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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

A primeira semana de campanha do PSD. Rangel e Costa estão numa relação. E é complicado

Rangel foi mudando o alvo e elege António Costa como principal adversário. Na rua, o candidato dançou o vira para consumar viragem de atitude com as pessoas. Afetos para o povo, ataques para o PS.

Paulo Rangel teve uma primeira semana em crescendo. Começou mole (no contacto com as pessoas) e com falhas (as críticas de um autarca do PSD e os elogios do mandatário nacional a Costa), acabou mais combativo e adaptou-se às circunstâncias. Nos primeiros dias era um sucesso dentro de portas, mas andava meio perdido nas ruas. As feiras pareciam um frete e não tinha paciência para as pessoas. Na sexta-feira teve um ponto de mudança e começou a ser mais afetuoso, mais divertido e acabou a dançar o vira numa roda da concertina no Minho.

Do ponto de vista da mensagem, Rangel começou a semana a apontar baterias a Pedro Marques, culpabilizando-o por tudo o que de mau acontecia no país: o corte nos fundos, a reconstrução de casas em Pedrógão, as falhas no IP3, entre várias outras coisas. Mas, no final da semana, passou a eleger António Costa como principal adversário. Rangel fala, Costa responde. Rangel responde a Costa. Que volta a responder a Rangel. O candidato do PSD diz que o primeiro-ministro está obcecado com ele. Rangel e Costa estão numa relação e é complicado.

Na verdade, Rangel percebeu que o PS está a apostar tudo em colocar Costa como o rosto que as pessoas associam no boletim de voto (mesmo nas Europeias) ao quadradinho do PS. E também que o primeiro-ministro é a grande mais-valia eleitoral dos socialistas (a julgar pela popularidade nas sondagens). Mas também há o outro lado: o espaço não-socialista e quem não gosta de Costa. Rangel quer ir buscar esses votos.

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Tem tentado provar que o Governo de Costa falha aos portugueses na questão da Proteção Civil, no Serviço Nacional de Saúde e noutro tipo de serviços públicos. Para alertar para as falhas nos incêndios sobrevoou mesmo as zonas ardidas em 2017 de helicóptero, uma ação que lhe criou alguns dissabores. Rangel foi criticado por um autarca do próprio partido que lidera um concelho atingido pelos incêndios e deu balas aos opositores que o acusaram de desrespeitar a dor das pessoas ao sobrevoar os espaços e não as visitar pessoalmente.

A mudança de atitude de Rangel coincidiu com o dia de saída da sondagem SIC/Expresso, pouco otimista para as ambições da caravana. Há um novo Rangel. O ponto de viragem na atitude ficou consumado com o ‘vira’. A segunda semana, que começa segunda-feira, será impulsionada pela presença de Passos, o que pode ajudar a aproximar o eleitorado zangado com a atual direção. Há aqui um ponto curioso: foi Rui Rio que convidou Passos Coelho há algumas semanas a entrar na campanha. Já Manuela Ferreira Leite foi Paulo Rangel que convidou.

Paulo Rangel apostou nas falhas dos incêndios como um dos pontos de ataque ao governo socialista. Alertou, ao lado de um especialista, que incêndios como o de Pedrógão Grande podiam repetir-se em dois ou três anos. Sobrevoou a área ardida de helicóptero e repetiu bem alto que os incêndios também foram resultado das cativações do governo de Costa e do desinvestimento na Proteção Civil. Ouviu críticas por te-lo feito de helicóptero, por oposição a Pedro Marques que enquanto ministro esteve no terreno. Depois, tentou voltar a tentar atirar o caso contra o PS, denunciando que o governo ainda não tem disponíveis todos os meios aéreos necessários para o combate aos incêndios deste ano.

A degradação do Serviço Nacional de Saúde (que quis denunciar com a visita a dois hospitais — Guarda e Viseu) foi outro dos temas em que Rangel tem insistido, alertando para as listas de espera em consultas e cirurgias e para insuficiências no combate ao cancro. Na mesma medida, Rangel criticou a falta de qualidade dos transportes, o atraso na aprovação de pensões de reforma ou mesmo a dificuldade que os cidadãos têm em fazer um “cartão do cidadex” num Estado que devia ser “simplex”.

Outro dos temas são os fundos europeus e todas as áreas afetadas por esses fundos. Rangel quer colocar o ónus da perda de fundos de coesão e para agricultura numa má negociação do governo socialista. A pasta era tutelada por Pedro Marques e, por isso e pela ligação à UE, é o assunto mais lembrado por Paulo Rangel.

Altos. Paulo Rangel teve capacidade de adaptar a sua postura no contacto com as pessoas, aproximando-se mais do Rangel de 2009 que ganhou com uma campanha hiperativa. A capacidade de adaptação e a forma como diversifica as ações (numa discoteca com jovens, de helicóptero com um especialista, num barco no Tejo, a andar de bicicleta pela ria de Aveiro) é uma marca da campanha. Além de haver muita rua: seis arruadas nos últimos dois dias num total de 11 nos primeiros sete dias de campanha oficial, incluindo visitas a feiras e contactos com a população.

Nos eventos do partido tem havido uma boa mobilização da estrutura, muitas vezes com eventos mais participados em comparação com há cinco anos (quando o partido estava em coligação com o CDS, mas debaixo de fogo por governar em tempos de troika). Mesmo em distritos mais anti-Rio (Lisboa, Viseu e Viana do Castelo) as estruturas não falharam. Exceção para a arruada de Viseu que foi sofrível, nas ruas do outrora ‘cavaquistão’.

Baixos. Alguns dos maiores ataques contra a campanha vieram de dentro do PSD, o que em guerra se chamaria “fogo-amigo”.  No domingo, o mandatário nacional, Carlos Moedas, elogiou António Costa e Mário Centeno e, de um modo geral, o governo do PS. Ora, a estratégia eleitoral de Rangel passa muito por denunciar as falhas da governação socialista. Depois, quando ainda se refazia desse golpe, teve o presidente da câmara de Pampilhosa da Serra, José Brito, a criticar o facto de ter sobrevoado o concelho de helicóptero e de não o ter visitado (como chegou a estar previsto).

O que também não encaixa em Rangel é a vitimização. É conhecido no partido como alguém destemido, que não teme a confrontação política, nem tem meias medidas na hora de criticar o PS. É corrosivo. Mas pediu elevação e serenidade no debate. Isso não encaixa em Rangel, que nunca foi de fazer queixinhas nem teve medo do confronto político. Também se queixa de ser alvo de ataques pessoais, mas o que o PS tem criticado são as posições que diz que Rangel tem no Parlamento Europeu e a sua assiduidade como deputado, não a sua vida pessoal.

A irritação de Rangel com o tema das críticas do presidente da câmara da Pampilhosa da Serra — insistindo que não tinha interesse mediático ser criticado por um autarca a do próprio partido — foi um ato isolado até agora. Mas ficou no diário desta campanha pela negativa (tal como uma resposta mais azeda a uma jornalista, na sequência deste mesmo assunto).

Rangel tem falado quase diariamente em temas europeus, muitas vezes relacionados com as políticas nacionais, mas sobretudo lembrando o programa que apresentam para estas eleições. Todos os dias fala desses temas, às vezes mais do que uma vez. Quando foi à Fundação Champalimaud, Rangel lembrou que defende um Plano Europeu de Combate ao Cancro, assunto que referiu várias vezes ao longo da semana.

Nos dias em que o tema foi a Proteção Civil, Rangel falou várias vezes do mecanismo de solidariedade europeu que foi acionado para os incêndios de 2017. Além disso, lembrou que o PSD ajudou a criar o Mecanismo Europeu de Proteção Civil e que defende no seu programa a criação de uma Força Europeia de Proteção Civil.

Outro dos temas foi a questão dos Fundos Europeus, onde Rangel foi mais longe e fez promessa que envolve uma eventual governação de Rui Rio. O candidato garantiu que, caso o PSD vença as legislativas de outubro, vai vetar qualquer proposta de distribuição de fundos de coesão em que Portugal perca fundos em relação ao anterior quadro comunitário de apoio. Os Estados-membros têm poder de veto no Conselho Europeu. Ou seja: se Portugal quiser não aceita uma proposta que está em cima da mesa (a primeira da comissão, em que perde 1600 milhões de euros).

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Rangel resistiu ao longo de toda a campanha, mas ao sétimo dia dançou. Diziam por Arcos de Valdevez que ninguém consegue dizer não a uma mulher do Minho. Rangel ainda disse duas vezes, mas à terceira teve de aceitar ir para a roda da concertina. Tem a mesma falta de jeito para a dança que Pedro Marques. Falta-lhe a ginga que se pede a um dançarino, mas a fotografia do vira simboliza o ponto de viragem do candidato que passou a ser mais empático com as pessoas e ficou mais parecido daquilo que costuma ser um político em campanha.

A manhã começou com uma viagem entre a Praia de Ofir e Valença do Minho, para um arruada: 87 quilómetros. Seguiram-se mais 55 quilómetros até ao Santuário de Santa Luzia, em Viana do Castelo. E mais 32 quilómetros até Ponte de Lima, aos quais se seguiram outros 22 quilómetros até Arcos de Valdevez. Por fim, mais 54 quilómetros até à Quinta da Malafaia e mais 68 quilómetros até Vila Nova de Gaia, onde pernoita o Observador. O total do dia foram 318 quilómetros, o que sobe o acumulado total da semana para 1794 quilómetros.

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