacionados com o Estado de Direito, mas que, ao contrário de Budapeste, é ferozmente agressivo contra a Rússia. “Teremos de ver como evoluem as relações entre o Fidesz de Orbán e o PiS [partido no poder na Polónia], porque eles são a salvaguarda um do outro no processo em curso em Bruxelas”, aponta a analista.

A proximidade da Hungria face à Rússia, escreve o investigador polaco Wojciech Przybylski, é agora impossível de ignorar “até pelos aliados de Orbán em Varsóvia”.

A fase final do processo do Estado de Direito pode culminar na decisão de aplicar sanções a Estados-membros, mas tal só avança se houver total unanimidade dos restantes Estados o que, até agora, parecia impossível com Hungria e Polónia do mesmo lado. A guerra na Ucrânia, uma vez mais, pode vir alterar o xadrez dentro de Bruxelas.

Ao longo dos últimos dias, alguns sinais tornaram evidente o maior distanciamento de Budapeste e Varsóvia face à questão russa. O primeiro foi a realização da “Marcha pela Paz”, um evento habitual na Hungria que costuma contar com a presença de representantes polacos próximos do PiS que, desta vez, não estiveram presentes — preferindo fazer uma marcha em casa de apoio à Ucrânia. O segundo foi a deslocação dos primeiros-ministros da Polónia, Eslovénia e República Checa a Kiev, para se encontrarem com Volodymyr Zelensky. A ausência de Orbán, a par da do homólogo eslovaco, foi notória, já que ambos costumam estar alinhados com polacos e checos, colegas no Grupo de Visegrado.

Hungary's Political Parties Rally On Memorial Day Of The 1956 Revolution

A habitual "Marcha da Paz" em Budapeste desta vez não contou com a presença de elementos do PiS polaco

Getty Images

A oposição polaca tem aproveitado para criticar Orbán na questão russa. O PiS mantém-se, para já, em silêncio, mas é evidente que a sua política difere em muito da húngara no que diz respeito à guerra na Ucrânia: enquanto Orbán fazia campanha “pela paz” em casa, os polacos recebiam a visita do Presidente americano Joe Biden para receber mais armamento americano. De seguida, o Presidente polaco, Andrzej Duda, deu uma entrevista onde criticou abertamente Orbán por não apoiar a Ucrânia. A proximidade da Hungria face à Rússia, escreve o investigador polaco Wojciech Przybylski, é agora impossível de ignorar “até pelos aliados de Orbán em Varsóvia”.

“Este é certamente o momento mais tenso na relação entre o PiS e o Fidesz”, admite Zsuzsanna Véher. A investigadora prevê que os dois partidos mantenham para já “a coordenação” para tentar evitar qualquer rutura, até porque “a Hungria não pode arriscar perder o apoio dos polacos por causa do processo do Estado de Direito”. Mas a guerra não parece estar próxima do fim e, caso o apetite por sanções na Europa aumente, podem surgir verdadeiros desafios a esta amizade de Visegrado. Uma possível decisão da UE de impor sanções à Rússia no setor energético seria, para Budapeste, “uma linha vermelha que os húngaros não querem atravessar” em relação à Rússia. Varsóvia, porém, tem apelado à Europa que faça isso mesmo.

Viktor Orban In Poland

Orbán e Mateusz Morawieck, o primeiro-ministro polaco

NurPhoto via Getty Images

O mais certo é que, nos próximos tempos, Viktor Orbán tente continuar o ato de equilíbrio de soar duro em casa, mas não romper completamente os laços nem com os polacos, nem com Bruxelas. Os acontecimentos, porém, podem ditar que a Hungria tenha de fazer compromissos mais claros, ou com a Europa, ou com a Rússia de Putin. E Zsuzsanna Véher deixa um alerta: “A Europa sempre achou que Orbán se ia moderar depois de uma eleição. E isso nunca aconteceu.”

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