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Ana Martingo

Ana Martingo

A loucura e a liberdade de 1981. Como vestia (e vivia) Lisboa há 40 anos?

Variações aparecia pela primeira vez na televisão, nasciam os Heróis do Mar e o Bairro Alto assumia-se como o centro da boémia e das artes. Estas são as histórias de Lisboa, há 40 anos.

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Passaram 40 anos, mas para uma cidade hoje meio deserta é como se os efervescentes anos 80 tivessem sido noutra vida. E foram, de certa forma. Um momento irrepetível no tempo e na história de um país que despertava para tudo o que lhe havia passado ao lado durante décadas de ditadura) e mais uns anos de processo revolucionário) — para a música, arte, moda, noite e sexualidade.

Há quem diga que foi a década de 60 — explosiva e transformadora em tantas partes do mundo ocidental — que nunca tivemos. Outros acharão que Portugal viveu tão intensamente aqueles anos por terem sido os primeiros realmente em sintonia com o resto do mundo, acertado o passo com a restante civilização. Para quem os sentiu à flor da pele, a diferença entre o antes e o depois é tão gritante como a linha que então separava o dia da noite, a mesma noite que foi, por excelência, o palco das mais importantes manifestações de liberdade.

É aqui que o testemunho de Mónica Freitas coincide com o de tantos outros. Filha de pai português, deixou o Brasil para se fixar definitivamente em Lisboa em 1978. “Ainda tínhamos uma cidade cinzenta e eu achava tudo muito estranho, sentia que só havia crianças e velhos, ninguém da minha idade”, reflete. A política e os vestígios de um passado tumultuoso (e recente) pairavam nas ruas, sobretudo nos muitos murais que Mónica recorda até hoje.

Os anos 80: uma revolução no vestir e no viver em Lisboa

Mónica Freitas

“A política tinha um papel tão importante que foi adiando outras situações”, continua. Decidiu, ainda assim, ficar. Fê-lo pelo convite para ajudar a fundar o departamento de fotografia do IADE, proposta irrecusável para uma fotógrafa na casa dos 20, mas também pela promessa de um núcleo em ebulição. Uma comunidade artística e intelectual que gravitava em torno do Bairro Alto e dos seus símbolos de cosmopolitismo — lojas, restaurantes, bares, discotecas e um ambiente boémio que apontava na direção de uma nova Lisboa.

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O ano de 1981 foi especial. O rock português tinha acabado de descolar com o “Chico Fininho” de Rui Veloso, António, já na altura Variações, apresentava-se diante do país inteiro através da televisão e os Heróis do Mar gravavam o primeiro álbum, isto enquanto já se dançava ao som de “Patchouly”, dos Grupo de Baile. A moda nacional estava nas mãos dos costureiros, mas o arrojo continuava a ser exclusivo de um grupo de jovens portugueses para quem as referências de modernidade eram Londres e Nova Iorque.

O street style era na altura uma mescla de fatos de repartição e padrões inéditos. E começaram a desafiar-se as convenções estabelecidas durante décadas. Os homens, alguns deles femininos no vestir, eram estrelas na noite. Neles e nelas, a maquilhagem e as bainhas comprometiam o decoro de uma sociedade binária e semeavam o desconforto. “Éramos considerados aves raras”, afirma Xana Guerra, outra das testemunhas de há 40 anos, numa outra era lisboeta.

Um estilo pouco lisboeta

Xana tem um dia especialmente vivo na memória, aquele em que se vestiu a rigor para uma matiné do Rock House, na Rua do Diário de Notícias. Descreve o visual: uns micro calções e um top em ska (quadrados pretos e brancos), um cinto e salto agulha em verniz. Escandaloso? Ela que o diga. “Na altura estudava na Veiga Beirão [no Largo do Carmo] e nesse dia ia já vestida para depois seguir para o Bairro Alto. Fui impedida de entrar na escola. Foi uma cena tão grande que os meus colegas também se recusaram a ir à aula”, recorda.

Como confidencia, foi nessa época que se apaixonou pela moda e tudo por causa dos estilos livres que proliferavam no circuito mais underground da capital. “Éramos excêntricos, enquanto o resto era muito cinzento e muito preto. Usávamos cor, fazíamos a nossa roupa. Íamos a lançamentos e a aberturas de coisas porque nos vestíamos de uma maneira que não se via em Portugal”.

Numa cidade pouco dada a excentricidades, descreve algumas das figuras mais emblemáticas do Bairro Alto — “saiam da frente” é a interjeição que lhe ocorre quando relembra António Variações, Pedro Lata (que chegou a criar roupa para vestir o músico), Vítor Baeta (estes dois últimos foram seus colegas no bar do Trumps) e Tatiana Romanov, a primeira persona pública de José Castelo Branco, ainda adolescente no romper da década.

O guarda-roupa estava a sofrer alterações à velocidade possível para o contexto português. Restava muito do trajar típico das repartições públicas, bem como a moda patrocinada pelos grandes armazéns nacionais. As influências da disco dos anos 70 eram escassas e o punk emergente ainda não tinha cruzado a fronteira. Mas no início da década, a silhueta tornava-se um pouco mais fluida e ameaçava ganhar cor. Surgem mais estampados, mangas com volume, sobreposições de peças.

Ana Salazar abre a primeira loja em 1972, dez anos antes de começar a desenhar as suas próprias coleções. Em 1981, a Maçã tinha as portas abertas em Alvalade e no Chiado, as coleções eram maioritariamente importadas de Londres e a clientela ia de artistas plásticos a políticos. “Naquela altura, as pessoas não queriam ser tão clássicas, queriam parecer mais despojadas, e isso foi claramente resultado de uma onda mais socialista”, explica a criadora.

Fala num boom do consumo, mas também num novo estilo vida noturno que alimentava o desejo de vestir bem e diferente. “As pessoas começam a sair muito e com isso vem o gosto em vestir e em ostentar, em ter uma pose. Tinha tudo a ver com pose e com comprar roupa para exibir”, continua.

Os primeiros desfiles de Ana Salazar, no romper dos anos 80

Imagens cedidas por Ana Salazar

Depois, havia os tais ícones de excentricidade. Ana recorda um dos seus primeiros desfiles, quando António Variações, invariavelmente rodeado de figuras igualmente singulares, apareceu coberto de faixas brancas tingidas de vermelho, qual múmia ensanguentada. “Foi um desabrochar de criatividade. Um desfile é já de si maravilhoso, mas a plateia era absolutamente extraordinária, sempre com uns miúdos vestidos de forma um bocado louca”, relembra. Os próprios eventos coletivos de moda estavam por vir. As Manobras de Maio só acontecem pela primeira vez em 1986 (ano em que Portugal entra na CEE), resultado do caldeirão de experiências, artes e pessoas que era o Bairro Alto. A ModaLisboa chegaria cinco anos depois, em 1991.

“Em 81 não havia nada, não se falava de moda. Nós, que viríamos a ser os da moda, criávamos ligações com estas pessoas das artes. Eram eles ou os funcionários públicos, não havia mais ninguém”, exclama Xana Guerra, que começou a passar música em bares assim que chegou a Lisboa. Depressa percebeu que as ruas que ligavam o Chiado ao Bairro Alto e ao Príncipe Real eram o seu habitat. A meio caminho, recorda ainda o armário de Madame Bettencourt, na Rua da Misericórdia. “Era num terceiro andar, uma velhinha que tinha um guarda-roupa enorme. Até nisso procurávamos outros sítios para termos as nossas peças. Aquilo foi o início de uma nova Lisboa”.

Bairro Alto, o centro do mundo

Xana Guerra acabou por se tornar um nome proeminente nos bastidores da moda em Portugal. Além de buyer internacional, é uma das fundadoras da Pulp Fashion, uma escola de styling e consultoria de imagem sediada em Lisboa, a cidade onde chegou há mais de quatro décadas. Como muitos milhares de retornados, desembarcou em Portugal em 1975. Tinha apenas 12 anos. A família instalou-se na Guarda, um entorno demasiado pequeno para os gostos e vivências de uma adolescente acaba de chegar de Moçambique.

Quatro anos depois, aventurou-se por sua conta na capital. “Havia o pessoal todo a quem chamavam retornados e que tinham uma mentalidade que dava 100 a zero à dos portugueses. Foi uma geração que veio abrir imenso os horizontes. A mim, por exemplo, chamavam-me puta só porque sabia andar de mota”. O Rock House foi a sua primeira casa — “Era a referência da música. Um dos donos era alemão e mandava os discos diretamente de Berlim, por isso ouvíamos o que se ouvia na Europa. O pessoal das rádios ficava espantado sem perceber como é que tínhamos aquela música antes deles”.

Os anos 80: o despontar da vida boémia no Bairro Alto

Mónica Freitas

Dos Duran Duran aos Spandau Ballet, a própria banda sonora das noites dançadas no Bairro Alto continha sinais de mudança. O Trumps tinha aberto portas em dezembro de 1980. Fala numa “discoteca de eleição”, que “não era para toda a gente”. Foi lá que António Variações deu o seu primeiro concerto, logo em março do ano seguinte. Xana assistiu a este e a muitos outros momentos durante os anos em que trabalhou no bar.

“Ele era uma pessoa fora do sistema. O que prendeu imenso o público foi a música e, a partir daí, começaram a aceitá-lo. O mesmo com os Heróis do Mar — as roupas que eles vestiam no primeiro álbum eram avant-garde. O Rui Reininho, o Paulo Gonzo… Fomos os precursores de todo o movimento gay em Portugal, de tanto que impusemos a nossa presença. Não quisemos chocar, mas de outra forma nunca mais íamos lá”.

Passados 40 anos, coleciona muitas outras memórias, como a festa dos Óscares onde Variações apareceu apenas de fio dental e com o corpo pintado de dourado ou a noite em que viu Grace Jones ao vivo, no Lido, na Amadora. “Ninguém sabia quem ela era, éramos uns 50 a ver o concerto, nós que trabalhávamos no Trumps e os nossos amigos. No final, ela até apanhou boleia connosco”. Lembra-se dos cafés n’A Brasileira, dos amigos da TAP que traziam discos e revistas que, de outra forma, nunca cá chegariam e do oásis que era Bairro Alto, com a El Dorado, a galeria de António Vieira de Castro, a primeira loja de roupa em segunda mão de Pedro Luz e o restaurante Bota Alta.

1982: o ano do Frágil

Em 1982, duas aberturas marcaria a movida lisboeta — o restaurante Pap’Açorda e o emblemático Frágil, ambos espaços do empresário Manuel Reis, mais tarde responsável também pela Loja da Atalaia. “Ele mudou a minha vida”, exclama Mónica Freitas. “Eu trabalhava na Rua do Alecrim e, de repente, aquele bairro castiço com roupa estendida nas janelas e tabernas tornou-se na catedral de todas as mudanças. Ficava fascinada com a cor, com aquela gente vestida de forma diferente, com as posturas, com as lojas de discos”.

Manuel Reis foi durante anos assistente de bordo da TAP. A ponte entre o Bairro Alto e as principais capitais, especialmente Nova Iorque, foi sendo construída assim, viagem a viagem, com a importação de referências musicais, artísticas, de moda, noite e estilo de vida, numa altura em que “Portugal estava completamente desfasado do mundo”. O primeiro passo foi a abertura da loja 1900-1930 na Travessa da Queimada, ainda nos anos 70. Mais tarde, o seu nome viria a confundir-se com o próprio circuito cultural lisboeta.

As noites no Frágil. O bar abriu em 1982 e foi, durante a década de 80, o principal ponto de encontro da noite do Bairro Alto

Mónica Freitas

Era um contexto repleto de pessoas diferentes — políticos e manequins, artistas plásticos e designers, músicos e diplomatas. “Ninguém tinha problema em ser de esquerda ou de direita, em ser gay ou não. Foi um período de loucuras, de grandes noitadas e de alguns excessos, mas foi tão libertário que só marcou pela positiva. O preconceito não cabia ali, nem pessoas muitos comprometidas com o passado”, resume Mónica.

Fala de uma irmandade que se encontrava religiosamente nos locais de referência, sem combinações prévias, tão pouco telemóveis. Muitos saíam de domingo a domingo, jantavam no Pap’Açorda, exceto quando era final do mês e as limitações do orçamento os levavam às tascas mais baratas. Do Bairro Alto seguiam para o Trumps, onde a noite se prolongava até de manhã. “Estávamos em casa e se passássemos dois ou três dias sem ir sentíamos saudades daquelas pessoas que nem sabíamos quem eram ou onde moravam. Lembro-me que chegava, entregava um cartão de crédito ao empregado do bar e não pensava em mais nada até ir embora. Nunca me passou pela cabeça verificar a conta”.

Variações na televisão e Heróis do Mar em estúdio

O verão de 1981 foi especialmente quente para os Heróis do Mar. Formada na primavera, a banda entrava meses depois num estúdio para gravar o primeiro álbum, mas não sem antes passar por uma sala de ensaios abafada em Pinamanique. “Torrámos a preparar um disco que fica para a história e só precisámos de uma semana de estúdio para gravar e misturar. Chegámos com as músicas, com as letras, com a roupa da banda, a capa do disco, a estética. É preciso lembrar que estávamos em plena febre do rock português, por isso as editoras queriam assinar tudo e mais alguma coisa”, conta Rui Pregal da Cunha, o vocalista, na altura com 18 anos.

A nova formação foi o desembocar de outros projetos musicais da viragem da década — Paulo Pedro Gonçalves e Pedro Ayres Magalhães vinham dos Faíscas e ainda formaram, com Carlos Maria Trindade, o Corpo Diplomático. Tozé Almeida, por sua vez, vinha dos Tantra, que contava também com Armando Gama. Ali confluíram, fruto de uma Lisboa que dava cartas em aproximar as artes e os seus intervenientes. Músicos, empresários, realizadores e dramaturgos bebiam copos à mesma hora e dançavam na mesma pista.

Os Heróis do Mar, uma banda formada na primavera de 1981 e que gravou o primeiro disco no ano seguinte

ARQUIVO PESSOAL DE RUI PREGAL DA CUNHA

“Lembro-me de subir e descer o Chiado. Havia um glamour decadente por ser uma cidade tão envelhecida. Encontrava-me com uma série de pessoas no Salão Império ou na Leitaria Garrett. Subíamos para jantar e depois íamos sair. E naquela altura, saíamos com discos debaixo do braço”. A comunidade notívaga foi ficando cada vez mais à vontade e a exuberância outrora mantida dentro de portas tinha agora um palco para se manifestar em público.

“A revolução trouxe uma liberdade incrível, mas culturalmente o sentimento foi de que andámos uns cinco anos a viver as décadas todas que não tínhamos vivido — 50, 60, 70. Ali, queríamos era viver os anos 80, não o que não tínhamos vivido, e curtir as coisas da altura”. O vestuário revelou as diferentes personalidades, em vez de encobri-las. Nasceram verdadeiras popstars lisboetas, como recorda Pregal da Cunha. A própria branda apresentou-se ao mundo com o visual disruptivo — uma espécie de uniforme militarizado e futurista, à semelhança do new wave que ganhava terreno na discografia nacional.

“Íamos à televisão e aquilo destacava-se. As crianças achavam lindo, as avozinhas gostavam imenso. Mas havia pessoas a dizer que éramos fascistas por falarmos nos descobrimentos e por estarmos vestidos com roupas que pareciam de paraquedista. Houve de tudo. Éramos um país com uma democracia muito recente e as pessoas ainda olhavam e achavam esquisito. Mesmo antes dos Heróis, vestia-me como me apetecia e na rua as pessoas olhavam e comentavam. Até me quiseram oferecer umas tareias”.

Aconteceu com Rui e com os Heróis do Mar, mas também com outros: o estatuto de artista legitimou a excentricidade e aproximou o público português dos ídolos de uma geração. “As pessoas davam essa desculpa, mesmo assim houve uma reação: demorámos três anos a ir tocar abaixo do Tejo”. No dia 25 de novembro de 1981, seis anos depois da tentativa de golpe que pôs fim ao PREC, subiram ao palco do mítico Rock Rendez-Vous. Era o primeiro concerto da banda e, aos acordes iniciais, a voz de Pregal da Cunha ameaçou falhar. “Foi atemorizante”, classifica hoje. À quinta música, entra a polícia. O sobressalto foi geral, mas afinal era só um carro mal estacionado que estava a impedir que o autocarro passasse na Rua da Beneficência.

“Toma o Comprimido” e “Não me Consumas”: a estreia de Variações na televisão

A 3 de maio 1981, António Variações estreou-se na televisão, mais precisamente no programa “Passeio dos Alegres”, o ponto alto das tardes de domingo. Além de apresentador, Júlio Isidro era também o olheiro de serviço, a quem bastou uma ida ao salão de Isabel Queiroz do Vale para travar conhecimento com o promissor artista. Dias depois, António saía da bolha de amigos e boémios que até então o tinham ouvido e interpretou “Toma o Comprimido” e “Não me Consumas” perante uma audiência nacional.

As roupas escuras e o visual comedido camuflaram a extravagância que lhe era própria. “Aquele momento não teve o impacto que hoje se diz. Quem viu achou muito diferente, mas há uma diferença entre isso e ficar rendido. Viram e gostaram, mas não ouviram na rádio e esqueceram”, conta David Ferreira, na altura ao serviço da Valentim de Carvalho, responsável pela divulgação dos artistas e bandas junto das rádios nacionais. Mas a aparição televisiva funcionara como rampa de lançamento. Depois do programa, Júlio Isidro convidaria o cantor para a “Febre de Sábado de Manhã”, programa da Rádio Comercial transmitido ao vivo a partir do Nimas, em Lisboa.

António Variações: o músico estreou-se em televisão em maio de 1981

LUSA

Mas o sucesso de Variações não foi instantâneo — 1981 teve outros êxitos, entre eles os Grupo de Baile e Maria Armanda, que vendeu 100 mil discos graças ao tema “Eu Vi Um Sapo”. “Isto nunca aconteceu com o Variações. Foi importante ter aparecido na televisão, mas se tivesse sido assim tão marcante, teria ido logo gravar”. O entusiasmo só viria no ano seguinte, quando lança o original “Estou Além”. “Quando ouvi pela primeira vez o disco do António, fiquei tão entusiasmado que disse logo que aquilo tinha de passar na rádio. Mandei à Ana Bola e pedi que ouvisse com atenção, quando ela afinal já estava a passar o disco naquela tarde”.

A relação entre David e António estreitou-se com o tempo. Este começou por se apresentar como “António & Variações”. “Quem são os Variações? São um grupo permanente?”, perguntou-lhe um dia. “Não, é quem pode”, respondeu. O episódio precipitou o derradeiro batismo, urgente quando até o próprio artista admitia que António Ribeiro “não era grande nome”. “Na imagem ele sabia muito bem o que queria. No som, andou à procura”, continua Ferreira.

[A última aparição de Variações em televisão, em janeiro de 1984, no programa “A Festa Continua”]

Dos três videoclipes gravados por Variações, dois foram escritos por David — “O Corpo é que Paga” e “É p’ra Amanhã”, ambos de 1983 –, mas só porque “o ‘Estou Além’ foi o António a rebolar na praia”. “Os figurantes eram de borla. Lembro-me de oferecer um EP às duas miúdas que aparecem a jogar badminton no ‘É p’ra Amanhã'”.

Depois do ano em que, timidamente, se deu a conhecer num país conservador e retrógrado, António Variações foi um sucesso indiscutível entre 1982 e 1983. Morreu em junho de 1984, poucos meses depois da sua última aparição em televisão, também com Júlio Isidro — esteve em vias de não acontecer dado o seu debilitado estado de saúde. “Foi um período de recessão para o rock português, mas ele esteve em contraciclo. Ele foi muito importante, mas o mundo não muda de repente. Quando ele morre, ninguém quer tocar o Dar & Receber por causa da homossexualidade e da sida. Havia muito preconceito e o António saiu muito devagarinho do castigo a que esteve votado”.

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