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A voz de um anjo e o feitio de uma diva. Mariah Carey faz 50 anos

Mariah Carey é a eterna "ave canora", mas também uma personalidade intensa. Da música à vida amorosa, passando ainda pelas polémicas, recordamos os 50 anos de vida da cantora.

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“Eu não conto os anos, mas repreendo-os”. Queira ou não, Mariah Carey está de parabéns. Nascida a 27 de março de 1970, a cantora dobra a esquina dos 50 esta sexta-feira, somando, além de meio século de vida, três décadas de carreira na indústria da música, uma mão cheia de papéis no cinema, dois casamentos, umas quantas polémicas e, claro, o título de “ave canora suprema”, atribuído pelo Guinness World Records.

No início dos anos 90, a imagem de Mariah era de um diamante em bruto, perdido entre a multidão de Nova Iorque até ao momento em que tropeçou nas pessoas certas, no momento certo. A indústria percebeu cedo que cantar não era o seu único dom. Compositora e produtora talentosa, assinou muitos dos temas que gravou, num total de 15 álbuns de estúdio, de Mariah Carey a Caution, lançado em novembro de 2018. Numa década, Carey passou de poderosa entoadora de baladas a sex symbol da era dourada do R&B.

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Como qualquer diva, e sendo ela uma das mais apuradas, os últimos anos foram devidamente preenchidos por amores, desafetos e polémicas. Hoje, Mariah é uma mãe de família. Tem dois filhos de oito anos, os gémeos Moroccan e Monroe, filhos do multifacetado Nick Cannon, segundo e até agora último marido da cantora. Nos últimos dias não tem estado indiferente à evolução da pandemia. Nas redes sociais, já apelou ao isolamento voluntário, insistiu numa lavagem de mãos eficaz e até já adaptou as próprias letras ao vírus que domina a atualidade.

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Mariah, uma miúda de Nova Iorque

Mariah é a mais nova de três irmãos e tinha apenas três anos quando os país se separaram. Na região de Long Island, no estado de Nova Iorque, a família passou anos a pular de bairro em bairro, atormentada pelo preconceito da maioria branca. Tudo porque o pai, um engenheiro aeronáutico negro e de origem venezuelana, e a mãe, uma cantora de ópera com ascendência irlandesa, formavam um casal inter-racial.

“Eles atravessaram tempos verdadeiramente difíceis antes de eu nascer. Chegaram a envenenar-lhes os cães e a pegar fogo aos carros. Isso pôs uma pressão sobre a relação deles que nunca desapareceu. Eles discutiam a toda a hora”, revelou mais tarde a cantora à revista People.

Com quatro anos, já ligava o rádio debaixo dos lençóis. Passou a viver só com a mãe e com o irmão e, anos depois, a família mudou-se para mais perto da cidade de Nova Iorque. Durante o secundário, Mariah começou a escrever os primeiros poemas e a compor as primeiras melodias. As habilidades vocais já se adivinhavam excecionais e com a ajuda da mãe foi treinando o registo de apito que a viria a tornar tão popular.

O casamento de Mariah Carey e Tommy Mottola © Rick Maiman/Sygma via Getty Images

Rick Maiman

No final dos anos 80, Carey morava num quarto alugado em Manhattan e trabalhava como empregada de mesa para pagar a renda, mas manter os empregos não era o seu forte. Eis senão quando, num golpe de sorte, conheceu Tommy Mottola. O magnata da Sony Music acabou por ouvir uma cassete com alguns temas a caminho de casa, o suficiente para querer assinar um contrato e lançar Mariah Carey como a nova sensação, no romper da década seguinte.

A 5 de junho de junho de 1993, Carey e Mottola deram o nó. Ela tinha 23 anos e era a estrela do momento, ele um influente empresário de 43 anos. Conclusão: o casamento parou Nova Iorque. Entre os 300 convidados estiveram celebridades como Barbra Streisand, Bruce Springsteen e Robert De Niro. A cauda do vestido, desenhado por Vera Wang (e bastante semelhante ao da princesa Diana), estendia-se por mais de oito metros e exigia que seis mulheres ajudassem a noiva a deslocar-se. Entre cerimónia a festa, o orçamento terá rondado meio milhão de dólares.

A voz, o R&B e o cinema: 30 anos de carreira

Mariah Carey, o álbum de estreia, saiu em junho de 1990, numa altura em que Madonna e Whitney Houston eram os grandes fenómenos da indústria. A Columbia Records terá gastado perto de um milhão de dólares e promover Carey e o seu primeiro álbum e a verdade é que não teve de esperar muito para colher os frutos. Depois de um tímido arranque, o disco manteve-se no topo das tabelas durante 11 semanas consecutivas e rendeu dois Grammy Awards de um total de cinco nomeações — Melhor Artista Revelação e Melhor Performance Vocal Feminina Pop, referentes ao single “Vision of Love”.

Mariah Carey nos Grammys em 1991 © Robin Platzer/IMAGES/Getty Images

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Mariah ganhou até hoje 5 Grammys e contou com mais de 30 nomeações. No final do ano passado, a Billboard considerou-a uma recordista, com um total de 18 canções a atingirem a primeira posição da mais importante tabela norte-americana. “Quando comecei, nunca pensei que isto pudesse acontecer. Só queria ouvir as minhas músicas na rádio”, indicou numa entrevista dada em novembro de 2019.

O primeiro disco vendeu 15 milhões de cópias só nos Estados Unidos e chegou ao final de 1991 como o mais vendido do ano. Depois desse, veio Emotions, cujos resultados ficaram abaixo do disco anterior. Contudo, a queda foi compensada pela multiplatinada atuação ao vivo no programa MTV’s Unplugged. Até então, as capacidades vocais de Carey fora de um estúdio continuavam a ser questionadas. Um ano depois, Music Box, do qual fazem parte os temas “Hero” e “Without You”. O terceiro álbum marcou ainda a primeira digressão da cantora. Com apenas seis concertos marcados e sem sair do país, Carey venceu assim a sua própria renitência em fazer-se à estrada.

Em 1994, é lançado Merry Christmas, cujo single “All I Want For Christmas is You” é hoje um dos dez mais bem sucedidos da história, além de render milhões. Segundo contas feitas pela revista The Economist em 2016, a canção tinha transferido até à data para os cofres da cantora 60 milhões de dólares em direitos.

Mariah Carey em concerto © Kevin Mazur Archive/WireImage

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O divórcio, o esgotamento e os Grammys de 1996

Com Daydream, Mariah entra oficialmente nos territórios do R&B e do hip hop, ainda que com o pop bem presente. Com “Fantasy”, o primeiro single, tornou-se a primeira mulher com um tema a estrear diretamente na primeira posição da Billboard Hot 100. O disco foi o mais vendido de sempre da cantora nos Estados Unidos e o grande favorito para os Grammys do ano seguinte com seis nomeações. Contudo, nessa noite, à exceção da performance de abertura, o nome de Mariah Carey não soou uma única vez. “O que é que posso fazer? Nunca mais me vou desapontar. Depois de ficar sentada durante todo o espetáculo sem ganhar um único prémio, consigo lidar com tudo”, reagiu na altura, segundo a biografia de Marc Shapiro, publicada em 2001.

A separação de Mottola, em 1997, deixou marcas indeléveis no percurso musical de Mariah. Butterfly saiu nesse mesmo ano, com um cunho bem mais pessoas — em vez de percorrer toda a sua amplitude vocal, Carey surgiu com notas sussurradas. Numa fase vista como de libertação e de independência, a cantora mostrou o seu lado mais eclético, mas também o mais sensual.

Em 2000, no concerto VH-1 Divas 2000: A Tribute To Diana Ross, no Madison Square Garden © Evan Agostini/Getty Images

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A relação extraconjugal com o jogador dos Yankees Derek Jeter nunca foi confirmada, embora o rumor existisse e os dois tenham começado a sair juntos após a cantora se ter separado do marido. Foi uma época especialmente boémia, com Mariah a tornar-se uma figura regular no circuito noturno de Nova Iorque. “Fui a uma discoteca e ninguém me via há anos”, referiu à revista People, no rescaldo da separação.

No início do século, depois de conquistar os prémios de Artista Feminina da Década da Billboard e de “Best-Selling Female Artist of the Millennium”, Mariah deixou a Columbia Records e assinou um contrato com a Virgin, num valor estimado de 80 milhões de dólares. Foi um período de mudanças e sobressaltos. Carey sofreu um esgotamento, numa altura em que acabava de terminar a relação com o cantor mexicano Luis Miguel e lidava com alguns dos maiores insucessos da sua carreira, como foi o caso do álbum Rainbow e de “Glitter”, a sua estreia como protagonista de cinema. Entre 2001 e 2002, Mariah viveu o seu annus horribilis.

“Estava com pessoas que, na realidade, não me conheciam e eu não tinha um assistente pessoal. Por elas, podia dar entrevistas durante um dia inteiro e dormir duas horas. Estava a queimar uma vela por todos os lado e acabei por me queimar a mim”, confessou mais tarde à revista USA Today.

The Emancipation of Mimi, o regresso

Os primeiros anos do milénio foram conturbados, mas em 2005 o disco The Emancipation of Mimi, o seu décimo, foi visto como um regresso da velha Mariah Carey. Foi o mais vendido desse ano, ainda que com números bastante mais baixos em relação aos dos áureos anos 90: cerca de cinco milhões. A cantora conquistou três Grammy Awards, incluindo o de Melhor Canção R&B com o tema “We Belong Together”.

Mariah Carey no filme "Precious", de 2009 © Divulgação

“Tennessee” e “Precious” (neste em particular surge quase irreconhecível) — sem especial reconhecimento no primeiro e com direito a um prémio em Palm Springs, Mariah foi continuando a pôr o pé na sétima arte. É ainda em 2008 que destrona Elvis Presley ao ver um single chegar ao topo das tabelas pela 18ª vez. O tema em questão foi “Touch My Body”, do álbum E=MC². O ano não termina sem o segundo casamento, desta vez com Nick Cannon, ator e apresentador 10 anos mais novo. A cerimónia secreta decorreu sob o pôr-do-sol da Bahamas. A união viria a durar oito anos.

No ano seguinte houve mais um álbum — Memoirs of an Imperfect Angel — este marcado por uma velha polémica que envolveu a cantora e Eminem. Ainda em resposta ao rapper, que em 2007 havia dito (e insistido) que ele a Mariah se tinham envolvido, a cantora compôs “Obsessed” — “And I was like, why you so obsessed with me?” (E eu fiquei tipo, porque é que estás tão obcecado comigo).

Mariah Carey e Nick Cannon com os filhos, em 2011 © Fresh Air Fund/WireImage

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A década seguinte foi marcada por quebras nas vendas de álbuns e pela especulação em torno do poderio vocal de Mariah — e por um noivado com o bilionário australiano James Packer, que começou e terminou em 2016. Será que resistiu à passagem dos anos e à ausência do viço de outros tempos? Em 10 anos, foram lançados dois discos, o último deles no final de 2018, ano em que Carey iniciou a tão sintomática residência em Las Vegas. Caution voltou a entusiasmar a crítica, embora continue a ser apenas o vislumbre de outras produções. A próxima, por sinal, será um livro de memórias — “I Had A Vision of Love” — e tem lançamento marcado para setembro deste ano.

“Não sei quem ela é”. Uma diva e o seu humor

O momento está devidamente registado e eternizado num manancial de GIFs e memes. Qual? O momento em que, algures no início dos anos 2000, Mariah Carey, questionada sobre a estrela pop rival Jennifer Lopez, limitou-se a abanar a cabeça, sorrir e a responder: “Não sei quem ela é”. A resposta foi tudo menos inocente e obviamente esconde um arrufo de divas. Reza a história que Carey não gostou quando percebeu que Lopez tinha usado uma sample sua no single “I’m Real”.

O temperamento caprichoso é uma das imagens de marca de Mariah — que é como quem diz um feitio difícil, mas com uma fortuna algures entre os 300 e os 500 milhões de dólares à mistura. O olhar de reprovação e ironia é universalmente conhecido e vem muitas vezes acompanhado de um movimento de cabelo, basta fazer uma ronda por praticamente todas as aparições públicas da cantora para constatar.

Quanto ao estilo de vida, Mariah é decididamente uma high maintenance lady, que dentro do seu closet tem lugar para centenas de pares de sapatos, vestidos expostos em manequins e para um segundo micro closet só de lingerie, tal como mostrou a Vogue em 2017. No ano seguinte, foi a vez de o britânico The Guardian bisbilhotar alguns dos hábitos mais luxuosos desta diva, nomeadamente o de tomar banho em leite frio e em água mineral francesa.

Só em 2018 é que Mariah Carey começou a falar abertamente sobre o facto de sofrer de distúrbio bipolar, embora este lhe tenha sido diagnosticada há quase duas décadas. Segundo já revelou, o distúrbio não é extremo, causando ainda assim períodos de depressão e comportamentos maníacos, que por sua vez podem refletir-se em irritabilidade, insónias e hiperatividade.

Nas ruas de Nova Iorque, em abril de 2014 © Alo Ceballos/GC Images

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“Até há bem pouco tempo, vivi em negação, em isolamento e num medo constante de que alguém pudesse expor-me. Era um fardo demasiado pesado para carregar, não podia continuar simplesmente. Procurei e recebi tratamento, rodeei-me de pessoas positivas e voltei a fazer o que amo — escrever canções e fazer música”, confidenciou à revista People em abril desse ano.

Música e política: os descuidos de Carey

A mancha ficará para sempre no currículo da cantora. Em 2008, foi a estrela da passagem de ano da família do ditador libanês Muammar Gaddafi. Foi preciso esperar mais de dois anos para ver Mariah lamentar ter dado aquele concerto privado, pelo terá recebido cerca de um milhão de dólares. “Sinto-me péssima e envergonhada por ter participado naquilo”, declarou à AFP e março de 2011. Na altura comprometeu-se a lançar um novo single — “Save The Day” –, cujas receitas reverteriam para fins humanitárias, mas a canção nunca chegou a ser lançada.

Em dezembro de 2013, outro episódio com os mesmos contornos e, curiosamente, com o mesmo cachê. Carey voou até Luanda para atuar na segunda edição do Baile Vermelho, um evento de angariação de fundos para a Cruz Vermelha angolana. Pela presença e pelo espetáculo, segundo ativistas dos direitos humanos, a cantora terá sido paga pelo então presidente, José Eduardo dos Santos.

Num concerto em Londres, maio de 2019 © Samir Hussein/Samir Hussein/WireImage

Samir Hussein/WireImage

Com um concerto marcado na Arábia Saudita para o dia 31 de janeiro de 2019, Mariah voltou a ser alvo de críticas e os motivos eram vários. De um lado, a detenção de elementos de movimentos feministas do país, por outro o facto de a homossexualidade ser punida com a morte. Ao rol de argumentos juntou-se o assassinato, ainda recente, do jornalista Jamal Khashoggi. “Como primeira artista internacional a atuar na Arábia Saudita, a Mariah reconhece o significado cultural deste evento e vai continuar a apoiar esforços globais que visem igualdade para todos”, responderam na altura os assessores da cantora à Associated Press.

Descuidos incompreendidos por uns e inaceitáveis para outros, mas que provam que não há idade para fechar os olhos a contextos políticos e sociais. Provavelmente sem querer, Mariah Carey explicou-se durante uma entrevista ao The Observer, em 2014: “Darling, eu vou ter 12 anos para sempre”.

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