Álvaro Beleza, apresentado como “um socialista a assumir que o elevador social está avariado”, sentou-se em frente aos jovens da Iniciativa Liberal para admitir que “Portugal é muito iliberal” e crente de que “a IL ainda vai dar muito a Portugal, porque o país precisa de ser mais liberal”. A declaração, vinda do socialista convidado para o primeiro evento da juventude liberal, mereceu fortes aplausos da plateia, mas estava mais para vir.

O socialista, que lidera a SEDES — Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, não tem dúvidas de que o elevador social em Portugal funciona mal, à semelhança daqueles “elevadores dos anos 30 que chegam até ao quinto andar, mas muito devagar e que se avariam muitas vezes”. “Praticamente não há ascensor social”, admite o socialista.

Pouco antes de Álvaro Beleza, Carlos Guimarães Pinto, deputado da Iniciativa Liberal, tinha usado o exemplo do futebol para mostrar que em ambientes concorrenciais é preciso ter os melhores e sublinhando que nem sempre essa realidade existe nas empresas portuguesas.

“O futebol não é um ambiente empresarial concorrencial, mas pela própria natureza tem de ser concorrencial  — os treinadores e presidentes podem não escolher os melhores por incompetência, mas têm de ter pessoas capazes no 11 inicial. Se Pinto da Costa disser para pôr o sobrinho gordo a ponta de lança, o treinador não vai fazer isso. Mas se o presidente de uma empresa monopolista que vive de rendas e às conta do Estado quiser pôr os seu sobrinho burro na administração da empresa consegue sem sofrer consequências”, conta ex-presidente liberal.

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O socialista quis manter-se no futebol para provar o ponto que trouxe para o debate: “Cristiano Ronaldo é um grande exemplo, mas não se safou aqui, foi para o estrangeiro e vingou”, começou por dizer, realçando que é um “reflexo do esforço, trabalho, empenhamento e de uma palavra muito pouco usada em Portugal: ambição”.

“Os portugueses não têm de ter medo de ter ambição”, reitera, notando que “Portugal pode ser muito melhor do que é”. “Temos obrigação de que o país seja muito melhor do que é.” Álvaro Beleza acredita que para atingir os objetivos, Portugal tem de resolver um “problema que não é de agora”: criar igualdade de oportunidades.

Para o socialista, a “chave” é que todos os portugueses tenham acesso, “desde pequeninos”, a “educação de qualidade em Bragança ou no Restelo, no Estoril ou no Algarve”. O intuito, nota, é que todos os jovens possam ter tudo o que necessitam (“têm de ter tablets”) “independentemente de os pais terem condições ou não”.

“Depois o país precisa de ter condições para crescer.” E Álvaro Beleza descreve o cenário idílico: “Temos de ser amigos das empresas, do investimento e acabar com o velho costume português da inveja. Temos de ter escalara, grandes empresas, tomara em Portugal termos grandes milionários.”

Da plateia vem uma pergunta sobre a riqueza — “Por que é que em Portugal ser rico ou bem-sucedido é quase mal-visto?”. Carlos Guimarães Pinto pega no exemplo dos impostos para explicar a visão liberal: “Quando dizemos que vamos reduzir as taxas de IRC, o que nos dizem é que isso só vai beneficiar empresas monopolistas e oligopolistas, mas o objetivo de reduzir não é apoiar as empresas que hoje já pagam IRC, é atrair as empresas que um dia poderão vir a pagar IRC, as principais empresas que defendemos são as que ainda não existem, os empregos que ainda não criaram, as possibilidades de mobilidade social que ainda não existem.”

Álvaro Beleza diz, perante os jovens liberais, aquilo que afirma já dizer “há dez anos no PS”. Para o socialista, “o Estado tem cada vez mais de ser regulador e menor prestador”, um “Estado forte, mas regulador e com independência”.

“O problema é que Portugal, desde D. Afonso Henriques, é gerido por uma corte. O país precisa também de uma reforma eleitoral, que é o combate da minha vida há mais de 30 anos. As pessoas têm de ter mais poder, têm de escolher mais os seus deputados, os seus deputados não podem ser escolhidos pelos chefes dos partidos, os deputados são vassalos de soberanos”, ataca o socialista.

E apresenta a “descentralização do poder” com a solução para este problema. Como exemplo, usa uma história pessoal com o amigo Mário Ferreira, dono da TVI: “Por que é que não mudas a sede da CNN para o Porto? A CNN não foi feita em Atlanta, nos EUA, foi em Washington ou Nova Iorque? Metes a CNN com a sede no Porto e os políticos vêm cá todos dar entrevistas. Isto é descentralização pura.”

Álvaro Beleza admite até “ser da corte”, mas nota que “é preciso mudar”. “Portugal está a ficar envelhecido, muitos dos melhores saem daqui e é a juventude que tem de fazer política e pegar no país e convencer os mais velhos que para vocês e os vossos filhos ficarem aqui tem de haver mudanças”, alerta o socialista. “Vocês não têm de ir voar para o estrangeiro, podem voar cá.”

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