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Vista da aldeia de Vilarinho de Negrões, na barragem do Alto Rabagão, Montalegre, 04 de fevereiro de 2022. Em Montalegre não há memória de um nível tão baixo de água na barragem do Alto Rabagão, um sinal da seca que preocupa autarcas, população e de quem vive dos negócios impulsionados pela albufeira. JOSÉ COELHO/LUSA
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Alto Rabagão no concelho de Montalegre foi uma das barragens que menos água recuperou

JOSÉ COELHO/LUSA

Alto Rabagão no concelho de Montalegre foi uma das barragens que menos água recuperou

JOSÉ COELHO/LUSA

Águas de março ajudaram, mas não acabaram com a seca. Restrições à produção elétrica e rega vão manter-se

A chuva de março deu mais tranquilidade a quem tem de gerir a seca, mas recuperação do nível de águas é muito baixa em algumas albufeiras. Agência do Ambiente mantém restrição à geração elétrica.

Depois de semanas a encher as televisões com imagens impressionantes de albufeiras vazias, março interrompeu o arranque de ano mais seco desde que há registos. A chuva que caiu acima do nível da média para aquele mês permitiu retirar quase todo o país da situação de seca extrema e severa — só 16% do território está nos dois níveis mais graves, 82% encontra-se agora em seca moderada e 2% em seca fraca.

O tema saiu da agenda mediática ocupada entretanto com a guerra, mas a chuva que caiu foi assimétrica e atípica — porque caiu mais a sul do que a norte — e a seca hidrológica mantém-se em várias albufeiras onde os níveis de armazenamento recuperaram pouco. Há a expectativa de que este mês confirme o ditado — abril, águas mil — com previsão de chuva para as próximas semanas.

“Estamos mais tranquilos, mas nunca estamos descansados. As chuvas de março foram fundamentais e deram-nos maior tranquilidade na gestão da seca em Portugal continental”, afirmou ao Observador o vice-presidente da APA (Agência Portuguesa do Ambiente).

Num balanço atualizado sobre o nível de armazenamento nas albufeiras, José Pimenta Machado destaca as “boas notícias” na recuperação verificada na chamada cascata do Zêzere onde a albufeira que dá água a Lisboa — Castelo de Bode — recuperou 3,6 metros, estando nos 66,5%, o que “é um bom número”, salienta. Há bons níveis de recuperação também na bacia do Mondego — com a Aguieira a subir quase cinco metros para 86% e nas albufeiras de Odeleite e Beliche (no sotavento algarvio), o que é de destacar “numa região que sofre de seca estrutural”.

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O gestor que monitoriza os recursos hídricos na APA reconhece que em outras albufeiras a recuperação foi menos sentida e ficou mesmo abaixo do esperado. É o caso do Alto Lindoso na fronteira com Espanha que está a 15%, melhor do que os 12% registados quando foi dada ordem à EDP para parar as turbinas, mas pior do que já esteve depois dessa decisão. “Recuperou muito pouco”, admite Pimenta Machado que justifica porque às vezes há descargas na barragem que está impedida de produzir eletricidade. Para além do caudal ecológico que é vital para manter os ecossistemas, o Alto Lindoso tem de abastecer o Touvedo porque esta barragem é fundamental para a captação de água para uso humano no Alto Minho.

A descida das águas no Alto Lindoso deixou à mostra a antiga aldeia de Aceredo no lado espanhol

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Ali ao lado, também o Alto Rabagão recuperou pouco, estando nos 20%. A situação nas bacias do Cávado e do Lima é inédita e contrasta com o que era normal. “Estou habituado a que os municípios da bacia do Lima a jusante da barragem do Lindoso — Ponte de Lima e Ponte da Barca —   me ligassem a avisar que a barragem não tinha capacidade para encaixar uma cheia”. Estas barragens são tradicionalmente usadas como reserva de água para os aviões de combate aos incêndios e a APA já está a avaliar com a Proteção Civil alternativa em albufeiras com mais água na região, como é o caso da Caniçada.

No Douro a bacia está em média acima dos anos anteriores, mas há preocupação com a barragem de Vilar Tabuaço no rio Távora que está nos 16,6%. A última barragem a ver a produção elétrica restringida, Vilhofrei, na bacia do Ave, recuperou 1,09 metros e está a 40,8%, de acordo com dados de quarta-feira. Já o Alqueva continua com um nível confortável de armazenamento acima dos 70%.

Restrições à produção elétrica são para manter e aproveita-se para remover carros das albufeiras

Pimenta Machado admite que os níveis ainda se encontram muito baixos para o que seria normal nesta época do ano, mas sublinha que o uso prioritário está devidamente salvaguardado com as cotas mínimas definidas pela APA. E aponta a diferença da gestão portuguesa face ao que se passa em Itália onde já existe condicionamento ao uso da água para o consumo humano. Assume também que a ordem para parar a produção hidroelétrica em cinco barragens (mais tarde alargada a Vilhofrei) dada a 1 de fevereiro foi “uma decisão difícil”. Já aconteceu antes, mas são sempre situações excecionais e de contingência.

Seca agrava-se e suspensão da produção em 5 barragens da EDP deve manter-se até ao final do verão

Para assegurar o uso prioritário da água, a APA vai manter restrições impostas à produção elétrica em seis barragens (Alto Lindoso, Alto Rabagão, Tabuaço, Castelo de Bode, Vilar e Vilhofrei). “Neste momento não alteramos nada”, afirmou Pimenta Machado que, no entanto, adianta não existir necessidade de condicionar mais albufeiras. Há previsões de mais chuva para abril e o organismo vai continuar a avaliar o nível de recuperação da água.

A falta de água nas albufeira tem sido aproveitada para realizar grandes operações de limpeza dos resíduos depositados e nas margens. Estas ações já ocorreram na Caniçada (no Minho) e em Castelo de Bode de onde foi retirado um carro que tinha caído na barragem há mais de dez anos. Foi ainda removido lixo das margens, sobretudo muito plástico e pneus. A APA está a preparar mais uma grande operação de limpeza na barragem do Alto Rabagão onde estarão depositados dois automóveis e até uma avioneta. O levantamento está a ser feito com a Câmara de Montalegre para que as equipas possam em breve ir para o terreno, acrescenta Pimenta Machado.

A barragem de Odeáxere (Bravura), é uma barragem do barlavento Algarvio que se encontra em niveis mínimos de água devido à falta de chuva

Barragem da Bravura no Barlavento algarvio vai continuar com a rega condicionada

LUÍS FORRA/LUSA

A chuva ajudou também a agricultura. Os solos recuperaram humidade e há outro aspeto fundamental que são as águas subterrâneas que estavam num nível muito baixo. “Esta chuva permitiu recuperar uma parte das nossas massas de água subterrâneas, o que também é fundamental”. Apesar de alguma recuperação no Monte da Rocha (Baixo Alentejo), a Bravura no barlavento algarvio continua a preocupar muito. A rega temporária vai continuar suspensa nesta barragem que serve os concelhos de Lagos, Vila do Bispo e Aljezur. A APA vai reunir esta semana com os principais utilizadores de água no Algarve para avaliar as medidas.

O que nos reserva o futuro? “Muito menos água e temos de nos adaptar”

“Há um número muito revelador. Os dez anos mais secos foram todos depois do ano 2000. E isto mostra como as coisas estão a mudar. Aquilo que o futuro nos reserva é mesmo menos água e temos de nos adaptar a nova realidade.”

"Há um número muito revelador. Os dez anos mais secos foram todos depois do ano 2000. E isto mostra como as coisas estão a mudar. Aquilo que o futuro nos reserva é mesmo menos água e temos de nos adaptar a nova realidade".
José Pimenta Machado, vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente

Do lado da procura a resposta é poupar e ser mais eficiente. “Não é aceitável hoje, termos perdas de mais de 40% nos sistemas de rega urbanos e agrícolas. Temos de melhorar”. Do lado da oferta é preciso inovar, defende e dá como exemplo o uso das águas residuais para usos não potáveis como a lavagem de ruas, equipamentos e rega de jardins e espaços urbanos. Já se faz no Parque das Nações e no Algarve já há dois campos de golfe regados com estas águas reutilizadas. No final do ano, deverão ser quatro, o que significa poupar dois milhões de metros cúbicos de água, sublinha.

Mas o vice-presidente da APA sublinha que Portugal “nunca esteve tão bem preparado para enfrentar secas” porque “temos mais conhecimento, mais informação, mais mecanismos para intervir e mais investimentos”, e dá como exemplos os planos regionais de eficiência hídrica e o estudo sobre as disponibilidades hídricas.

O Algarve, a primeira região de Portugal a ter um plano de eficiência hídrica com direito a 200 milhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência, é um exemplo a seguir. Pimenta Machado considera que este plano está a ter bons resultados e assinala que o projeto para lançar a primeira central de dessalinização de grande dimensão está em concurso, devendo ser definido em breve o local onde será instalada.

A APA está a concluir um plano similar para o Alentejo e vai iniciar os trabalhos de preparação para a região do Tejo. São respostas do lado do planeamento para reorganizar os territórios que incluem todos os setores que usam a água. “É importante que todos estejam comprometidos” com os objetivos de gestão da água em contexto de escassez, frisa.

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