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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Angolanos ou uma amante. As teses "mirabolantes" dos suspeitos do homicídio de Luís Grilo

Ajuste de contas ou vingança de um marido traído? Rosa Grilo tentou defender-se das suspeitas. Parte da cama que desapareceu, o edredão usado no transporte e outras provas recolhidas jogam contra ela.

E se foram “uns angolanos” a matar Luís Grilo? A questão foi levantada pela própria viúva do triatleta, como hipótese para explicar a morte do marido, numa das versões que apresentou desde que foi detida, na passada quarta-feira, por suspeitas de ser a coautora do crime. Contrariando ter qualquer envolvimento, Rosa Grilo contou uma história aos investigadores: antes de desaparecer, em julho, o triatleta, engenheiro informático e dono de uma empresa ligada à área, tinha feito um negócio com “uns angolanos” que tinha “corrido mal”. Esses homens estavam, por isso, muito insatisfeitos — ao ponto de ser possível que tenham sido eles a entrar na casa para matar Luís Grilo.

A tese não convenceu. Rosa Grilo, de 43 anos, e António Joaquim, de 42 — o homem com quem teria uma relação extraconjugal –, acabaram por ser levados ao Tribunal de Vila Franca de Xira, na sexta-feira, para o primeiro interrogatório judicial. Não escolheram ficar em silêncio, a que teriam direito, e responderam durante várias horas às perguntas da juíza de instrução Andreia Valadas. Não se sabe exatamente que respostas deram ou se mantiveram essa tese que antes tinha sido apresentada aos investigadores, mas o Observador apurou que os dois suspeitos, que se encontram agora em prisão preventiva, voltaram a negar o cenário traçado pela investigação, que fala num homicídio premeditado por razões sentimentais e financeiras. Terão, pelo contrário, apresentado uma versão “mirabolante” para o que aconteceu, diz fonte conhecedora do processo.

Rosa Grilo e António Joaquim foram interrogados no Tribunal Judicial de Vila Franca de Xira (FOTO: JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

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A estratégia, do ponto de vista dos investigadores, já não seria nova. Mesmo antes de ser detida e de saber até que era suspeita, Rosa Grilo, ouvida na qualidade de testemunha, foi dando supostas dicas sobre uma eventual vida dupla do marido, numa alegada tentativa de conduzir a investigação para um quadro de crime passional não relacionado com ela. A viúva terá falado, por exemplo, na hipótese de Luís Grilo ter um caso extraconjugal, falando até numa mulher de etnia cigana que viveria na mesma região. A ideia seria desviar as atenções e convencer os investigadores de que era possível que o homicídio tivesse sido cometido pelo marido dessa suposta amante que, ao descobrir a relação, decidiu matar o triatleta. Ainda que, em entrevista à SIC, tenha rido quando lhe perguntaram se achava que era possível que o marido tivesse um segredo do género.

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Entre os que conduzem o processo, admite-se, aliás, que essa seria a tese que Rosa Grilo e António Joaquim procuraram simular logo no momento de crime, sobretudo tendo em conta a forma — e o local — em que o corpo foi encontrado. O cadáver de Luís Grilo foi deixado na berma de uma estrada de terra batida, saída de um caminho municipal, em Alcórrego, concelho de Avis. Estava a apenas 17 quilómetros de Benavila, terra onde vivem familiares da suspeita e onde ela e o marido passavam fins de semana regulares, numa casa de família. Na convicção dos investigadores, o plano inicial dos dois suspeitos pode ter sido levar o corpo até essa casa, encenar depois o momento em que seria encontrado e apontar no sentido da suposta amante. Alguma coisa, porém, terá corrido mal no percurso e acabaram por decidir deixar o cadáver pelo caminho, de forma aparentemente atabalhoada: os pés chegavam, praticamente, ao limite da estrada e os arbustos que o rodeavam não eram suficientemente altos para o esconder. Bastou que um homem ali passasse, por acaso, no final de agosto, para o encontrar.

António Joaquim, um oficial de justiça de 42 anos, terá sido coautor do homicido de Luís Grilo (FOTO: JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

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Mas se tudo tivesse corrido como alegadamente planeado, a tese também não vingaria. A Polícia Judiciária acredita ter reunido provas muito claras que apontam apenas num sentido: Luís Grilo foi morto em casa, com um tiro na cabeça, disparado por uma arma registada em nome de António Joaquim, que foi encontrada nas buscas. Mais: foi morto antes das 7h da manhã de 15 de julho (um dia antes da mulher ter apresentado queixa do desaparecimento), quando ainda estava deitado na cama e, provavelmente, ainda a dormir.

Além dos vestígios biológicos (como sangue) encontrados no quarto pelos técnicos do Laboratório de Polícia Científica (apesar de os suspeitos terem, alegadamente, tentado eliminar todas as marcas do crime), o Observador apurou que um outro elemento foi fundamental para traçar este cenário: fonte conhecedora do processo diz que faltava “uma parte da cama” — um sommier simples com uma colchão em cima — não dando detalhes sobre que parte seria essa, mas explicando que pode ter sido retirada precisamente para esconder algum vestígio impossível de limpar.

O corpo terá sido, depois, transportado para Álcorrego enrolado num edredão, que viria a ser encontrado dentro de uma caixa abandonada, não muito longe do local onde foi deixado o corpo. A caixa foi descoberta por outra pessoa que não o homem que encontrou o cadáver. No transporte terá sido usado também um tapete que foi encontrado junto ao corpo, como avançou o Observador na altura.

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Ajuste de contas por negócios, vingança de um marido traído ou qualquer outra, certo é que a versão apresentada em tribunal não convenceu a juíza de instrução, que aplicou a ambos a medida de coação máxima. O tribunal considerou que há indícios muito fortes contra os dois detidos e que estão reunidos todos os pressupostos para a aplicação da prisão preventiva: o perigo de fuga, o risco de pertubação do inquérito e o alarme social. A própria advogada de defesa — que não quis revelar ao Observador o que aconteceu nos interrogatórios, mas deixou claro que acredita que a tese da PJ não faz sentido — admitiu que, perante a forma como os elementos foram apresentados e o mediatismo do caso, era expectável que os ambos ficassem detidos.

Homicídio qualificado, profanação de cadáver e posse ilegal de arma

Durante dois dias, sexta-feira e sábado, os suspeitos pela morte do triatleta foram identificados e interrogados sobre os indícios de homicídio qualificado, profanação de cadáver e detenção de arma proibida. A juíza acabou por deixar cair este último para António Joaquim que, por ser oficial de justiça, tem direito a estar na posse de uma arma. O crime manteve-se na indiciação de Rosa Grilo (apesar da pistola estar registada em nome do coarguido) por se considerar que os dois agiram juntos — o que significa que, em algum momento, ambos estiveram na posse da arma, independentemente de quem disparou a bala que atingiu a vítima.

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A viúva começou a ser ouvida por volta das 17h30 de sexta-feira, quase quatro horas depois de chegar ao tribunal — sem algemas e de cara destapada — seguida pelo alegado amante. António Joaquim, esse sim algemado, trazia uma maçã na mão e tentou tapar a cara com a t-shirt que trazia vestida.

Rosa Grilo começou a ser interrogada entre as 17h15 e as 17h30 de sexta-feira (FOTO: JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

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À hora a que chegaram, já o pai de Rosa Grilo se encontrava na Praceta da Justiça, em Vila Franca de Xira, na esperança de falar com a filha. Gritou-lhe mensagens de apoio. Rosa não podia responder, mas olhou para o pai, que acredita na sua inocência. “Filha, meu amor, o pai está aqui”, gritava. Os trabalhos acabaram por ser interrompidos depois de ser ouvida apenas a suspeita. Os dois detidos deixaram o tribunal já perto das 22h00 da noite.

No sábado, voltaram a tribunal, poucos minutos antes das 9h30 e António Joaquim começou a ser interrogado logo de seguida. A cena do dia anterior repetiu-se: o pai de Rosa Grilo chamou-a e gritou-lhe mensagens de apoio. Desta vez, a suspeita olhou e mandou-lhe um beijo, com a mão. Voltaram a ver-se no final dos interrogatórios, já a prisão preventiva tinha sido decretada. Quando a mulher saiu do Tribunal Judicial de Vila Franca de Xira, às 16h00 em ponto, escoltada por inspetores da Polícia Judiciária, já tinha algemas postas. Olhou várias vezes para o pai, que desabafou: “Nunca pensei ver uma filha minha algemada”.

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A espera em prisão preventiva — uma decisão “normal” face à “prova indiciária” e “todo este mediatismo”

Entre os que esperavam à porta do tribunal, a medida de coação máxima já era esperada. E até mesmo a advogada dos dois suspeitos não ficou surpreendida. Tânia Reis não concorda com a decisão. Diz, aliás, que poderia ter sido aplicada, pelo menos, a prisão domiciliária a Rosa Grilo. Vai mais longe no caso de António Joaquim, entendo que poderia ter sido libertado. Ainda assim, já “estava à espera que, por ora, fosse esta a decisão tomada. É normal atendendo à prova indiciária e a todo este mediatismo”. “Há uma determinada pressão perante o tribunal, uma vez que está a ser um caso bastante mediático, bastante falado, e atendendo ao lapso de tempo que decorreu entre o desaparecimento do senhor Luís Grilo e até se encontrar o seu corpo”, esclareceu, à saída do tribunal, e em declarações aos jornalistas.

"Estava à espera que, por ora, fosse esta a decisão tomada. É normal atendendo à prova indiciária e a todo este mediatismo. Há uma determinada pressão perante o tribunal uma vez que está a ser um caso bastante mediático"
Tânia Reis, advogada de Rosa Grilo e António Joaquim

A decisão, por isso, já está tomada: vai recorrer da decisão, na expectativa de que os juízes desembargadores optem por medidas mais leves. O recurso há-de dar entrada no Tribunal da Relação nas próximas semanas.

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