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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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A longa noite do PSD: 11 horas de reunião num resumo de leitura rápida

Foi um Conselho Nacional que pareceu um Congresso à antiga. Críticos de Rio não pouparam nos ataques e líder recebeu apoio de Menezes. Batalha jurídica culminou em voto secreto e Rio saiu vencedor.

O que disse Rio aos conselheiros

Enfraquecer o adversário, acenar com a ameaça que diz pairar sobre o partido e garantir que tem condições para “atingir o que está ao alcance”. Rui Rio abriu a reunião social-democrata mais aguardada dos últimos tempos apostado em convencer os conselheiros nacionais do partido destas três ideias. Colocou especial empenho logo na abertura, com um ataque total a Luís Montenegro que diz  estar “à espera de conseguir ganhar uma eleição pela primeira vez na vida”.

E aqui Rio lembrou que o seu desafiador perdeu por duas vezes as eleições para a Câmara de Espinho e também do partido, na distrital de Aveiro. Disse que Montenegro “teve falta de coragem” há um ano “quando não teve arrojo para se assumir”, candidatando-se à liderança no pós-Passos. E ainda lhe colou o rótulo de desleal ao acusá-lo de andar “em manobras de corredores parlamentares ou jornalísticos, conspirando contra quem é legitimamente eleito”.

Rio fica. Moção de confiança aprovada por margem confortável de 25 votos

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Ainda falou no impacto que esta “confusão e instabilidade” do PSD provoca no adversário direto, o PS: “É um espetáculo de prime time para António Costa que, se for um homem educado, tem de agradecer a alguns companheiros nossos pelo serviço de excelência que lhe estão a prestar”. Acrescentou mais: que se trata de um convite à abstenção e às alternativas que surgem à direita do partido e que pode pôr em perigo a construção de  “uma verdadeira alternativa à governação socialista” — que garantiu ainda ter condições para promover. A seu favor estão as sondagens, diz. Sim, porque Rio jura que falham. Para o provar, aponta às de 2015: “Pedro Passos Coelho teria tido uma derrota estrondosa”, mas “aconteceu precisamente o contrário.”

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Os apoios. A ajuda de Rio para evitar a expulsão no “reality show” laranja

Apoio na reunião, apoio fora dela e até tele-apoio. Rui Rio recebeu ajuda de todos os lados: dos que esperava, dos que não esperava. Luís Filipe Menezes, arquinimigo do tempo da guerra do fogo-de-artifício, lançou os foguetes a favor de Rio e ofereceu-se para apanhar as canas até à vitória do PSD nas legislativas. Já Morais Sarmento transformou o Conselho Nacional num comício e, qual Santana nos congressos de antigamente, foi a alma dos rioistas, com um discurso com muitos gritos de “PSD, PSD, PSD”. Disse que não lhe falassem mais em regras, porque a que ele conhecia era clara: “Os mandatos são de dois anos.”

Sempre presente esteve Salvador Malheiro, o mestre-de-cerimónias, o simpático anfitrião. Recebeu os notáveis e não precisou de andar num vai-vem escada acima, escada abaixo, como os opositores para garantir o aparelho. Isso já tinha feito durante a semana.

Com Rio estiveram ainda, claro, os barões. O único dos três fundadores vivo, Francisco Pinto Balsemão, enviou um sinal de apoio inequívoco a Rio e cheio de recados para os opositores à liderança: “Se pudesse estar presente, o meu voto seria, sem dúvidas, nem reticências, nem secretismos, favorável à moção de confiança apresentada pela Comissão Política Nacional”. Já Pacheco Pereira, a partir da Quadratura do Círculo, na SIC Notícias, deixava um tele-apoio mais pelo ataque a Montenegro do que pela defesa a Rio.

Pacheco diz que Rio não conseguiu evitar que o PSD fosse “um reality show“. Para já, foi a nomeações, mas evitou a expulsão. Deve-o a todos estes apoios que conseguiu dentro da casa (o PSD).

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O apoio surpresa: o ex-inimigo Menezes

Não é que tenham faltado momentos emocionantes, surpresas, reviravoltas, tensão a este Conselho Nacional. Mas emoção, emoção, daquela de ir às lágrimas só houve uma vez: quando Rio e Menezes caíram nos braços um do outro. Inimigos figadais de há muitos anos, protagonizaram uma reconciliação num momento político decisivo para Rui Rio.

Luís Filipe Menezes era o único ex-presidente do partido na sala, alongou-se no discurso para recordar os vários momentos em que andaram “às turras um com o outro” e, embora tenha defendido a “legitimidade” de Montenegro para avançar, acabou a dizer cá fora aos jornalistas as palavras mágicas: “Não é hora para ódios e vinganças. É hora de cerrar fileiras em torno de Rui Rio”

Lá dentro, prometeu ser um “soldado” pronto a ajudar no que for preciso, e prometeu apoio ao líder até “à vitória” nas próximas legislativas. O machado de guerra ficava aparentemente enterrado, tanto que Menezes até “compreendia” a falta de apoio de Rio na sua candidatura à Câmara do Porto: não foi por maldade, vingança, ou ódio pessoal, mas sim por “convicção”.

E por causa dessa convicção, tem o apoio garantido. Muito aplaudido, Menezes saiu da sala. Ficou perto da comunicação social e, minutos depois, era Rui Rio quem descia para dar “um abraço” ao outrora inimigo político. O líder, que agora sai reforçado, admitiu que estava “emocionado”.

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Os críticos. Desta vez foi olhos nos olhos

Se Rui Rio os criticava por andarem há meses a deitá-lo abaixo via jornais ou nos corredores, desta vez não se pode queixar de falta de frontalidade. Com o desafiador ausente — Luís Montenegro não tinha assento no Conselho Nacional — não faltaram representantes daquela ala. Pedro Pinto, Hugo Soares ou Pedro Alves foram algumas das vozes mais duras. O líder da distrital de Lisboa, que foi quase o porta-voz do movimento pró-destituição do líder chegou mesmo a admitir que “dizer-lhe [a Rui Rio] estas coisas é duro, custa, mas antes de Rui Rio e de Pedro Pinto está o PSD”.

“Se atacasse Costa como atacou Montenegro, não estaríamos aqui”, disse por exemplo Hugo Soares, depois de Pedro Pinto ter dito com todas as letras que Rio não estava “em condições de ir até às legislativas”. Já o líder da distrital de Viseu, Pedro Alves, que apoiou Rio nas diretas falou em “hipocrisia política” para dizer que todos deviam admitir que o PSD está hoje pior do que estava no ano passado. Também a líder da JSD criticou o tom habitual de Rio (embora também com críticas a Montenegro), ou a histórica militante do PSD de Lisboa, Virgínia Estorninho, que falou de um banho de ética de Rio transformado numa “banhada”.

De resto, na segunda parte da reunião (pós-jantar), o grupo dos críticos andou mais tempo escada acima, escada abaixo, entre a zona exterior, para fumar, e o átrio do hotel, a decidir as investidas da batalha jurídica que se seguiria assim que soasse o apito final das intervenções. O apito soou já perto das 2h da manhã, altura em que acabaram de falar os 75 conselheiros que se tinham inscrito. Era tempo de o presidente da Mesa, Mota Pinto, decidir se a votação da moção de confiança seria por voto secreto — como queriam os críticos — ou por braço no ar. Era o tudo ou nada: se o voto fosse secreto, os críticos acreditavam que teriam mais hipóteses de ganhar… E nem assim.

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O grande ausente: Luís Montenegro

Foi o ausente mais presente na sala. Foi por causa dele que o partido se reuniu num Conselho Nacional tão longo e tão tenso. De cada vez que algum conselheiro discursava para criticar a estratégia de Rio, podia ler-se também ali um apoio ao desafiador. E de cada vez que se falava de “irresponsabilidade” ou “instabilidade”, era também contra ele que se falava.

Mas Luís Montenegro não estava no Hotel Porto Palácio. Estava ali perto, a “menos de meia dúzia” de minutos a pé do hotel, no escritório. À Lusa disse estar disponível para falar, “se for convidado”. Ninguém o convidou.

Almeida Henriques ainda tentou que fosse aceite um requerimento a convocar a presença do antigo líder da bancada parlamentar do PSD. Mas a Mesa do Conselho Nacional liderada por Paulo Mota Pinto argumentou que tinha de ser o próprio Luís Montenegro a apresentar o requerimento, o que não aconteceu. “Não chegou nenhum pedido”. E Montenegro ficou de fora.

Luís Montenegro apresenta a sua candidatura à liderança do PSD, no CCB. 11 de janeiro e 2019. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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A batalha jurídica, um apelo, ânimos exaltados e um protesto

A guerra jurídica começou ainda antes do Conselho Nacional, com os críticos a anunciarem que iriam apresentar um requerimento para que o voto fosse secreto, seguindo o que está previsto nos regulamentos.
Dias depois, os apoiantes de Rio, através de Mota Amaral, anunciaram um outro requerimento de resposta em que seria pedida votação nominal e de braço no ar. Acabaram por entrar mais dois a solicitar o mesmo: voto de braço no ar.

A Mesa reuniu para analisar os quatro requerimentos e não houve consenso. Perante o impasse, os críticos pediram que fosse o Conselho de Jurisdição a esclarecer a dúvida. Perto das duas da manhã é o próprio Rui Rio quem pede a palavra e, de surpresa, faz um apelo a que o voto seja secreto (apesar de não concordar).

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O Conselho de Jurisdição também decide que o voto é secreto. Mas o Paulo Mota Pinto, Presidente da Mesa, não aceita a decisão. Alega que o CJ não se pode pronunciar sobre o regulamento do Conselho Nacional, só sobre os estatutos do partido. E pede aos conselheiros para votarem (de braço no ar), como querem… votar. É a revolta na sala. Gritos e apupos, os membros do Conselho de Jurisdição abandonam os trabalhos  em protesto contra Mota Pinto. Os conselheiros votam. E ganha mesmo o voto secreto.

Depois dos seus apoiantes terem passado os dias (e grande parte da noite) a defender a votação de braço no ar, o apelo de Rio podia parecer estranho. Mas era um sinal claro de que a noite era dele: as contas estavam feitas, de braço no ar ou em voto secreto, teria sempre a maioria do CN consigo. E tomava ele a iniciativa de esvaziar a polémica (e as ambições dos adversários). Não por acaso, ainda as urnas estavam abertas e já Hugo Soares falava à imprensa para dizer que “o partido estava adormecido e hoje está mais vivo do que nunca”. A frase pareceu aos jornalistas uma espécie de pré-admissão de derrota. Hugo Soares negou, mas minutos depois confirmava-se a derrota. Por voto secreto.

São 11 contra 11, no fim ganha Rio

Todos sabiam que uma parcela dos votos (cerca de 15) era volátil, podia pender para cada um dos lados. Mas quando Rui Rio anunciou, depois de ter esperado que o longo debate sobre a sua prestação como líder do partido chegasse ao fim, que, mesmo achando o contrário, apelava a que o voto fosse secreto, já saberia que a balança tinha caído para o seu lado. Por essa altura já os críticos — Hugo Soares e Pedro Pinto, sobretudo, e também os membros do Conselho de Jurisdição — saíam da sala a criticar a forma como o processo tinha sido conduzido. No final, ganhou Rui Rio, com 75 votos a favor, 50 contra e 1 nulo.

Foi aplaudido, pediu “paz”, e disse que agora faltava provar que o PSD “é a alternativa” ao PS de Costa, que já provou que pode “perder as eleições”. Rio, como o próprio admitiu, é “teimoso”. Para já, não só validou a estratégia que tem para o partido como a legitimou. Prometeu continuar intransigente no estilo e na mensagem, lembrando uma frase que diz que o caracteriza: “Ainda que todos, eu não”. E ainda insistiu: “Nem que me ponha de pé sozinho, mostro o que penso”. Apesar de ter muitos críticos (que não desapareceram), provou que sozinho não está.

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