O CDS já não é há muito o partido do táxi e quer ver-se livre de uma vez por todas dos “rótulos” de partido pequeno, partido dos “ricos” e partido dos “patrões”. O CDS de Assunção Cristas quer, na verdade, ser visto como “o partido que representa a alternativa ao Governo das esquerdas unidas” e que ambiciona “chegar lá” — ao poder. E o PSD? Nem se ouve falar dele. Depois do que aconteceu em Lisboa, nas eleições autárquicas, onde Assunção Cristas ultrapassou confortavelmente a candidata do PSD assumindo o papel de oposição e alternativa ao candidato socialista, o balão de oxigénio dos centristas encheu-se com ar suficiente para durar até às legislativas de 2019. É neste estado que o CDS de Assunção Cristas chega a Lamego, onde, este fim de semana, vai reunir o seu 27º Congresso — o primeiro de Assunção Cristas como presidente em funções.

São mais de mil congressistas e muitos deles vão subir ao palco para dizerem o que pensam sobre o estado do partido, a liderança e as opções políticas tomadas. Haverá os críticos mais ou menos audíveis, que há dois anos apresentaram uma lista alternativa ao Conselho Nacional que surpreendeu todos ao roubar 23% dos votos à lista de Assunção Cristas. Mas também outros críticos, como os promotores da já oficializada tendência interna Esperança em Movimento. Veja aqui quem é quem no Congresso deste fim de semana. E o que pode esperar de cada um.

Quantas direitas cabem neste CDS? O que eles vão dizer no congresso

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Assunção Cristas, a líder que passou no primeiro teste

O CDS mudou há dois anos e, feitas as contas, o choque não foi assim tão grande: depois de 16 anos de liderança de Paulo Portas, muito se disse e escreveu sobre o que ia ser feito do CDS. Entre Nuno Melo, desejado por muitos, e Assunção Cristas, olhada com apreensão dentro do partido por ser uma recém-chegada, foi ela que avançou — sem provocar cisões dentro do partido. Era assim que Paulo Portas funcionava, e foi assim até ao fim. Portas passou a pasta a Cristas, que tinha ido parar ao CDS pela sua mão, e o órgão de direção de Cristas acabou por ser eleito no congresso com 95,6% dos votos.

A nova líder saiu do Congresso de Gondomar a prometer “coragem para o CDS apresentar uma candidatura forte e mobilizadora” numa grande cidade como Lisboa, nas autárquicas que seriam dali a ano e meio, e chega ao congresso de Lamego, dois anos depois, com uma vitória maior do que a que lhe podia ter sido exigida (ou vaticinada). Cristas vai fazer duas intervenções de fundo no palco do congresso, na abertura e no encerramento — e uma pequena intervenção no sábado à noite a responder aos militantes.

Deverá manter a “ambição máxima” que tem pautado todas as suas intervenções, e que aparece espelhada na sua moção estratégica global: o CDS de Cristas quer ser “a alternativa” do centro-direita ao governo das esquerdas. Ainda esta quarta-feira, nas vésperas do congresso, Cristas deu uma entrevista à RTP onde assume claramente que se vai preparar para a ser “a primeira escolha”, como aliás já tinha dito ao Observador. Ou seja, a competição daqui até 2019 vai ser mesmo com o PSD, a quem o CDS só se quer juntar depois das eleições, e nunca antes. Ter os 116 deputados [sozinha] não é realista, nem necessário. Nem desejável. O tempo das maiorias de um só partido já lá vai. Agora, dentro deste bloco de 116, vou preparar-me para a ser a primeira escolha”, disse na RTP.

Cristas quer ir a eleições sem PSD. E defende que CDS é que é “o partido da alternativa”

A moção de Assunção Cristas é, contudo, omissa no que toca a propostas concretas e há quem se queixe de que Cristas se esqueceu de falar da “ideologia” e da matriz democrata-cristã do partido. É mais um “relatório de atividades e contas”, como chegou a apelidar o deputado e crítico Filipe Lobo d’Ávila, onde Cristas enumera o que foi feito nos últimos dois anos de mandato. Cristas tem um argumento para isso: diz que a moção atual deve ser lida como complemento à moção de há dois anos, onde as linhas programáticas “continuam válidas”. Mais: Cristas desafia mesmo os militantes a focarem-se mais na “solução do problema e menos na ideologia“. E se na moção de há dois anos Cristas falava de uma “oportunidade para o CDS se afirmar como uma parte cada vez mais robusta de uma futura solução de Governo de centro-direita”, agora os adjetivos são outros: não é só uma oportunidade, nem é só uma parte cada vez mais robusta, Cristas quer mesmo ser a solução alternativa às esquerdas.

Paulo Portas, o ausente mais presente

Foi convidado para marcar presença no Congresso, mas nem essa sombra Assunção Cristas deverá ter este fim de semana. Paulo Portas tem-se mantido afastado da cena política desde que Assunção Cristas foi eleita líder — e nunca mais se lhe ouviu publicamente nenhum comentário sobre a situação política ou partidária. E assim deverá continuar. O ex-líder do CDS já gravou uma mensagem em vídeo que está pronta a ser exibida no Congresso caso não consiga estar presente na reunião magna do partido. Desde que deixou a política ativa, Paulo Portas tem estado muito tempo fora do país, enquanto consultor da construtora Mota Engil para o mercado da América Latina, e estará no México por estes dias.

Assunção Cristas tem feito o seu caminho sem Paulo Portas, e tem-no feito com pinças. A imagem que ficou de um dos últimos dia de campanha eleitoral autárquica é o exemplo perfeito: Cristas tinha encabeçado mais uma arruada pela Avenida de Roma a fazer barulho e a distribuir beijos e abraços (tarefa que Portas se habituou a fazer, e a fazer bem), e Paulo Portas, acabado de aterrar de Luanda, tinha ficado de ir “beber um café” com a candidata e presidente do seu partido.

Não desceu a avenida ao seu lado, para não dividir atenções, mas esperou-a no fim da arruada, com um abraço telegénico. Picou o ponto, apareceu nas televisões a apoiar a candidata — mas foi uma aparição controlada, com conta, peso e medida. Portanto, as lágrimas de Paulo Portas deixadas no Congresso de Gondomar, há dois anos, foram mesmo a despedida dos palcos.

Nuno Melo, o sr. Europa que podia ter sido líder mas não foi

Protagonizou um dos discursos mais aplaudidos do último Congresso — quando o partido ainda sofria o desgosto de ter sido Cristas e não Nuno Melo o escolhido para avançar para a liderança –, e é um dos quadros do partido que mais galvaniza os militantes quando sobe ao palco. Eurodeputado, Nuno Melo assina uma das moções temáticas ao congresso, intitulada “Mais Europa, Menos Bruxelas”, mas não é só de Europa que vai falar em Lamego: vai fazer uma primeira intervenção de apresentação da sua moção, mas não vai abdicar de uma outra intervenção sobre política nacional. Nenhuma das intervenções, contudo, vai ser de alguma maneira crítica da liderança ou da estratégia de Assunção Cristas.

Há duas semanas, numa conferência organizada na sede do CDS sobre Europa, Nuno Melo apresentou as linhas gerais da moção que vai levar ao congresso, levantando a ponta do véu daquilo que vai ser o seu discurso: um discurso virado para a necessidade de o CDS se distinguir do PSD, em matérias europeias e não só, e de vincar essas mesmas diferenças para crescer no espaço político. “Somos nós que temos estado na primeira linha contra os impostos europeus”, disse, sublinhando que está na hora de o CDS “mostrar o que o distingue, em termos de posicionamento na Europa, dos partidos que são concorrentes dentro do arco da governabilidade”. Uma dessas linhas distintivas é, por exemplo, a ideia de que o CDS, não sendo um partido eurocético, não é um partido federalista. “É um lugar comum dizer que o CDS é eurocético. Não é verdade, o CDS nunca foi eurocético. Mas europeísmo não é federalismo”, afirmou, criticando também o facto de o PSD se ter juntado ao PS na defesa da criação de novos impostos europeus. Impostos esses que o CDS, e Nuno Melo, rejeita categoricamente. Para que fique claro: o CDS não quer deixar o rótulo de ser o partido do contribuinte.

Adriano Moreira, o “senador” homenageado

O antigo presidente do partido vai a Lamego participar no congresso democrata-cristão onde vai ser homenageado, logo no dia em que arrancam os trabalhos. A homenagem ao líder histórico do CDS (foi presidente entre 1986 e 88) foi decidida por Assunção Cristas que quer relançar o papel dos senadores do partido neste congresso, com a reativação do Senado.

Adriano Moreira, 95 anos, não faz parte do Senado, mas é o antigo líder que o CDS admira, depois de ter perdido para um Governo do PS (o primeiro de Sócrates) um dos seus fundadores, Diogo Freitas do Amaral. Entretanto, a tendência Esperança em Movimento (TEM), corrente interna recentemente oficializada como tendência dentro do partido, anunciou que iria apresentar uma proposta ao Congresso para que Adriano Moreira fosse presidente emérito dos centristas.

Filipe Lobo d’Ávila, o porta-voz de Portas que virou crítico de Assunção

Foi “o” crítico da presidente do partido no congresso de há dois anos: Filipe Lobo d’Ávila encabeçou uma lista alternativa à de Assunção para o Conselho Nacional — órgão máximo do partido entre congressos — e surpreendeu tudo e todos quando conseguiu uma fatia de votos de 23%. Lobo d’Ávila e outros apoiantes de Nuno Melo desde a primeira hora, como os ex-deputados Altino Bessa e Raul Almeida, ou o ex-secretário de Estado da Educação João Casanova Almeida, foram a voz da insatisfação pela liderança de Assunção Cristas. Mas de lá para cá, não tem sido muito expressiva a sua oposição interna. Filipe Lobo d’Ávila é deputado, partilhando a bancada parlamentar do CDS com Assunção Cristas e outros membros do núcleo duro da direção do partido, não sendo propriamente visto como um desalinhado.

Filipe Lobo d’Ávila esta semana numa entrevista ao Público criticou o facto de o CDS estar “centrado na imagem de Cristas” e defendeu que podia ser melhor para o centro-direita que PSD e CDS concorressem coligados a eleições. Desta vez, não subscreve nenhuma moção nem é certo se vai ou não apresentar uma lista alternativa ao Conselho Nacional. Segundo disse ao Público, a moção que apresentou há dois anos, intitulada “Juntos pelo futuro: Compromisso com as pessoas”, está “perfeitamente válida”.

A verdade é que Filipe Lobo d’Ávila era um portista de primeira linha, tendo sido secretário de Estado da Administração Interna e porta-voz do partido no último mandato de Paulo Portas, e foi despromovido com a mudança da liderança. Atualmente é deputado à Assembleia da República.

Raul Almeida, o porta-voz do crítico

Com Filipe Lobo d’Ávila no Parlamento, tem cabido ao ex-deputado Raul Almeida assumir o papel de crítico de Assunção Cristas. Ou do pragmatismo de Assunção Cristas (que tende a deixar de fora a ideologia marcadamente democrata-cristã e conservadora). Raul Almeida, ex-deputado e ex-vice-presidente da distrital de Aveiro, foi eleito há dois anos como conselheiro nacional do CDS na lista alternativa de Filipe Lobo d’Ávila. É um dos defensores da reintegração do ex-presidente do CDS Manuel Monteiro, que deixou o partido para fundar a Nova Democracia, entretanto extinto, e é um dos defensores de um CDS mais ideológico e menos pragmático.

Há uma semana, quando Cristas divulgou a sua moção estratégica ao congresso, Raul Almeida deu voz à contestação interna que surgiu em torno da falta de ideais democratas-cristãos e conservadores naquelas 16 páginas. “Perante esta moção, os delegados ao congresso do CDS terão de decidir se aceitam a morte do CDS democrata-cristão e conservador que conheciam e que era um referencial na vida política portuguesa”, disse ao jornal Público. E esta quinta-feira, num artigo de opinião publicado no Observador, volta à carga com a ideia de que há dois caminhos para o futuro do CDS: o caminho liberal, na economia e nos costumes, “pragmático, urbano e digital”, que “foge a sete pés da tradição democrata-cristã e conservadora”, e o caminho oposto, conservador, “assumidamente de direita e em linha com a matriz cristã fundacional da Europa”. Um, diz, é encabeçado por Adolfo Mesquita Nunes, muito próximo de Assunção Cristas que até vai coordenar o seu programa eleitoral, e o outro é encabeçado por Francisco Rodrigues dos Santos — o polémico jovem conservador que lidera a Juventude Popular.

Ambas as visões saberão integrar a outra, independentemente de quem ganhe e quem perca; é essa a tradição do CDS. Mas, evidentemente, não poderão ser dominantes no mesmo tempo e com os mesmos protagonistas”, diz. Ou seja, num futuro mais ou menos próximo o CDS poderá ter de definir de uma vez para que lado quer ir. E é isso que Raul Almeida e Filipe Lobo d’Avila dizem que Assunção Cristas não faz nesta moção: não aponta o sentido do caminho futuro.

Os caminhos do CDS

Abel Matos Santos, a corrente interna que quer revogar a lei do aborto e restringir os divórcios

É o porta-voz da única tendência formalizada dentro do partido: a tendência Esperança em Movimento (TEM), cuja criação foi aprovada há uma semana pela Comissão Nacional do CDS, depois de Abel Matos Santos ter recolhido o dobro das 300 assinaturas necessárias para o efeito. “Abre-se um novo ciclo na vida política interna do partido, que a partir deste momento é verdadeiramente plural. É uma conquista das bases, das centenas de militantes que subscreveram e mostra bem o ADN do partido, porque não temos nenhuma estrela”, disse Abel Matos Santos, definindo a TEM como uma corrente democrata-cristã dentro do partido.

Para o congresso deste fim de semana, Abel Matos Santos subscreve uma moção estratégica intitulada “Portugal a Sério”, onde defende várias medidas controversas, desde a revogação da lei do aborto à limitação de mandatos dos deputados à Assembleia da República, propondo que sejam os militantes a escolher os candidatos a deputados. Uma outra proposta da TEM passa pela imposição de restrições aos divórcios, querendo impedir que o pedido de divórcio possa ser feito unilateralmente.

Assumindo sem rodeios que querem projetar o CDS como “um partido de causas, assentes nos valores e princípios da democracia-cristã”, os subscritores desta moção não têm dúvidas: “[É preciso] constituir alternativas preferíveis às opções que vão sendo impostas à sociedade através das esquerdas”. Além da proposta de revogar a lei que despenaliza o aborto, a TEM propõe ainda a revogação da lei que permite o casamento homossexual, e da lei que permitiu a adoção de crianças por casais do mesmo sexo.

Nuno Magalhães, o líder parlamentar

É o braço direito de Assunção Cristas no Parlamento. Líder parlamentar desde 2011, primeiro com Paulo Portas, agora com a Assunção Cristas, é um dos rostos que mais aparece associado à líder do CDS, por aparecer muitas vezes ao seu lado. Nas 16 páginas da moção que apresenta ao Congresso, Assunção Cristas dedica grande parte do texto a enumerar os ganhos e conquistas do trabalho desenvolvido nos últimos dois anos pelo grupo parlamentar do CDS, do qual faz parte mas que é liderado por Nuno Magalhães.

“Ao longo destes dois anos – que correspondem, no calendário parlamentar, a parte de uma sessão legislativa (2016), uma sessão legislativa completa (2016/17) e a sessão em curso – temos estado na linha da frente da apresentação de Projetos de Lei e de Resolução na Assembleia da República. Liderámos a agenda em muitos domínios e demos sempre um fortíssimo contributo em momentos centrais da governação – Programa de Estabilidade e Plano Nacional de Reformas, Orçamento do Estado –, sem prejuízo da rejeição sistemática desses contributos, bem como sempre que houve um repto à participação da oposição (de resto, em vários casos, com antecipação nossa), como a reforma da floresta, os investimentos em infraestruturas ou, mais recentemente, o próximo quadro financeiro plurianual”, lê-se.

Nuno Magalhães não subscreve, à cabeça, nenhuma moção neste Congresso, mas faz parte do grupo restrito da direção do partido, pelo que não se vai ouvir nenhuma intervenção que fuja da linha de Assunção Cristas.

Adolfo Mesquita Nunes, o “liberal” que vai coordenar o programa eleitoral

Chega ao congresso deste fim de semana com uma tarefa central para os próximos tempos políticos do partido: coordenar a elaboração do documento que vai marcar o ritmo do CDS nos próximos anos, o programa eleitoral para as legislativas de 2019. Adolfo Mesquita Nunes foi o escolhido por Assunção Cristas para liderar esse trabalho e os dois estão bastante alinhados, para começar, no posicionamento do partido: “A função do CDS é ser alternativa ao PS, não é casar-se com o PS”.

Liderar um Governo é um objetivo ambicioso que é assumido pela atual liderança do CDS e Adolfo Mesquita Nunes, um fã do festival da Eurovisão, aproveitou mesmo mesmo para fazer um paralelismo, numa entrevista dada recentemente ao jornal Público: “Durante 40 anos, achei que nunca iria ver Portugal ganhar o Festival da Eurovisão. Depois de ter visto Portugal ganhar a Eurovisão, estou preparado para tudo.” Até para ver o CDS a ser mais votado do que o PSD? Talvez.

Foi secretário de Estado do Turismo no Governo PSD/CDS e o seu trabalho nessa área virou bandeira dentro do partido, com Adolfo a ser apontado pelos seus parceiros no CDS como o protagonista da mudança estratégica no setor, nomeadamente na promoção do país como destino turístico. Os números corresponderam, nessa fase, e o turismo virou coqueluche do CDS e Adolfo Mesquita Nunes ganhou relevo no partido. No último congresso chegou mesmo a vice e o seu peso na atual direção tem vindo a consolidar-se. Recentemente foi notícia por ter sido o primeiro dirigente partidário a assumir a sua homossexualidade, numa entrevista que deu ao Expresso. Como militante de um partido conservador em matéria de costumes, Adolfo contesta que possam existir problemas políticos: “Não vejo nenhuma excecionalidade na minha presença no CDS. E digo mais: fui deputado e membro do Governo e acho que honrei o partido na forma como exerci os cargos; e fui a votos, num terreno difícil, e os resultados que consegui para o CDS não foram poucochinhos”. Nas autárquicas, foi candidato pela Covilhã, e conseguiu o melhor resultado de sempre para o seu partido.

Pedro Borges de Lemos, o crítico desconhecido

Lidera um movimento informal dentro do CDS, intitulado CDS XXI, e, embora o movimento não tenha muita expressão dentro do partido, tem sido um dos militantes centristas mais críticos das decisões e estratégia de Assunção Cristas. Para Pedro Borges de Lemos, que assina uma moção intitulada “Futuro no Presente”, o CDS não deve “diluir-se num pragmatismo” que o assemelhe ao PSD, a quem chama de partido “prepotente”, e deve sim afirmar-se como “partido do centro”, para se poder tornar “um grande partido democrata-cirstão interclassista”. Para este militante e crítico centrista, o maior adversário do CDS enquanto partido que deve liderar o espectro político do centro direita é, pois, o PSD.

Pedro Borges de Lemos foi bastante crítico, por exemplo, da decisão de Cristas de avançar com uma moção de censura ao Governo na sequência dos incêndios de outubro (depois de Pedrógão), defendendo que aquele não era “o momento para ofensivas ou chicanas políticas, nem o momento para taticismo”, mas sim “o momento para procurar soluções depois do luto e da dor”.

João Almeida, o porta-voz da líder que vai coordenar uma TV

Foi secretário de Estado da Administração Interna e é atualmente o porta-voz do CDS de Assunção Cristas, ao mesmo tempo que é deputado. Portanto, não podia estar mais alinhado com a direção do partido. Esta sexta-feira, o CDS anunciou até que é João Almeida quem vai coordenar o novo projeto do partido que passa pela criação de um canal de televisão próprio, na internet: a CDS-TV.

No último Congresso, quando o CDS estava a virar a página de Portas para Cristas, João Almeida foi um dos promotores de uma das moções mais faladas, e que reunia um grande conjunto de dirigentes e pesos pesados do partido, incluindo Adolfo Mesquita Nunes. A moção em causa, “Fazer Melhor — um CDS com ambição”, defendia a ideia de que o CDS devia alargar a sua base eleitoral e deixar de ter “receio” de pegar em bandeiras tradicionalmente consideradas de esquerda, como o combate à precariedade laboral. “Onde há portugueses com problemas, o CDS tem que estar presente com soluções. O que nos distingue da esquerda são as propostas políticas e não a divisão das áreas atribuídas a cada espaço político”, dizia na altura. Quem não soubesse diria que era Assunção Cristas a falar… Talvez por isso este ano nem João Almeida nem Adolfo Mesquita Nunes apresentem qualquer moção.

Francisco “Chicão” Rodrigues dos Santos, o jota conservador de direita

Não é considerado um crítico de Assunção Cristas, mas podia ser. O líder da Juventude Popular, que recentemente foi distinguido pela Forbes Internacional como uma promessa na área de “Direito e Política”, incluindo-o na lista dos 30 jovens abaixo dos 30 anos, tem uma visão do CDS diferente da de Assunção Cristas. Esta semana, num artigo de opinião publicado no Observador, o crítico Raul Almeida dizia que o CDS tem, no futuro, de escolher um de dois caminhos: o CDS liberal e pragmático de Adolfo Mesquita Nunes, ou o CDS conservador, doutrinário e democrata-cristão, de “Chicão“, nome por que é conhecido Francisco Rodrigues dos Santos.

É que, é precisamente uma viragem à direita assumida e descomplexada o que defende a moção “Da JP para o País”. “O estatuto do CDS, sustentado pelo notório crescimento das novas gerações, é o de primeira força política à direita, o verdadeiro contra-peso das esquerdas e a principal alternativa coerente ao Partido Socialista”, pode ler-se no texto, onde o líder da Jota critica mesmo aqueles que “vendem a alma ao diabo a preço de saldo” e que, nessa lógica, “defendem, no domínio das ideologias e do pragmatismo, tudo ao mesmo tempo, o mundo e o seu contrário”. O pragmatismo de Assunção Cristas é, de resto, a crítica que mais vai ouvir no congresso.

“Chicão” quer ver a JP representada no Parlamento, e essa é uma proposta que volta a fazer neste congresso.