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Vitorino Silva haveria de partilhar com Marcelo Rebelo de Sousa algumas das páginas onde guarda alguns dos seus pensamentos.
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Vitorino Silva haveria de partilhar com Marcelo Rebelo de Sousa algumas das páginas onde guarda alguns dos seus pensamentos.

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Vitorino Silva haveria de partilhar com Marcelo Rebelo de Sousa algumas das páginas onde guarda alguns dos seus pensamentos.

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

A pasta verde e a frase escrita na toalha da Portugália que Tino levou ao debate com Marcelo

O trunfo de Vitorino Silva têm sido as metáforas. Encara os debates como uma oportunidade de ser ouvido, sem caricaturas. Como prepara Tino os frente a frente com outros candidatos presidenciais?

Pouco passa das 20h30 quando Vitorino Silva desce, apressado, em direção ao museu do Fado, em Alfama. Depois de uma palestra na Universidade Católica pouco mais tempo houve antes de jantar que o suficiente para uma passagem rápida pela casa que uns amigos lhe cederam em Lisboa, para se acomodar durante os seis dias de debates com os outros candidatos a Belém. Duas horas depois havia de estar frente a frente com Marcelo Rebelo de Sousa, mas Vitorino — ou Tino como todos o conhecem — negava estar nervoso. “É o mais fácil dos debates”, confidenciava ao Observador entre risos. Mais tarde, já no final de jantar, haveria de corrigir a primeira tirada: não é o mais fácil porque “serão os dois imprevisíveis”, mas é “o que conhece melhor”. Ou não fosse o candidato Marcelo ser, ao mesmo tempo, o Presidente Marcelo.

E se numa mão Vitorino Silva conta com os anos de presidência de Marcelo e os muitos de comentador na televisão, na outra carrega uma pasta verde, de capa desgastada. Uma pasta de uma empresa em Baguim, Alfena, mas que para o assunto pouco importa já que é o próprio Vitorino Silva que assume que a “encontrou”, nem sabe o que é a ‘Jufil’. A pasta tem anos suficientes para que o logótipo da empresa já nem coincida com o que atualmente figura no site. A Vitorino talvez não importe a história da pasta, mas cada uma das dezenas de folhas que tem lá dentro está manuscrita com as “metáforas” que tem trazido aos debates com candidatos presidenciais.

Ficará para a memória a história das pedras, que Vitorino disse ter trazido de uma praia em Peniche, para entregar a André Ventura e lhe explicar que a diferença está na riqueza das coisas. Além de ter deixado claro que é apologista de construir “estradas e não muros”. Mas na quinta-feira o adversário (e nas eleições também, como considera Vitorino) foi Marcelo e também já havia um soundbite preparado. Aliás, as ideias e metáforas encerradas nas páginas meio soltas dentro da pasta foram coligidas ao longo da vida de Tino e estão prontas a utilizar em cada um dos debates. Mas ainda não é o momento para as revelar a todas. “Tenho 13 debates, não posso gastar tudo nos primeiros”, diz ao Observador o candidato presidencial.

Depois de tomar notas em papéis soltos, Vitorino Silva regista tudo nos cadernos que guarda na pasta verde

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

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“Esta noite vou dizer a Marcelo que quero o voto da sardinha e do caviar, mas sei que terei mais voto da sardinha porque o povo não come muito caviar”, diz ao Observador enquanto está sentado à mesa acompanhado pelos quatro amigos que lhe dão algum apoio “para não andar e aparecer sozinho nos vários sítios”. Havia de se confirmar o que disse: horas depois disse a frase em frente a Marcelo. Pouco tempo antes tinha tomado nota desta ideia na própria toalha de mesa, de papel, do restaurante. O pedaço rasgado ainda estava no bolso quando nos mostrou. Dali passará para o caderno onde guarda todas as analogias e memórias que o prepararam “ao longo de 49 anos para esta candidatura”.

Num curto jantar já a meio caminho entre Alfama e os estúdios da RTP, Vitorino Silva ainda é surpreendido com uma inscrição no RiR (o Reagir, Incluir, Reciclar, partido que fundou) e a garantia do voto de três jovens que o abordam no restaurante. Sem timidez ou qualquer pudor em retribuir os simpáticos elogios que lhe são feitos, Vitorino cumprimenta — com o cotovelo como as contingências assim determinam — toda a gente e cede facilmente a tirar fotografias. Ora com quem já estava à mesa e o viu chegar, ora com quem já tarde reparou que era um dos candidatos presidenciais na mesa do lado ou até com os funcionários do restaurante, que não resistiram a pedir uma fotografia no final.

Durante o jantar Vitorino Silva aproveitou um pedaço da toalha de papel da mesa para registar mais uma das metáforas

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Vitorino Silva decidiu “enterrar o cromo à volta do Tino na televisão”, onde cresceu

Por entre as solicitações e o prego que escolheu para o jantar, vai folheando o conteúdo da pasta verde e fazendo ver ao Observador que não há ninguém atrás daquilo que tem apresentado. Há um homem que reflete, que “já apresentou um livro em Nova Iorque” e que decidiu “no programa do Ricardo Araújo Pereira enterrar o cromo que a televisão tinha criado” para si.

De que falamos? Vitorino Silva foi o convidado de Ricardo Araújo Pereira no último domingo, no programa que tem na SIC. E Tino decidiu começar a entrevista por recordar que quando já andava pela televisão o agora muito conhecido humorista Ricardo Araújo Pereira lhe foi apresentado na condição de “estagiário”. Foi uma forma de tentar mostrar que já anda nesta vida mediática há mais tempo que o humorista. Diz ao Observador que o cromo que existia à sua volta cresceu também alimentado pelos media e não deixa de parte as críticas ao que se faz “quando não se trata de diretos”. “Eu posso falar durante uma hora, estou uns minutos em silêncio, e é esse silêncio que escolhem”, diz notando que os debates lhe trouxeram outra hipótese: “O direto não deixa espaço para montagens, as pessoas ouvem-me”.

E é um Vitorino Silva verdadeiramente confiante que as pessoas veem a pouco tempo de chegar aos estúdios da RTP. Com a ambição de uma segunda volta, já tem a campanha preparada e garante que “vai a todos os distritos do país” com ações tão diversas como apoiar profissionais de saúde, em ações concretas ou estar junto da natureza. Mas, para já, não há divulgação oficial da agenda para que “não roubem ideias” ao candidato que tem surpreendido com as metáforas usadas nos debates.

Vitorino Silva e os quatro amigos que o têm apoiado durante a semana de debates

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A filha Catarina que funciona como braço direito

Ainda que garanta que não há ninguém nem nenhuma agência a trabalhar nos bastidores da sua candidatura, há um nome que é repetido vezes sem conta. A “filha Catarina”, com 23 anos, é um dos orgulhos do candidato presidencial e a quantidade de vezes que o nome é repetido ou enunciado deixa poucas dúvidas. A esposa “também é um grande apoio” — deverá chegar, nos próximos dias a Lisboa, para revezar alguns dos amigos que agora o acompanham —, mas é com Catarina que se aconselha. Ao Observador garante que a filha, formada em Economia e Gestão, não tem qualquer ligação à política, pelo menos ativa e em nome individual, mas nas interações de Vitorino Silva há a mão de Catarina e, sempre, o aconselhamento ao pai. Também ao nível das tecnologias é a filha única de Tino que dá uma ajuda.

No dia a dia conta com uma entourage de “quatro ou cinco amigos” que o acompanham nas deslocações. “São estes amigos, amanhã vão embora uns e voltam outros. Hoje tenho aqui pessoas de Peniche, do Porto, são meus amigos, não têm aqui outros interesses”, explica ao Observador Vitorino Silva enquanto quem o acompanha sorri e concorda com o candidato presidencial. Quanto ao valor gasto na campanha, Tino acredita que será muito inferior ao orçamentado, já que ali “cada um paga o seu e não há cá faturas”. O jantar é pago por cada um e o candidato explica que os gastos oficiais da campanha se vão cingir ao gasóleo e portagens necessários para “ir a todos os distritos do país”.

Ainda à mesa, à mesma hora em que Marisa Matias e André Ventura se defrontam, os amigos de Vitorino Silva vão recebendo as notificações nos telemóveis e mensagens de quem está atento com informação sobre o que acontece nos debates entre os outros candidatos. Numa das pontas da mesa há alguém constantemente ao telemóvel, a combinar a troca de “companheiros de viagem” de Tino, que deverá acontecer esta sexta-feira.

Nesta que é uma segunda candidatura de Vitorino Silva, podia ter havido espaço para depois do resultado de 2016 desmoralizar e desistir da corrida de 2021? Vitorino diz que não, que acredita verdadeiramente que um dia poderá retribuir à filha e dizer-lhe que “conseguiu” já que, conforme diz ao Observador, é a filha a primeira impulsionadora da sua nova candidatura. Para já, perante a recandidatura do atual Presidente, uma ida à segunda volta já seria uma vitória.

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

E é nisso que Vitorino Silva acredita. No voto dos mais jovens, como provam os três amigos sentados umas mesas ao lado. Um deles votará pela primeira vez para eleger um Presidente da República, é de uma aldeia perto de Mação e Vitorino prometeu passar por lá durante a campanha — com a garantia que as regras sanitárias são asseguradas. Os três pediram desculpa por interromper o jantar do candidato, mas não queriam deixar passar a oportunidade de lhe dizer que contava com o voto deles. Um deles, em 2016 contribuiu para a eleição de Marcelo e o terceiro tinha votado em branco, por não se rever em nenhuma das candidaturas apresentadas em 2016. Excluindo o mais novo, os outros dois são votos roubados: um a Marcelo outro à desilusão com a política.

Ainda antes de entrar no carro rumo aos estúdios onde enfrentaria Marcelo, na passadeira detém-se um táxi e lá de dentro mais uns elogios gritados: “Você é que estava preparado para dar cabo dele, gostei muito”. Uns minutos depois e na portaria da receção da RTP — onde tem passado todos os dias, desde segunda-feira — já se brinca com o valor de temperatura que o termómetro indicará esta noite. No dia anterior, Tino tinha usado o valor baixo para mostrar durante o debate que tinha “sangue frio”, na quinta-feira não foi possível fazer a mesma analogia já que o termómetro subiu um pouco, para os 36ºC. Restaram-lhe os trunfos da pasta verde.

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