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MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

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A noite mais difícil do PSD-Madeira, que conseguiu cantar vitória graças ao CDS

O PSD perdeu a maioria absoluta mas encontrou-a no CDS. O PS foi o único a crescer, à custa da queda do JPP, da CDU e do BE, que sai do parlamento regional. Assim foi a noite eleitoral na Madeira.

Reportagem na Madeira

De cerveja na mão, camisa aberta por baixo do fato azul e a distribuir uma média de um abraço por degrau. Foi assim que Miguel Albuquerque começou a descer a escadaria da sede do PSD-Madeira para ir para o exterior, onde um grupo de algumas dezenas de apoiantes o aguardava de bandeiras e cachecóis estendidos. “Que grande votação, pá! Que grande votação!”, ia repetindo, cumprimento após cumprimentos. Quando chegou à rua, pegou numa bandeira, tomou a dianteira do grupo e seguiu rua abaixo. Depois do sufoco provocado pelas projeções, substituído mais tarde pelo alívio dos resultados finais, tinha chegado a altura de festejar a vitória — sem maioria absoluta — do PSD nas regionais da Madeira.

A comitiva laranja seguiu rua abaixo rumo à Praça do Município. Foi lá que Miguel Albuquerque parou para mais abraços, algumas selfies e uma foto de família. O local não foi escolhido ao acaso. “Invadimos a Praça do Município para mostrar que a vamos reconquistar daqui a dois anos”. A declaração é todo um programa: o próximo objetivo do líder do PSD-Madeira é recuperar a autarquia da capital madeirense, perdida em 2013 para… Paulo Cafôfo. Um momento simbólico que serve sobretudo para demonstrar que o presidente do governo regional da Madeira não quer baixar os braços na luta contra o crescimento dos socialistas — que elegeram 19 mandatos, o melhor resultado de sempre numas regionais no arquipélago, ainda que insuficiente para impedir mais uma vitória do PSD na ilha.

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O ambiente de festa na sede do partido no Funchal só começou a ser preparado no momento em que os sociais-democratas receberam a notícia de que iam eleger 21 dos 47 assentos no parlamento regional. A maioria absoluta ficava a três mandatos. Precisamente o número de deputados que o CDS elegeu. Contas e leituras feitas: o PSD e o CDS coligados podem ter a maioria absoluta do parlamento regional. Não era a maioria absoluta que o PSD teve na Madeira nos últimos 43 anos, era aliás o pior resultado de sempre do partido, mas era a garantia de que os sociais-democratas iam poder continuar com a presidência do governo regional. Ainda que cedendo algumas secretarias regionais aos centristas, um entendimento com o CDS impede assim o PS de Paulo Cafôfo e a esquerda de montarem uma “geringonça madeirense”.

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Poucos minutos passavam das 22h00 quando os apoiantes do PSD puderam começar a festejar a vitória, entre gritos de alívio e músicas de campanha, ainda no interior da sede. Só nesse momento é que os sociais-democratas começaram a aparecer na sala onde ia decorrer a intervenção de Miguel Albuquerque. “Isto foi um suplício”, comentou uma apoiante social-democrata enquanto abria uma garrafa de água para de seguida a beber quase de um só trago.

Madeira. PSD e CDS vão negociar governo

Maioria absoluta ou coligação? Vitória

“A extrema-esquerda e o PS foram derrotados na Madeira“. Foi desta forma que Miguel Albuquerque começou o discurso de vitória. Era neste dado que estava a chave para que o presidente do PSD-Madeira pudesse ter condições para formar governo, já que só admitia estender a sua base de entendimento a um partido: o CDS. Se há quatro anos tinha segurado a maioria absoluta por um mandato apenas, agora, sem maioria, conseguia em conjunto com os centristas assegurar uma maioria também por um deputado apenas.

Quando chegou à rua, pegou numa bandeira, tomou a dianteira do grupo e seguiu rua abaixo. Depois do sufoco provocado pelas projeções, substituído mais tarde pelo alívio dos resultados finais, tinha chegado a altura de festejar a vitória -- sem maioria absoluta -- do PSD nas regionais da Madeira.

Na sua intervenção, tentou sempre evitar falar da histórica perda de maioria absoluta preferindo destacar a derrota do PS e de António Costa, que acusou de ter querido controlar os destinos da região através do candidato socialista a estas eleições, e ia sublinhando factos que permitiam dar mais cor ao quadro de vitória. “Mantivemos o mesmo número de votos de há quatro anos: 56 mil votos”, afirmou, ignorando que o universo de eleitores subiu e que a percentagem de votação no PSD desceu.

A declaração porque todos esperavam veio de seguida: “Estamos disponíveis para formar governo num quadro de estabilidade”. Como especificou mais tarde em resposta aos jornalistas, Albuquerque estava a falar apenas de um cenário: “Um governo de coligação com o CDS”. A estabilidade para o líder do governo regional não se consegue através de posições conjuntas ou apoios parlamentares mas sim com uma coligação formal.

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Este era o cenário em que os sociais-democratas da Madeira depositavam mais esperanças. Não foi ao acaso que Miguel Albuquerque revelou que já tinha falado com Rui Barreto nos últimos dias e que anunciou que pretendia continuar a fazê-lo, agora com resultados em cima da mesa e com a noção real do peso de cada partido.

Independentemente de ter perdido percentagem, de ter deixado cair a maioria absoluta e de ter ficado com menos três deputados — o PS foi o único partido que cresceu em relação há quatro anos, todos, sem exceção, perderam mandatos –, Albuquerque cantou vitória juntamente com todos os apoiantes presentes este domingo na sede do partido, que assim que terminou o discurso subiram ao último andar da sede para dançar e beber cerveja.

Uma festa que durou até ao momento em que o rosto desta vitória social-democrata decidiu trazê-la para a rua. Satisfeito e aparentemente pouco preocupado por o PSD ter de, pela primeira vez, partilhar a governação da ilha com outro partido, ia cantando os hinos da sua campanha entre cumprimentos e festejos. “Mantivemos a nossa votação. Que grande vitória”, dizia sempre que um jornalista se aproximava. Agora, à direita, é tempo de negociar.

Antes da bonança, quase havia tempestade

As três horas anteriores tinham sido passadas com as hostes sociais-democratas a falarem de vitória mas ainda com a incerteza quanto aos resultados do CDS, que determinariam se seria possível haver uma maioria de direita no hemiciclo ou se a ambição de Cafôfo para liderar uma coligação alternativa tinha pernas para andar. Era necessário perceber a margem com que iam ganhar antes de poder festejar.

Os poucos membros do partido que iam dando sinais de vida tentavam mostrar um ar de tranquilidade, mas o nervosismo era indisfarçável. Prova disso foi a primeira reação oficial, que coube ao atual presidente da Assembleia Regional e número três na lista do PSD-Madeira, José Tranquada Gomes. “Esperamos estar em condições de oferecer uma maioria estável e de Governo, que é fundamental para a Madeira”. Por esta altura, a possibilidade de haver uma “geringonça” ainda não estava fora de hipótese. “Se isso acontecer será preocupante”, confessou. Evitava-se que o foco se centrasse na perda de maioria absoluta, dizendo que ainda era cedo para fazer leituras de resultados.

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Havia apenas duas análises que saltavam à vista e que ao longo da noite foram sendo feitas pelos vários partidos, independentemente da existência de números oficiais: a bipolarização do sistema, “com um voto útil no PS”, como referiu Miguel Albuquerque, e “a diminuição da abstenção”. Mais do que isso era especular, defendia-se na sede do PSD.

Certo é que por todas as sedes de campanha havia certamente pessoas agarradas às calculadoras para tentar perceber qual seria o desfecho. Havia poucos dados. “A noite vai ser longa”, disse um social-democrata aos jornalistas, adivinhando o que se seguiria.

Foram três horas a tentar disfarçar o nervosismo e a tensão. A palavra de ordem era precaução. Até haver resultados oficiais ninguém poderia entrar em euforias, por melhor que a tendência de voto evoluísse a favor dos sociais-democratas. Foi por isso que o momento da conclusão da contagem foi tão festejado na sede. Foi ali que todo o nervosismo pôde ser libertado e transformado em euforia.

A sala onde ia falar Miguel Albuquerque começou a encher-se de pessoas que até então tinham estado desaparecidas mas que surgiam visivelmente satisfeitas. “O que importa não é termos perdido a maioria absoluta, é a direita ter maioria”, dizia um apoiante que abraçava outro.

A derrota dos outros também se celebra

Nunca os sociais-democratas madeirenses tinham passado por um momento de incerteza tão grande. As maiorias absolutas dos últimos 43 anos tornavam este momento especial, porque novo, para todos quantos estavam na sede.

Por esta altura começavam as primeiras reações. O facto de o Bloco de Esquerda perder a representação parlamentar — perdeu os dois deputados que tinha no parlamento regional — foi festejado à frente das televisões. “Surreal! Nem um, é que nem um!”, comentava-se na sede social-democrata.

A CDU passou de ter dois mandatos para ficar apenas com um e o Juntos Pelo Povo passou dos cinco para os três. Todas estas informações foram festejadas na sede. Não só por ser “a derrota da extrema-esquerda”, como sublinhou Miguel Albuquerque no seu discurso de vitória, mas por ser a redução da margem de negociação do PS. “É o que dá apoiarem o Cafôfo”, brincava um jotinha satisfeito.

De todos os partidos pequenos, o que suscitava maior interesse era o CDS. Era na reação de Rui Barreto, presidente centrista na Madeira, que estariam os primeiros sinais para entender se havia possibilidade de formar governo ou não. Os centristas também caíram — passando de sete para três deputados — mas ganharam influência. “Não há maioria absoluta sem o CDS”, congratulava-se o líder do partido. A nota mais importante a retirar do discurso era a disponibilidade para formar governo com o PSD: “O centro-direita venceu as eleições e a esquerda perdeu”, disse Rui Barreto.

De todos os partidos pequenos o que suscitava maior interesse era o CDS. Era na reação de Rui Barreto, presidente centrista na Madeira, que estariam os primeiros sinais para entender se havia possibilidade de formar governo ou não. Os centristas também caíram -- passando de sete para três deputados -- mas ganharam influência. “Não há maioria absoluta sem o CDS”, congratulava-se o líder do partido.

Uma intervenção que Paulo Cafôfo viu com outros olhos. Ou pelo menos ignorou. Já que, minutos depois, surgia nas televisões a reagir aos resultados com um ar muito satisfeito. Depois de dar os parabéns ao PSD pela vitória, o candidato socialista soltou uma frase que deixou os sociais-democratas que o ouviam na sede do PSD confusos: “O PS está disponível para liderar uma base de entendimento com os partidos da oposição para formar governo na Madeira”. Silêncio.

“Ele não viu bem, a esquerda não tem resultados para isso!”, reclamava uma social-democrata. “Ele está a contar com o CDS”, explicava um outro apoiante, intrigado. Assim que a explicação foi dada houve até quem tivesse soltado um riso. “Ele não ouviu o [Rui] Barreto, só pode”, comentou um terceiro. Uma frase que teria o seu complemento no discurso de Miguel Albuquerque: “A vontade [de uma coligação PSD/CDS] já foi manifestada quer por mim, quer pelo Rui Barreto”.

Certo é que até às 22h00 havia uma incerteza que nunca permitiu que houvesse um ambiente descontraído na sede social-democrata. Uma incerteza que durava há muito, desde que as sondagens colocaram Paulo Cafôfo a disputar o primeiro lugar com o PSD, algo que nunca tinha acontecido na ilha. Pela primeira vez, o PSD-Madeira teve de suar. Ao que tudo indica, Miguel Albuquerque pode manter-se na Quinta Vigia nos próximos quatro anos. Mas o candidato socialista já deixou antever que não vai desistir: “A luta continua”. Os próximos quatro anos vão jogar-se num tabuleiro inédito para a Madeira e há quem não tenha gostada nada do resultado. Em particular, o senhor maiorias absolutas himself. Ao final da noite, e em declarações à RTP, Alberto João comentava: “Não estou satisfeito. Ainda tentei deitar a mão, mas o PSD paga, neste momento, o preço dos dois primeiros anos desastrosos de governo que fez aqui na Madeira”. Agora, diz Jardim, o caminho é o governo de coligação. Mas fica o conselho (ou o aviso): “Há que pôr o PSD num estaleiro e fazer uns consertos ao barco”.

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