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ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

A neta do Fernando está no Congresso e não tem dúvidas: “Conclusões de Mueller foram editadas para proteger Trump”

Lori Loureiro é a primeira lusodescendente a ser eleita para o Congresso. O avô era um carpinteiro do Porto chamado Fernando. Congressista admite "impeachment" de Trump, mas só com provas claras.

Lori Loureiro Trahan é neta de Fernando Loureiro, um carpinteiro do Porto que emigrou para os Estados Unidos. Eleita pelo terceiro distrito do Massachusetts em novembro, Lori tornou-se na primeira lusodescendente no Congresso dos EUA. Estudou sempre em escolas públicas, chegou a ser ardina e jogou voleibol em Georgetown. Foi a primeira e única da família a licenciar-se. Pouco depois de acabar a universidade, chegou a Washington como chefe de gabinete de Marty Meehan numa delegação só composta por homens. Seguiu depois uma carreira no privado, mas acabou por voltar pela porta grande: como eleita.

Já tinha estado uma vez em Portugal, mas voltou agora, naquela que é a sua primeira visita ao estrangeiro como congressista. Chegou à Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento de uber, para a entrevista com o Observador, e não precisou que ninguém lhe abrisse a porta. Quer apostar nas relações com Portugal durante o mandato que só começou há cinco meses. Como comentava uma assessora da FLAD: “É a nossa Ocasio-Cortez”.

Lori Trahan  — que estava no Capitólio quando avançou o impeachment de Clinton — só admite que se inicie o processo de impeachment de Trump se houver provas claras, para que norte-americanos não fiquem com ideia que é uma questão partidária. Mas diz que conclusões de Mueller foram “editadas” pelo procurador-geral antes de chegar ao Congresso.

Um dos debates mais quentes nos Estados Unidos atualmente tem a ver com o processo de impeachment a Donald Trump. Há fundamentos para avançar com o impeachment?
O Congresso deve continuar a investigar. O ex-procurador-geral Robert Mueller confirmou aquilo que todos já achávamos: o relatório não iliba o presidente Donald Trump. Mas o Congresso neste momento está concentrado em obter uma cópia integral do relatório e em conseguir que Robert Mueller testemunhe publicamente, de forma a conseguirmos solidificar o caso. Isso é importante porque tornaria tudo claro para os americanos e punha de parte a ideia de que se trata de um processo partidário. Um impeachment não pode ser visto pela população como uma coisa partidária. Para isso, os factos têm de ser claros e evidentes para todos. Se assim for, estaremos a fazer um favor ao país como um todo. Aliás, eu fazia parte do staff quando se iniciou o impeachment a Bill Clinton e posso garantir que é o processo que mais divide o país. Tudo o resto fica suspenso, parado.

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"Um impeachment não pode ser visto pela população como uma coisa partidária (...) Eu fazia parte do staff quando se iniciou o impeachment a Bill Clinton e posso garantir que é o processo que mais divide o país."

Ainda assim, há alguns democratas que acham que o impeachment devia avançar já.
Não acredito que haja alguém que acredite que nós não devíamos iniciar procedimentos que nos permitissem obter provas e esclarecer factos. Mas eu acho que, como temos tido novidades nas audições que temos feito, é preciso que o Congresso por agora continue a investigar. O importante nesta altura é estarmos no caminho que nos leve a descobrir toda a verdade. Assim vamos conseguir recolher todas as provas necessárias para dar início a um impeachment e de forma transparente, sem que possa ficar a ideia de que se tratou de um processo exclusivamente partidário.

As conclusões do relatório Mueller foram importantes para fortalecer os fundamentos de quem defende o impeachment?
É preciso dizer uma coisa: tenho a convicção de que as conclusões do relatório foram editadas pelo Procurador-Geral, que já toda a gente sabe que trabalha para o presidente Trump e não para a população norte-americana. É por isso que é importante que o Congresso tenha acesso ao relatório completo, não rasurado, para que consigamos analisá-lo na íntegra e sem que nos seja vedada a informação. Por isso é que a conferência de imprensa que Robert Mueller deu na quarta-feira é tão importante. A mensagem que passou foi clara: o presidente não está ilibado. Disse até que se estivesse inocente teria escrito isso no relatório. Mas não o fez. Mueller teve constrangimentos ao longo da sua investigação e não conseguiu chegar a uma conclusão sobre se Trump é ou não culpado. Deixou esse papel para o Congresso. E é por isso que, agora mais do que nunca, o Congresso tem de continuar a reunir os factos e as provas para dar seguimento ao trabalho de Mueller.

É preciso dizer uma coisa: tenho a convicção de que as conclusões do relatório foram editadas pelo Procurador-Geral, que já toda a gente sabe que trabalha para o presidente Trump e não para a população norte-americana. 

Deixando a parte judicial de parte e olhando para a política, como é que avalia o mandato de Donald Trump até agora?
Não acho que Trump seja um bom presidente para os Estados Unidos. Não creio que as suas políticas sejam boas para o mundo em geral. Acho que andámos para trás nas relações diplomáticas com os nossos aliados, deixámos de ser os líderes no combate às alterações climática e na defesa do ambiente. E mesmo que a nossa economia esteja a crescer não podemos dizer que se trata de uma economia que beneficie toda a gente. Por isso creio que temos de voltar ao caminho certo e é isso que vamos tentar fazer a partir de 2020. Aliás, esse é um processo que começou em 2018 quando os democratas voltaram a controlar o Congresso com o conjunto de políticos mais diversificado e fresco que já existiu. Acho que as pessoas já perceberam que aquela é a sua casa, a que os representa, e querem que seja um espelho da sociedade. Foi por isso que me candidatei em 2018.

Não acho que Trump seja um bom presidente para os Estados Unidos (...) Acho que andámos para trás nas relações diplomáticas com os nossos aliados, deixámos de ser os líderes no combate às alterações climática e na defesa do ambiente.

Sente que os americanos olham para Donald Trump de forma diferente agora? Foram eles que o elegeram. Sente-se alguma desilusão entre o eleitorado dos Estados Unidos?
As eleições intercalares de 2018 provaram que as pessoas não estão satisfeitas com o rumo que o país tem seguido. Acho que as intercalares costumam funcionar como uma forma de medir a perceção que as pessoas têm da Administração. E a de 2018 foi clara. Ganhámos em 44 distritos onde os republicanos tinham vencido antes. Mas a questão que é verdadeiramente um desafio é fazer com que Washington volte a funcionar para todos, especialmente para as famílias de classe média e da classe trabalhadora. Quando Washington se fecha sobre si própria ou se torna demasiado partidarizada as famílias como aquela em que eu cresci sofrem de forma desproporcional. E foi por isso que tanta gente se candidatou ao Congresso em 2018. Temos de continuar esse caminho. Essa é precisamente uma das questões que me levam a ser cautelosa com o impeachment. Acho que ainda não fizemos o suficiente para responder aos problemas reais das pessoas. Um impeachment ia paralisar tudo o resto. E não é isso que as pessoas querem.

ANDRÉ DIAS NOBRE/OBSERVADOR

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Então iniciar um processo de impeachment seria como desperdiçar esta nova arquitetura no Congresso?
É possível apostar em duas frentes ao mesmo tempo. Isso é como eu olho para o meu papel. Tenho de me bater para que esta Administração possa trabalhar, que é um dever constitucional que eu tenho como congressista, mas também tenho de defender o caminho que creio ser mais correto na luta contra as alterações climáticas ou para o sistema de educação. Não podemos é olhar apenas para um dos aspetos.

Esse é o caminho a seguir para uma vitória dos democratas em 2020?
Essas eleições vão ser determinantes e há várias coisas que vão estar em jogo. Uma das mais importantes é a proteção da nossa democracia. Nos últimos anos vimos como as nossas instituições podem ficar ameaçadas se houver uma Administração que ignora o Congresso, por exemplo. Essa é uma dinâmica de funcionamento muito perigosa e nós não podemos permitir que se mantenha sob a nossa alçada. E acho que a população norte-americana não quer ver as suas instituições em degradação. Mas não só. Acho que as pessoas querem que o Congresso em si trabalhe e funcione bem, querem ver democratas e republicanos a trabalhar em conjunto pelo bem do país, por reformas estruturais, como já aconteceu no passado. Mais do que tudo isto, acho que os eleitores querem ter a certeza de que se houver uma nova crise económica nós estaremos lá para enfrentá-la.

No seu partido existem atualmente 23 candidatos às primárias. Isto é o reflexo de alguma divisão interna?
No seio do partido democrata sempre houve várias pessoas com ideias diferentes. Somos um partido com muitas tendências internas. Mas não acho que isso seja sinónimo de divisão. Acho que há muitas pessoas com prioridades diferentes mas com os mesmos valores. Há ideias básicas e gerais com as quais todos os candidatos estarão de acordo. O processo das primárias é muito rigoroso e creio que no fim acabará por emergir o melhor candidato.

"No seio do partido democrata sempre houve várias pessoas com ideias diferentes. Somos um partido com muitas tendências internas. Mas não acho que isso seja sinónimo de divisão."

No seu caso já declarou apoio à senadora Elizabeth Warren. Porque é que a considera a melhor candidata?
Não há ninguém no campo dos candidatos democratas que dê tanta importância à desigualdade económica no país como a senador Warren. E é esse o maior desafio que o nosso país enfrenta. Tive a oportunidade de fazer campanha com ela, no ano passado, quando concorremos pelo nosso estado [Massachussets] ao Senado e ao Congresso, e posso dizer que ela é uma pessoa que se entrega genuinamente às suas propostas.

O combate à desigualdade que refere é também a sua prioridade?
É o maior desafio que temos como país. Há muito tempo, aliás. O meu avô nasceu no Porto e foi para os Estados Unidos para tentar dar um rumo à sua vida. Começou como carpinteiro. Mas não foi para a universidade. Eu fui a primeira pessoa da minha família a ir para a universidade, que é o tipo de caminho que vendemos quando falamos no “sonho americano”. Mas há muito mais oportunidades além das universidades. Há pessoas que não conseguem ou não querem entrar no ensino superior e nós não estamos a falar para elas, não estamos a combater essa desigualdade. Essas pessoas têm de ter os mesmos direitos que as outras, têm de poder construir a sua família como os outros. Se olharmos para as propostas que a Elizabeth Warren tem apresentado para dar mais oportunidades a mais pessoas conseguimos perceber que está muito empenhada e que ninguém tem conseguido acompanhá-la.

Ela está na corrida com nomes mais populares e mais conhecidos dos eleitores, como Joe Biden ou Bernie Sanders. Como é que a senadora Warren vai conseguir competir com eles?
Claro que o Bernie Sanders e o Joe Biden têm um reconhecimento maior. Muitas vezes nas primárias este tipo de nomes recebe um boost inicial importante. Mas acho que isso depois se esbate. Vão existir muitas visões válidas nesta corrida. Estou completamente impressionada com o calibre do nosso rol de candidatos, assim como com a quantidade de mulheres que já se apresentaram. Acredito mesmo que o debate vai estar focado em causas e ideias para mudar a direção do nosso país. E isso é revigorante. Mas ainda não nos podemos distrair já com isso. Às vezes sinto que tenho de pôr palas nos olhos para me concentrar no trabalho e não olhar já para a campanha.

Olhando para as eleições de 2016 muitos analistas consideraram que o partido democrata falhou por não ter falado para um eleitorado tendencialmente favorável: a classe média e a classe trabalhadora. Retiraram alguma lição dessa experiência? Sente que o partido já fala para essa fatia do eleitorado?
Creio que sim. Nas intercalares de 2018 o partido democrata deu voz a várias fatias do eleitorado. Falámos da necessidade de alargar o serviço de saúde, da necessidade de baixar o preço dos medicamentos, de aumentos salariais. Os assuntos que estão a estrangular a classe trabalhadora e as famílias de classe média que se batem por ter as contas em dia e não entrarem em colapso financeiro. Fomos resilientes e ouvimos as pessoas, não apenas aquelas que costumam votar em nós. Mas falámos dos problemas reais das pessoas. Afinámos o discurso e tivemos sucesso.

Esquecer essas classes, a trabalhadora e a média, foi o grande erro de 2016?
É muito difícil reduzir essa derrota a uma única razão. Quando tento perceber as razões que levaram algumas das pessoas a votarem neste presidente concluo que alguns podem ter pensado que ia haver uma mudança de paradigma. E, nesse sentido, acho que os democratas podem ter falhado. Talvez não tenhamos conseguido fazer as pessoas entenderem que também queríamos falar para elas. Mas não foi a única razão.

É uma descendente de emigrantes, como já referiu. Como é que olha para a insistência de Trump em avançar com um muro na fronteira com o México?
Não podia estar mais contra. Por duas razões. A primeira porque não nos simboliza como nação. Não é isso que somos. Eu cresci numa família repleta de imigrantes, desde o meu avô que veio de Portugal até à minha avó que nasceu no Brasil. E mesmo o bairro em que cresci era composto por famílias com histórias semelhantes a esta. Nós sempre fomos um país que soube receber os imigrantes. E em segundo lugar, sou contra a construção do muro porque nunca houve um argumento que dissesse que era com um muro que se resolvia os problemas de que o presidente tanto gosta de falar sobre a nossa fronteira, como o tráfico de droga, por exemplo. Há muitos assuntos prioritários, que vêm antes deste. Francamente, o Congresso não debateu nem trabalhou para avançar com uma reforma sobre a imigração, que é o que precisamos de fazer, porque as nossas leis são velhas. Precisamos de atualizar a nossa legislação tendo sempre em conta a nossa segurança nacional. E isso é um papel que o Congresso deve desempenhar. Não o do muro. Esse é irresponsável.

"Nós sempre fomos um país que soube receber os imigrantes (...) Sou contra a construção do muro porque nunca houve um argumento que dissesse que era com um muro que resolvesse os problemas de que o presidente tanto gosta de falar sobre a nossa fronteira, como o tráfico de droga"

Existem neste momento 23,7% de mulheres no congresso. É o valor mais elevado de sempre, mas mesmo assim baixo. Em Portugal e mesmo na União Europeia temos quotas de género. Concorda com a existência de quotas?
Nos Estados Unidos não existe. O que me levou a concorrer foram as eleições de 2016, para mim estava claro que o país estava a ir na direção errada. Eu estava a trabalhar no setor privado e muitas vezes era a única mulher sentada na sala da administração, mas eu via o que acontecia quando havia mais mulheres sentadas à mesa: melhores conversas, melhores decisões e melhores resultados. Por isso quando olhei para o Congresso, quando lá comecei a trabalhar há mais de 20 anos e acabada de sair da universidade, não queria acreditar que só havia 19% de mulheres. E também não sabia que estava a ter o mesmo pensamento de milhares de outras mulheres ao longo de todo o país e que chegaríamos a ao último ano (2018) com milhares de mulheres a concorrerem ao congresso. Mas é muito claro para mim que precisamos de mais mulheres e precisamos de mais diversidade na Câmara dos Representantes. E foi isso que vimos no último ano: esses tais 23,7%. E eu penso que de 20 em 20 anos, vamos ter cada vez mais. Neste momento as mulheres estão galvanizadas com a ameaça de se voltar atrás na conquista do ‘Roe v. Wade’ [sentença histórica que abriu caminho à despenalização do aborto], ao ponto de serem retirados cuidados de saúde [a mulheres que interrompam voluntariamente gravidez]. Isto vai levar ainda mais mulheres a irem a votos. Para não falar da frustração porque os direitos das mulheres não estão a ter os mesmos progressos que existem, por exemplo, na Europa. Nós não temos igualdade salarial, nem pagamento igual para trabalho igual. Não temos creches acessíveis. Ainda temos uma taxa de mortalidade materna incrivelmente alta, especialmente nas mulheres de cor. Isto é o tipo de coisas em que devíamos estar a liderar. E não estamos. E por isso estamos frustradas. Eu penso que nas próximas eleições vamos ver mais mulheres a concorrer do que em 2018 e vamos ver mais mulheres a ganhar.

Portanto, não é preciso legislação para impor essa presença das mulheres?
Penso que não é necessário. Se houver algo que esteja a bloquear as oportunidades das mulheres em concorrer, então temos de o discutir e olhar para isso. Mas neste momento não vejo isso. É difícil diagnosticar a razão pela qual não concorreram mais mulheres no passado, mas quando concorreram, ganharam. Tivemos bons resultados. Quando era criança nunca via nenhuma mulher a concorrer. Quando fazia parte do staff no Capitólio, na delegação do Massachussests não havia uma única mulher. Eu era chefe de gabinete numa delegação que só tinha homens. Por isso, eu assisti à delegação de Massachussets passar de zero para quatro mulheres. É impossível pensar que as minhas filhas nunca vão ver uma mulher concorrer para presidente. No futuro, ver mulheres a concorrer para o congresso não vai ser especial, não vai ser extraordinário. Quando virmos uma mulher a concorrer vai ser apenas isso: uma mulher a concorrer.

ANDRÉ DIAS NOBRE/OBSERVADOR

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Tem 45 anos, se quiser tem, pelo menos, mais 20 ou 25 anos de carreira política. Ou mais ainda se virmos o exemplo de Trump ou Sanders.
Eles não são o exemplo que sigo. (Risos)

Mesmo assim poderá ser uma longa carreira. Quais são suas ambições  políticas? Até onde quer chegar?
Eu não gosto de pensar que estou na fila. Eu não penso nisso. E uma das razões pelas quais eu acho que não penso nisso é porque estou muito focada em desempenhar estas funções. Trabalhei muito para chegar a este cargo. Foi uma entrevista de emprego dura. Enfrentei umas primárias com 10 candidatos, num período de campanha longo, e ainda tenho muito a provar neste cargo. E é nisso que estou focada.

Então nunca ambicionou ocupar cargos mais altos?
Não tenho ambições desse género e, para ser honesta, nunca tive. Já mudei de profissão várias vezes. Passei dez anos no Capitólio após a universidade, depois fui para a área tecnológica. Fui executiva de uma startup durante vários anos, depois abri a minha própria empresa de consultadoria. Uma das coisas que me tem ajudado na minha carreira é perceber o ponto de inflexão. A minha história é uma história importante para as pessoas que vêm de sítios pequenos, porque eu não quero que se esqueçam que os meus avós vieram de outro país para os EUA à procura de novas oportunidades e que agora faço parte de uma geração habilitada para servir o país. Quero que essas pessoas saibam que podem vingar através da escola pública e ter oportunidades  na vida. Eu andei sempre em escolas públicas e fui a primeira pessoa na minha família a tirar a licenciatura e isso abriu-me as portas para o sucesso. E eu quero que as jovens mulheres pensem nisso e que pensem no seu futuro. E que as jovens em todo o mundo acreditem que podem ter um papel a desempenhar naquilo que será o futuro das suas crianças, quer seja a nível das alterações climáticas, da segurança económica, elas têm um papel a desempenhar. As mulheres têm uma voz forte nestas matérias e quero que isto se contagie pelo mundo. Não quero que isto seja episódico ou que fique no bolso. Acho que teremos um mundo mais pacífico se houver mais mulheres a governar porque pensamos de forma mais pragmática relativamente ao futuro das nossas crianças. Por isso eu estou a pensar seriamente no meu papel e sobre a forma como vou usar isso como uma forma de inspirar e convencer mais mulheres a fazer isto.

Portanto, não se vê como membro de uma administração ou presidente dos EUA?
Não estaria a fazer o meu trabalho se estivesse a pensar nisso.

ANDRÉ DIAS NOBRE/OBSERVADOR

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Apoia o Obamacare. Em Portugal, temos um Serviço Nacional de Saúde, não sei se conhece?
O vosso é um sistema de pagador único?

Temos um sistema público gratuito para todos, com exceção das taxas moderadoras, pago pelo Estado. Mas que tem as suas falhas. É uma referência para si?
O sistema de saúde está neste momento a ser discutido nos EUA porque o Affordable Care Act [Lei de Proteção e Cuidado ao Paciente, conhecida por Obamacare] já demonstrou não ser assim tão acessível para muitas pessoas. E a razão para isso é que ele tem sido progressivamente desmantelado. Foi pensado para reduzir os preços, mas por ação dos republicanos foi sendo desvirtuado. Há uma coisa importante que o ACA não foi capaz de garantir que foi cuidados de saúde para pessoas em “pre-existing condition” [condição médica existente antes da entrada em vigor do seguro, que dava às seguradoras o poder de não aceitar segurar um paciente]. Dou sempre este caso: o meu pai tem esclerose múltipla e ele vivia com medo que o seu seguro de saúde fosse descontinuado e de não conseguir encontrar outro porque ninguém quer segurar alguém que tem um nível de risco de ter custos elevados. Isto é discriminatório. E nós lutamos todos os dias. Estamos a lutar nos tribunais, no Congresso, para proteger as pessoas que têm uma “pre-existing condition” e que têm seguro de saúde para que não deixem de estar seguradas. Temos de fazer melhor. Nós temos um sistema de seguros privado, mas podemos oferecer uma opção pública para estender a cobertura a todos no país. Quanto ao vosso sistema, eu apoio todos os sistemas que deem uma cobertura universal porque acredito que o acesso aos cuidados de saúde é um direito fundamental.

ANDRÉ DIAS NOBRE/OBSERVADOR

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Já respondeu a isto antes de começarmos a gravar, mas é a primeira vez que vem a Portugal?
Só cá estive uma vez antes desta. E a razão pela qual eu fiz desta viagem uma prioridade (esta é a minha primeira viagem como membro do Congresso) é porque temos uma forte presença portuguesa, e especialmente açoriana, em Massachussets. Não só no distrito que eu represento, mas também em outras zonas como Fall River ou New Bedford. Todos temos a ganhar em estreitar as relações entre os dois países.  Há muitas coisas que podemos fazer, quero explorar isso. Eu tenho assento no comissão das Forças Armadas e na comissão de Educação. E é sempre importante reforçar as relações económicas e militares. E é óbvio que temos uma excelente relação militar, os dois países fazem com regularidade exercícios em comum e tiveram missões militares em conjunto, como no Afeganistão, portanto é certo que as relações continuam fortes.

Neste evento vai estar com vários congressistas lusodescendentes. Acredita que é possível criar um lóbi de lusodescendentes no Congresso? Já existe?
Eu sou co-chair do Conselho de Liderança Luso-americano (PALCUS, na sigla inglesa). Este conselho é importante, mas juntar forças com os parceiros do nosso estado é também muito importante. Porque muito do que se passa é decidido ao nível do Estado e muito do que é decidido no país a nível nacional é liderado pelo estado de Massachussets. Ter uma boa relação a nível do estado ajuda a defender a posição de Massachussets a nível nacional, o que também ajudará às relações entre os dois países.

Devin Nunes é dos membros da Câmara dos Representantes que mais tem dinamizado este grupo e também é dos que ocupa um cargo mais de destaque. Tem uma boa relação com ele, apesar de ser republicano?
Ainda não nos conhecemos. Um dos motivos para isso é o facto de eu só estar no Congresso há cinco meses e outro é porque não estamos juntos em nenhuma comissão. Ele está na comissão de inteligência e a maior parte das relações que os congressistas criam, principalmente quando acabamos de chegar, é com as pessoas que se sentam perto de  nós. Mas tenho a certeza que daqui para a frente nos vamos encontrar e havemos de encontrar pontos em comum em assuntos que envolvem as relações entre Portugal e os EUA. Talvez porque vim do sector privado eu quero procurar oportunidades para trabalhar em conjunto com os republicanos no que for possível. Às vezes pode ser um trabalho difícil, mas essa é mais uma razão para tentarmos.

Sabe alguma coisa sobre política portuguesa?
Vai começar a fazer-me um quiz?

Não. Não se preocupe. O nosso governo funciona com uma solução de esquerda inédita. Esta visita também serve para aprender com outros exemplos
Neste momento eu sou uma esponja. Quando vemos algo único, queremos aprender e ver de que forma podemos aplicar isso a nós próprios. Vou certamente encontrar-me com várias pessoas do vosso governo e aprender com elas. Aprendemos com as nossas experiências, mas também é importante aprender com as experiências dos outros países.

ANDRÉ DIAS NOBRE/OBSERVADOR

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Vamos agora propôr-lhe um desafio de perguntas rápidas para respostas rapidíssimas:

Game of Trones ou House of Cards?
Game of Trones.

Bush ou Trump?
Bush.

Washington ou New York?
(Risos) Washington.

Portugal ou Brasil?
Portugal. A minha avó ficaria desiludida se ouvisse. Bem, se calhar respondia o mesmo porque tem raízes nos Açores.

Bernie Sanders ou Joe Biden?
Eu escolhi a Elizabeth Warren.

Comunismo ou Tea Party?
Conseguimos fazer melhor do que isso.

Casamento entre pessoas do mesmo sexo. Sim ou não?
Sim.

Eutanásia. Sim?
(Hesitou). Sim. Nunca me fizeram esta questão nos EUA.

Sabe alguma palavra em português?
Obrigado. Bom dia.

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